Abin paralela: Bolsonaro e Carlos Bolsonaro aparelharam Abin, aponta Polícia Federal
Ex-presidente e vereador, de acordo com relatório final da PF, lideraram o esquema de espionagem política ilegal contra dezenas de pessoas

A Polícia Federal (PF) concluiu sua investigação sobre a chamada "Abin paralela", atribuindo ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, o comando de uma organização criminosa.
Segundo o relatório final entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), a corporação aponta que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi instrumentalizada para espionagem política e para orquestrar ataques às urnas eletrônicas.
Os investigadores afirmam que pai e filho definiram as "diretrizes estratégicas" e os alvos das ações clandestinas.
Estratégia e beneficiários da organização criminosa
Para a PF, o principal objetivo dessa estrutura clandestina de inteligência era resguardar interesses políticos e familiares do clã Bolsonaro, além de descreditar adversários e instituições democráticas. O ex-presidente, conforme o relatório, era "o centro decisório e o principal destinatário das 'vantagens' ilícitas".
Embora não tenha sido formalmente indiciado neste caso, por já responder por organização criminosa em outro processo, ele é explicitamente apontado como o líder das ações de arapongagem.
Já o vereador Carlos Bolsonaro é descrito como o "idealizador da inteligência paralela", figurando "no cerne das ações delituosas" e atuando como um "direcionador das informações produzidas".
Os núcleos da operação clandestina e suas ações
A investigação resultou no indiciamento de 36 pessoas, organizadas em seis núcleos distintos pela Polícia Federal:
- Núcleo Político: Integrado por Jair Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, considerados os principais responsáveis e beneficiários diretos das ilicitudes. Suas ações clandestinas eram voltadas à "proteção ao núcleo familiar" e "obtenção de vantagens de ordem política", com ataques direcionados a adversários e ao sistema eleitoral.
- Comando e Alta Gestão
- Assessoria e Execução de Ações Clandestinas
- Estrutura Operacional de Inteligência
- Produção e Propagação de Fake News
- Embaraçamento da Investigação
O relatório, com 1.125 páginas, foi assinado pelo delegado Daniel Carvalho Brasil Nascimento, da Divisão de Operações de Inteligência Cibernética da Polícia Federal, e teve seu sigilo levantado por ordem do ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no STF.
Espionagem ilegal e alvos estratégicos
A Polícia Federal estabelece uma conexão entre uma série de monitoramentos ilegais e os interesses do ex-presidente e sua família.
O relatório menciona a suposta produção de dossiês pela Abin com o objetivo de interferir em inquéritos contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), investigado por suspeita de rachadinha, e o vereador Jair Renan (PL), por indícios de tráfico de influência.
A PF também destaca que a Abin foi utilizada para revisar a investigação sobre o atentado a faca sofrido pelo ex-presidente em 2018, buscando explorar politicamente o evento nas eleições de 2022.
O esquema de espionagem ilegal monitorou cerca de 1,8 mil telefones entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. De acordo com o relatório final, 34 credenciais do programa israelense First Mile foram empregadas para espionar 1.796 terminais telefônicos, gerando 60.734 consultas irregulares.
Este software é conhecido por sua capacidade de rastrear celulares explorando vulnerabilidades nas redes de telefonia 2G e 3G.
Diante do vasto número de alvos, a PF categorizou as vítimas da espionagem em oito grupos:
- Geral
- Servidores do TSE e Institutos de Pesquisa
- Poder Judiciário
- Poder Legislativo
- Ministério Público
- Servidores Públicos
- Proteção do Núcleo Político
- Contexto Não Identificado