APARELHAMENTO | Notícia

PF conclui inquérito da 'Abin Paralela' e indicia Carlos Bolsonaro e Ramagem

Investigação respingou na atual gestão federal. Consta na lista de enquadrados por indícios de crime Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin

Por Estadão Conteúdo Publicado em 18/06/2025 às 0:00

A Polícia Federal concluiu o inquérito sobre o aparelhamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a espionagem de opositores e disseminação de informações falsas sobre o sistema eleitoral. Foram indiciados no inquérito sobre a chamada "Abin paralela" o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao todo, mais de 30 pessoas foram indiciadas.

A investigação também respingou na atual gestão federal. Constam na lista de enquadrados por indícios de crime o delegado federal Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin - nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, e o ex-número dois da agência, Alessandro Moretti.

Nome de confiança do PT, Corrêa já havia chefiado a PF no segundo mandato de Lula, entre 2007 e 2011. A investigação aponta que houve "conluio" entre a atual gestão da Abin e a direção anterior para evitar que monitoramentos ilegais viessem a público.

Segundo o inquérito, a Abin foi aparelhada por um esquema de espionagem ilegal para atender a interesses políticos e pessoais de Jair Bolsonaro e integrantes de sua família. Inicialmente, autoridades da PF informaram que o ex-presidente estava no rol de indiciados.

Na noite desta terça-feira, 17, porém, o site UOL noticiou que Bolsonaro não constava como indiciado. De acordo com o jornal O Globo, no relatório final da investigação, a PF apontou indícios da participação do ex-presidente no esquema de espionagem ilegal, mas caberá à Procuradoria-Geral da República decidir se ele pode responder pelo crime de organização criminosa em dois inquéritos diferentes - Bolsonaro foi denunciado e já é réu por esse crime na ação penal do golpe

Após a conclusão da investigação, a PGR vai decidir se apresenta ou não denúncia (acusação formal) contra os implicados.

Desde o início da apuração, o caso é conhecido como "Abin paralela". A Abin é um órgão destinado à produção de informações estratégicas ao Palácio do Planalto. O inquérito da PF apurou a existência de um núcleo "paralelo", com a estrutura do órgão, para a produção de diligências que atendessem a interesses políticos e pessoais de Jair Bolsonaro e seus familiares. Entre as atividades ilícitas da "Abin paralela", estão espionagens ilegais contra opositores do ex-presidente.

'Gabinete do ódio'

A PF também identificou o uso do aparato paralelo para atividades do "gabinete do ódio", revelado pelo Estadão em 2019. O grupo, coordenado por Carlos Bolsonaro, especializou-se em difamar reputações de inimigos políticos de Jair Bolsonaro e disseminar informações falsas nas redes sociais

Segundo a PF, entre os monitorados de forma ilegal, estão os ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-governador de São Paulo João Doria, e os deputados federais Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Maia (União Brasil-RJ), ex-presidentes da Câmara.

Software

Em outubro de 2023, foi deflagrada a Operação Última Milha. O nome da operação faz referência ao software "espião" FirstMile. Segundo a investigação, o programa foi utilizado 60 mil vezes pela Abin entre 2019 e 2023, com um pico de acessos em 2020, ano de eleições municipais. Em janeiro de 2024, os endereços de Ramagem foram alvos de busca e apreensão.

Bolsonaro e Ramagem são réus no Supremo pela tentativa de um golpe de Estado depois das eleições de 2022 (mais informações na página A8).

Após a notícia do indiciamento, Carlos Bolsonaro usou as redes sociais para ironizar a conclusão da PF (mais informações nesta página). O irmão de Carlos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também reagiu ao inquérito, afirmando se tratar de uma "perseguição" contra a sua família. "Mais uma acusação mentirosa", disse em seu perfil no X. "Bastou ontem Carlos Bolsonaro ter se manifestado em suas redes sociais sobre a intenção de concorrer ao Senado e, hoje, a Polícia Federal vaza a notícia de seu indiciamento", escreveu Flávio.

'Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo?'

O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) se manifestou nas redes sociais na manhã de ontem após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) no caso da "Abin paralela", por espionagem de opositores durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

"Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo?", ironizou o filho "02"? do ex-presidente. "Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!", escreveu vereador no X (antigo Twitter).

Bolsonaro pretende lançar Carlos ao Senado por Santa Catarina, onde venceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.

 



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