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João Campos na presidência do PSB projeta liderança nacional e afeta o jogo político em Pernambuco, dizem especialistas

Analistas apontam que chegada de João à presidência nacional do PSB é etapa crucial para alavancar o seu nome na política, começando por 2026

Por Pedro Beija Publicado em 30/05/2025 às 19:35

O prefeito do Recife, João Campos, será oficializado neste domingo (1), como o novo presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), durante o XVI Congresso Nacional do Partido, em Brasília. A chegada de João ao cargo pode representar um movimento com impacto direto na cena política de Pernambuco e na sua projeção a nível nacional, apontam especialistas ouvidos pelo JC

A leitura dos analistas é que a chegada de João ao comando da legenda não é apenas um movimento interno de fortalecimento partidário, mas uma etapa crucial para alavancar seu nome rumo a voos maiores, a começar pela disputa ao Governo de Pernambuco em 2026.

Para o cientista político Antônio Henrique Lucena, o cargo de presidente nacional do PSB funciona como uma plataforma que permite a João expandir sua atuação política além dos limites da capital pernambucana.

"Ele, como apenas prefeito do Recife, viajar para o interior seria algo meio que inexplicável. Mas, como presidente nacional do PSB, ele ganha o argumento político para percorrer o estado, costurar alianças e já pensar na candidatura ao governo", avalia.

Já para a também cientista política Priscila Lapa, o movimento de João no PSB é uma "consequência natural" da sua trajetória na política até o momento. 

“Ele já havia conquistado um espaço de liderança que não cabia mais apenas no seu mandato municipal. Essa presidência nacional é o alargamento desse espaço, uma ampliação de protagonismo que chega muito mais como oportunidade do que como barreira”, pontua.

Priscila aponta que o PSB vive um momento de fortalecimento e com uma oportunidade de reagir ao avanço do PSD da governadora Raquel Lyra em Pernambuco.

“O partido já teve o comando do governo de Pernambuco por muitos anos e não quer perder esse protagonismo. João chega à presidência nacional como um elemento de renovação e de reorganização do PSB, mirando esse fortalecimento tanto para a eleição estadual quanto para o fortalecimento da sigla em nível nacional”, aponta.

Com olhos em 2026, disputa com Raquel Lyra se intensifica

A chegada de João ao comando do PSB acontece num momento de ofensiva política da governadora Raquel Lyra, que se filiou ao PSD em março e se tornou presidente estadual do partido. Raquel tem conseguido ampliar a base com a filiação de prefeitos, chegando ao total de 65, nesta sexta-feira (30).

“Raquel ganha muito cacife político com esse movimento. A máquina é outra, com mais prefeitos e articulação robusta a partir de Gilberto Kassab (presidente nacional do PSD)”, observa Lucena.

O cientista aponta que a movimentação de João, incluindo agendas recentes fora da capital — como sua presença em Salgueiro ao lado do presidente Lula — já evidencia o traçado de sua pré-campanha.

“Ele se consolida como o principal antagonista de Raquel Lyra para o governo do Estado. Ela, por sua vez, já começa a antecipar entregas de obras e programas sociais para tentar melhorar sua imagem, depois de dois primeiros anos muito difíceis, de muitos ajustes”, avalia.

Priscila Lapa acrescenta que a atuação de João nas agendas federais e estaduais é uma construção de narrativa, onde ele "ultrapassa os limites do município" e que uma eventual candidatura em 2026 se torna "quase inevitável".

“Ele já se posiciona como um gestor que ultrapassa os limites do município. Isso vai alimentando a percepção de que sua candidatura ao governo do estado em 2026 é um processo quase inevitável”, destaca.

Alianças, Senado e o peso do PSB em 2026

Os dois especialistas apontam que o movimento de João é peça fundamental no jogo das alianças em Pernambuco, em especial na disputa pelo Senado.

“Você tem Silvio Costa Filho querendo ser candidato pelo Republicanos, Humberto Costa pelo PT e Miguel Coelho articulando por fora. Tudo isso vai depender do cenário da eleição para o governo, que historicamente em Pernambuco puxa a de senador. Vai ser uma briga de gigantes”, projeta Antônio Henrique Lucena.

Antônio e Priscila apontam que a configuração para 2026 pode passar diretamente pela força que o PSB conseguirá reunir, além de uma eventual articulação com o PT. A nível nacional, os dois partidos compõem a chapa que venceu a eleição de 2022, com Lula e Geraldo Alckmin.

A nível estadual, o PSB vai ter condições de cobrar concessões do PT, visto que João deverá capitanear a articulação em Pernambuco para 2026, neste grupo político.

“O PT vai ter que fazer mais concessões ao PSB. A escolha do vice na chapa de João deve passar por essa negociação. Eles não podem repetir o desgaste que tiveram na eleição de 2020, quando a disputa com Marília Arraes gerou um conflito que foi danoso para os dois lados, apesar de João ter vencido”, analisa Lucena.

Projeção nacional

A movimentação de João Campos nas eleições municipais de 2024, quando esteve presente em campanhas tanto no interior de Pernambuco quanto em capitais pelo país, já é interpretada como parte de um plano de ampliação de sua presença nacional.

“Foi um teste. A atuação dele em 2024 foi uma preparação tanto para fortalecer o PSB nacionalmente quanto para construir sua própria imagem além de Pernambuco. Não é trivial, e ele conseguiu, porque hoje não se trata mais só de um líder municipal. Ele já se posiciona como uma liderança nacional”, analisa Priscila Lapa.

Antônio Henrique Lucena observa que, caso seja candidato e conquistar o governo de Pernambuco, João se posiciona de forma definitiva no cenário nacional.

“Se ele vence e mantém sua popularidade, se cacifa fortemente. É jovem, dinâmico, tem muitos seguidores nas redes sociais, é o presidente do PSB com o maior alcance digital hoje. Esse caminho, que era o plano do pai, Eduardo Campos, parece estar sendo retomado agora pelo filho”, afirma.

Passagem de bastão: Siqueira fala em sucessão geracional com João no comando do PSB

Em entrevista ao JC, o atual presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, falou sobre a chegada de João à presidência do partido, como seu sucessor. Siqueira destacou que a transição representa uma mudança geracional no comando do partido.

“Estou muito feliz por poder fazer essa sucessão, porque o país está carente de lideranças jovens. João tem juventude, inteligência e capacidade de compreender a política. O partido decidiu apostar nele, e faço isso com muita alegria”, declarou.

Siqueira, que esteve à frente do partido por 10 anos e 7 meses — desde a morte de Eduardo Campos em 2014 —, permanecerá na Comissão Executiva Nacional e assumirá novamente a presidência da Fundação João Mangabeira, responsável pela formação política dos quadros socialistas.

Ele também defendeu a manutenção da aliança nacional com Lula e Geraldo Alckmin para 2026 e apontou que o partido deverá seguir pelo mesmo caminho.

"Defendemos que a chapa se repita. O vice-presidente tem sido leal, eficiente e está fazendo um trabalho importante para a indústria nacional”, ressaltou.

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