Homicídio no entorno do Casarão da Várzea evidencia descaso e necessidade de revitalização do espaço
Imóvel não pode ser demolido ou ter suas características originais alteradas e deve ser conservado pelo proprietário - a Prefeitura do Recife

Há dez anos, o Casarão da Várzea, na Zona Oeste do Recife, se tornou um Imóvel Especial de Preservação (IEP). Apesar disso, o equipamento segue sem atenção do poder público e o abandono também esbarra na falta de segurança.
O imóvel de número 130 da Rua Azeredo Coutinho, considerado o único exemplar de chalé romântico de influência inglesa com dois pavimentos na cidade, foi cenário de violência recentemente - o que, de acordo com moradores, não é incomum.
Na última quarta-feira (9), uma jovem foi assassinada com arma de fogo nas proximidades do que deveria ser um espaço para cultura, arte, educação e capacitação. A Polícia Civil de Pernambuco informou que registrou, por meio da Equipe de Força Tarefa de Homicídios na Capital, um homicídio no último dia 10.
“A vítima, uma mulher de 20 anos, deu entrada em uma unidade de pronto atendimento local, após ser encontrada com perfurações de arma de fogo, em via pública, no bairro da Várzea. Ela não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital. As investigações seguem até o esclarecimento do fato”, diz, em nota.
A tragédia reacendeu o debate sobre a necessidade de revitalização de espaços públicos e intervenções no entorno.
“O que a comunidade quer é que a Prefeitura tenha celeridade no projeto construído no ano passado. É um abandono público do patrimônio e nosso movimento é para que isso acabe com o restauro do prédio”, reforçou o produtor multimídia Well Carlos, um dos organizadores do movimento Salve o Casarão da Várzea, que desde 2016 luta pela preservação e revitalização do espaço.
Classificado como IEP, o equipamento não pode ser demolido ou ter suas características originais alteradas. Além disso, é obrigação do proprietário - neste caso, a Prefeitura do Recife - conservá-lo.
Desde 2023, o processo de requalificação se arrasta. Em outubro daquele ano, após ordem judicial, a gestão municipal anunciou licitação para transformar o Casarão da Várzea em um mercado público.
Em julho de 2024, a CONVIVA Mercados e Feiras Autarquia Municipal se reuniu com o Movimento Salve o Casarão da Várzea para conhecer a proposta comunitária de intervenção para o equipamento histórico.
O projeto de revitalização inclui boxes de comércio e serviços, salas para exposições e cursos, palco e espaço agro-pedagógico. O objetivo é transformar o espaço em um mercado público, com centro comunitário e quintal artístico.
De acordo com Well Carlos, após o diálogo "foi pactuado junto à CONVIVA que enquanto a obra não desse início, a Prefeitura iria direcionar para o local banheiros químicos para suprir a demanda da falta de banheiros públicos no bairro".
O produtor multimídia conta, ainda, que durante a reunião, foi acordado que a gestão iria "fixar uma vigília de guardas municipais no terreno, para amenizar a falta de segurança que se sente na localidade".
Nove meses se passaram e a gestão municipal esclareceu que está “finalizando um projeto para implantação de um equipamento público no terreno do Casarão Magitot”.
Confira a nota da Prefeitura do Recife:
“A Prefeitura do Recife esclarece que está finalizando um projeto para implantação de um equipamento público no terreno do Casarão Magitot, na Várzea. Denominado Novo Mercado da Várzea, o projeto contempla a restauração do imóvel histórico, com destinação para atividades culturais, além da construção de um novo mercado público no entorno, que irá realocar os feirantes que atualmente atuam na área.”
A promessa, no entanto, não é novidade. Em 2016, o então prefeito Geraldo Julio (PSB) se comprometeu a transformar o Casarão da Várzea em um mercado público. As obras começaram com a destruição da caixa d’água que fica no quintal da casa, uma espécie de torre. A derrubada causou indignação da comunidade, que conseguiu suspender os serviços.
Em 2020, a Justiça determinou que a Prefeitura do Recife promovesse a restauração do edifício, que deveria ter suas obras finalizadas até dezembro de 2023. Até o momento, nenhuma intervenção foi realizada.
História do Casarão
Conhecido como Casarão da Várzea, o imóvel localizado na Rua Azeredo Coutinho foi inaugurado em maio de 1905 para fins residenciais com o nome de Villa Therezinha. Na década de 1950, o casarão de dois pavimentos foi ocupado pelo Hospital Magitot, o primeiro hospital odontológico da América Latina, que funcionou até a década de 1960.
Lá também abrigou o comitê de campanha do então candidato a governador de Pernambuco Miguel Arraes, em 1986.
Em 1992, um incêndio atingiu a propriedade e comprometeu suas estruturas, que teve boa parte das vigas de madeira queimadas, assim como a cobertura, as esquadrias e o piso de madeira. Depois disso, passou a ser ocupado por uma família em vulnerabilidade, que lá viveu até 2013, quando a Prefeitura do Recife os retirou do imóvel, após tê-lo desapropriado.
Tornou-se um IEP em 2015. No ano seguinte, o Movimento Salve o Casarão da Várzea iniciou suas mobilizações pelo espaço e segue atuando até o momento, abril de 2025.