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Dia dos finados: Cemitérios do Recife se preparam para receber cerca de 15 mil visitantes

Santo Amaro, o mais tradicional da cidade, deve concentrar a maior movimentação; Emlurb reforça equipes e estrutura especial para o feriado

Por Anaís Coelho, Ryann Albuquerque Publicado em 31/10/2025 às 12:49 | Atualizado em 31/10/2025 às 16:42

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Às vésperas do Dia de Finados, celebrado neste domingo (2), o Recife se prepara para receber milhares de visitantes em seus cemitérios públicos. De acordo com a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), a expectativa é de cerca de 15 mil pessoas circulando pelos cinco cemitérios municipais – Santo Amaro, Casa Amarela, Tejipió, Várzea e Parque das Flores.

O feriado contará com reforço de limpeza, sinalização e atendimento ao público, além de celebrações religiosas e movimentação intensa de vendedores e familiares.

Entre todos, o Cemitério de Santo Amaro, localizado na Rua Marquês do Pombal, no bairro central do Recife, deve concentrar o maior número de visitantes. Fundado em 1851, em meio à epidemia de febre amarela, o campo-santo é o mais antigo e simbólico da capital pernambucana, oficialmente denominado Cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção de Santo Amaro das Salinas.

Reconhecido por sua arquitetura tumular, personalidades sepultadas e manifestações da devoção popular, o espaço é um dos marcos históricos mais visitados da cidade.

Reforço nas equipes

Segundo o gerente geral de Necrópolis da Emlurb, Luciano Nascimento, os preparativos começaram semanas antes para garantir a melhor recepção ao público.

“Ao longo dos últimos dias, intensificamos serviços como limpeza das palmeiras, poda de árvores, pintura de meio-fio e manutenção dos ossuários. Foi uma série de ações para que possamos receber da melhor forma os familiares que vêm visitar seus entes queridos”, explicou.

Nascimento destaca que o fluxo de visitantes já começou a aumentar desde o fim de semana anterior ao feriado.

“A gente percebeu um aumento de pessoas visitando os cemitérios nos últimos dias. Tem quem prefira antecipar a visita, e acreditamos que também no sábado pela manhã haverá um público maior, porque muita gente evita vir no domingo, quando costuma estar mais cheio”, afirmou.

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Gerente geral de Necrópolis da Emlurb, Luciano Nascimento - Jc imagem

Para atender a demanda, a Emlurb ampliou o número de trabalhadores em campo.

“Teremos um efetivo de cerca de 230 pessoas atuando nos cinco cemitérios, com equipes de limpeza urbana da prefeitura trabalhando das 6h às 22h, tanto dentro quanto no entorno dos locais”, informou o gerente.

Santo Amaro: tradição, arte e memória

Com 145 mil metros quadrados de área, o Cemitério de Santo Amaro reúne 20.520 túmulos e 9.008 ossuários, segundo a Emlurb. A dimensão impressiona e justifica o reforço na estrutura de atendimento durante o feriado.

“Aqui em Santo Amaro montamos uma equipe de 40 pessoas que ficará logo na entrada para ajudar quem tiver dificuldade de localização. Temos atendentes, fiscais e sepultadores colaborando nesse trabalho”, explicou Luciano Nascimento.

Projetado pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira, o espaço foi o primeiro do Recife a marcar a transição dos sepultamentos em igrejas para cemitérios públicos extramuros, seguindo os ideais sanitaristas do século XIX.

As alamedas radiais convergem para a capela central, cercada por monumentos e mausoléus que revelam o poder econômico e as crenças da elite da época.
A arquitetura do local mescla estilos neogótico, neoclássico, art déco e modernista, refletindo diferentes fases da arte tumular pernambucana.

Cada detalhe, das esculturas em mármore aos vitrais coloridos, faz de Santo Amaro um verdadeiro museu a céu aberto, onde o luto e a beleza caminham lado a lado.

O gerente reforça que, embora a limpeza e conservação dos túmulos sejam responsabilidade dos concessionários, a Emlurb atua na manutenção das áreas comuns e dos principais monumentos históricos.

“A responsabilidade de cada concessionário é manter o seu túmulo organizado, mas nós mantemos limpos os principais túmulos e áreas de circulação, para preservar o patrimônio e oferecer um ambiente digno aos visitantes”, pontuou.

Patrimônio e devoção

Com mais de 170 anos de história, o Cemitério de Santo Amaro é um dos principais espaços de memória do Recife.

O local abriga os restos mortais de figuras marcantes da política, da cultura e da música pernambucana, como Joaquim Nabuco, Miguel Arraes, Agamenon Magalhães, Manoel Borba, Eduardo Campos, Chico Science, Capiba, Carlos Pena Filho e Naná Vasconcelos.

Suas sepulturas, muitas delas em estilo neoclássico, art déco e modernista, ajudam a contar parte da história social e artística do Estado.

Além das personalidades conhecidas, Santo Amaro é também um espaço de devoção popular. Entre os túmulos mais visitados está o da Menina Sem Nome e Menino Alfredinho, figuras envolta em mistério e fé.

Segundo a tradição oral, a Menina Sem Nome seria uma criança enterrada sem identificação no início do século XX, cuja história despertou comoção e passou a inspirar promessas e agradecimentos de fiéis que acreditam em sua intercessão. O local do sepultamento é constantemente adornado com flores, brinquedos e cartas deixadas pelos devotos.

Anaís Coelho e Ryan Albuquerque/JC
Flores vendidas em frente ao Cemitério - Anaís Coelho e Ryan Albuquerque/JC

Comércio de flores

A expectativa é alta para os comerciantes de flores que costumam investir em funcionários e dobram os materiais para atender os compradores, que geralmente aumenta nessa época do ano.

O comerciante Vitor Moura, atua no ramo de florista da sua família, que está no mercado há mais de 60 anos. Ele conta que os preços costumam subir nessa época do ano, já que a procura é maior.

“Em épocas comemorativas, dia dos namorados, dia das mães e finados são os dias que sobem mais o valor”, explica.

Segundo o comerciante, para o Dia de Finados algumas flores são “preferidas” pelo público, como rosas e girassóis, assim como os arranjos.

Momento de homenagens

Muitas pessoas vão até os cemitérios para visitar figuras históricas e culturais de Pernambuco, mas muitos também vão para reviver a lembrança dos seus entes queridos.

Lucila Araújo conta que vai ao cemitério homenagear seus familiares, ela destaca a importância de higienizar e manter o túmulo como uma tradição familiar e um ato de respeito e cuidado.

“Minha mãe sempre fez isso e, apesar de ter muitos irmãos, eu continuo com essa questão de respeito, de cuidar, do mesmo jeito que ela tinha. Então, eu acho que é a única forma que a gente tem de poder fazer mais uma homenagem, de fazer o que ela gostava.”

Dona Lucila perdeu uma prima que foi sepultada aos 6 anos de idade, vítima de um incêndio doméstico, ela diz que sempre que vai visitá-la tem a lembrança de como sua prima estaria. Lucila diz que apesar da saudade, fazer a visita lhe traz uma sensação de paz.

“Eu acho que é uma sensação de paz, interior e espiritual também, né? Então, é como uma questão de um dever cumprido, do que ela gostava de fazer.”

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