Mauro Cid: Bolsonaro pediu mudança na minuta do golpe que mantinha prisão de Alexandre de Moraes
Ex-ajudante de ordens do Jair Bolsonaro, Mauro Cid foi o primeiro depoimento da fase do julgamento que tem o ex-presidente como um dos réus

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, reafirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu, leu e solicitou alterações em uma minuta golpista que visava anular o resultado das eleições.
Cid, o primeiro réu a ser interrogado no processo sobre a tentativa de golpe, prestou o depoimento diante de Bolsonaro e de outros aliados implicados no caso. Segundo o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro "enxugou" o documento, que inicialmente previa a prisão de diversas autoridades do Judiciário e do Congresso, incluindo ministros do STF e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
"Ele de certa forma enxugou o documento. Basicamente retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Moraes) ficaria como preso. O resto...", declarou Mauro Cid. Em tom de ironia, o ministro Alexandre de Moraes comentou: "O resto foi conseguindo um habeas corpus."
Segundo o relato de Cid, a minuta com as propostas golpistas foi entregue a Bolsonaro pelo ex-assessor Filipe Martins, responsável por Assuntos Internacionais. O ex-ajudante de ordens relatou que não presenciou as alterações, mas as viu posteriormente no computador de Martins, já com as correções solicitadas pelo então presidente.
Bolsonaro buscava fraude nas urnas, diz Cid
Mauro Cid também afirmou que Bolsonaro "sempre buscou uma fraude nas urnas", embora nenhuma irregularidade tenha sido comprovada. "Não se conseguiu comprovar nada", disse o ex-ajudante de ordens.
Pressão para substituir comandante do Exército
Cid revelou que Bolsonaro sofreu pressão dos generais Walter Braga Netto e Mário Fernandes para substituir o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, por outro militar disposto a aderir ao plano golpista.
"Tinha uma pressão grande. Se os generais que estavam, o general Freire Gomes, não fossem fazer nada, que uma alternativa seria trocar os comandantes para que o próximo comandante do Exército assinasse e tomasse uma medida mais dura e radical", relatou Cid.
Bolsonaro ciente de cartas de coronéis
O ex-ajudante de ordens confirmou que Bolsonaro tinha conhecimento da "Carta ao comandante do Exército de oficiais superiores da ativa do Exército Brasileiro", documento que pedia medidas das Forças Armadas para "manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais". Segundo Cid, o ex-presidente apenas olhou para ele, sem fazer comentários.
Braga Netto envolvido no plano
Mauro Cid apontou o general Walte Braga Netto como o "elo" entre o governo e os manifestantes acampados próximos aos quartéis. O ex-ajudante de ordens também o implicou no plano "Punhal Verde e Amarelo", que previa a prisão e execução de autoridades, alegando ter recebido dinheiro do então ministro no Palácio da Alvorada para repassar ao major Rafael Martins de Oliveira, acusado de tentar viabilizar o plano.
Cid ressalvou, no entanto, que não poderia afirmar que Braga Netto "tomou conhecimento de todo planejamento que pudesse ter sido feito". Questionado sobre a origem do dinheiro, Cid disse que "provavelmente" foi repassado pelo "pessoal do agronegócio que estava ajudando a manter as manifestações na frente dos quartéis".
Cid Nega pressão em delação
No início do depoimento, Cid negou ter sido pressionado ou coagido pelas autoridades durante seu acordo de colaboração premiada. Ele também explicou os áudios vazados, nos quais criticava os procedimentos da Polícia Federal (PF) e do ministro Alexandre de Moraes, afirmando que se tratava de "um desabafo de um momento difícil" e que "em nenhum momento houve pressão" da PF.
A reafirmação da voluntariedade da delação de Cid enfraquece os argumentos dos aliados de Bolsonaro que buscavam anular o acordo.