O que faz prédios-caixão desabarem? Entenda as causas e principais sinais de alerta
Neste tipo de edificação, a alvenaria exerce papel estrutural; confira os sinais de alerta e as medidas necessárias para garantir segurança

Na última terça-feira (6), parte do Edifício Kátia Melo, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, veio abaixo pouco depois de ser interditado pela Defesa Civil por “risco muito alto” de colapso estrutural.
Os moradores já haviam percebido fissuras e estalos nas paredes no sábado e deixado voluntariamente 12 das 16 unidades antes da interdição que precedeu o desabamento, sem vítimas.
Alvenaria estrutural x alvenaria de vedação
Prédios-caixão são aqueles em que as próprias paredes de tijolo suportam o peso dos pavimentos, substituindo vigas e pilares de concreto armado.
Essa técnica — chamada alvenaria estrutural — esteve em uso no Grande Recife até 2005, quando passou a ser proibida pelas normas da ABNT (NBR 15812) por apresentar vulnerabilidades que elevam o risco de desmoronamento.
“O que está proibido é a utilização de alvenaria de separação de ambientes. Essas paredes não podem transferir carga”, explica o engenheiro civil Carlos Calado, integrante do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE.
“Retirar uma parede de alvenaria estrutural é o mesmo que tirar um pilar de um prédio de concreto armado”.
Patologias e sinais de alerta
Segundo Calado, as principais falhas observadas nesses prédios são:
- Sobrecarga: paredes que suportam mais lajes do que a resistência do tijolo permite, agravada por uso de tijolos de baixa qualidade e ausência de cintamento (armadura interna);
- Fissuras e trincas: surgem de forma súbita, sem aviso prévio, pois o tijolo não tem elasticidade como o concreto, e podem causar ruptura brusca da estrutura;
- Problemas de fundação: recalques (afundamento) desiguais do solo geram trincas que se estendem pelas paredes, levando ao esfarelamento do tijolo aparente.
Escala de risco e números recentes
O Itep vistoriou 5,3 mil prédios-caixão no Grande Recife, e identificou 339 imóveis em risco muito alto de desabamento.
Em levantamento de 2023, mais de 3 mil dessas edificações apresentavam algum grau de risco, com 133 classificadas no grau 4 (o mais grave) pela Defesa Civil.
Inspeção, reforço e demolição
Para Calado, há três caminhos após a vistoria técnica:
- Manutenção e pequenos reforços, quando o imóvel ainda reúne condições mínimas de segurança;
- Intervenções estruturais (encamisamento de alvenaria, cintamento de vergas e contravergas) para elevar a capacidade de carga;
- Demolição e reconstrução, nos casos em que o custo de recuperação supera o valor prático do edifício.
“É melhor derrubar e erguer outra edificação corretamente do que arriscar vidas por economia”, resume o engenheiro. “As pessoas dentro da sua casa não podem estar em perigo”.