Editorial | Notícia

Metanol: veneno na bebida

Para que os efeitos na saúde pública e na economia não sejam maiores, governos, comércio e indústria precisam garantir a segurança no consumo

Por JC Publicado em 02/10/2025 às 0:00

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Depois de casos constatados e mortes em São Paulo, as suspeitas de contaminação de bebida alcóolica chegaram a Pernambuco e podem se espalhar por outros estados. A primeira hipótese levantada para essa modalidade de terrorismo que pode matar e cegar consumidores de bebidas destiladas – por enquanto, o tipo de bebida envenenada – é a de envolvimento do PCC, a facção criminosa que estaria por trás do uso de metanol como veneno misturado em garrafas de uísque, vodca ou gim. No estado de São Paulo, já são seis mortes confirmadas e quase 40 casos em investigação. Em Pernambuco, um caminhão vindo de São Paulo pode ter comercializado uísque com metanol em um festival de música em Lajedo, no Agreste. Dois amigos morreram, e outro perdeu parte da visão, possivelmente intoxicados pelo uísque envenenado.
Quando pessoas ficam cegas e vão a óbito pela ingestão de algo, não se trata apenas de adulteração ou contaminação da bebida, nem intoxicação das pessoas. O que está acontecendo no Brasil é um envenenamento criminoso. Os responsáveis, do PCC aos atravessadores, inclusive os comerciantes dos produtos falsificados, mais baratos e mortais, precisam ser investigados, processados e penalizados, quando as responsabilidades forem detectadas. Se um estabelecimento vende bebida com metanol, a origem do produto precisa ser esclarecida. O prejuízo vai muito além do código do consumidor, no momento que a vida das pessoas está em risco. Até agora, em São Paulo, três estabelecimentos foram interditados, e uma fábrica clandestina foi fechada.
Não dá para fechar os olhos. O governo federal já declarou que o país inteiro está em alerta. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou que os cidadãos devem tomar cuidado, porque a situação é anormal. A afirmação pode parecer óbvia, mas segue a direção da precaução que a população deve adotar, enquanto governos e a indústria de bebidas não fazem a sua parte. A Polícia Federal começou a investigar em todo o Brasil, até porque o medo já vira pânico, e até alguns donos de bares na capital paulista suspenderam por sua conta a venda de destilados, até que o consumo retorne ao patamar de segurança. Quanto à indústria de bebidas alcóolicas, provavelmente alguma campanha de comunicação vem por aí, a fim de mostrar ao consumidor o nível de segurança dos produtos genuínos – sem adição de veneno.
A expansão do pânico assusta o setor gastronômico, com diversos restaurantes e bares divulgando notas para assegurar a origem de seus produtos. No âmbito da saúde, a preocupação é enorme. Os hospitais não estão preparados para lidar com esse tipo de envenenamento, conforme já registrou o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) ligado à Universidade de Campinas (Unicamp), uma referência na área. Daí a sugestão do ministro Padilha. Mas lançar o alerta aos consumidores não é suficiente. Governos de todos os níveis precisam se aliar à indústria e aos comerciantes, para propor medidas urgentes de combate ao envenenamento das bebidas por metanol. A saúde e a vida dos brasileiros, bem como parte relevante da economia nacional, encontram-se sob inimaginável ameaça.

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