Indispensável, com problemas
Sistema Único de Saúde se mostrou decisivo durante a pandemia, tem o reconhecimento dos brasileiros – mas precisa melhorar para atender à demanda

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Uma multidão de profissionais que trabalha diariamente com afinco e dignidade – eis o melhor retrato do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, previsto na Constituição de 1988, que completou 35 anos de funcionamento na última sexta. A abnegação dos que fazem parte do SUS configura seu maior patrimônio – uma conquista coletiva que foi crucial para a difícil período da pandemia de Covid. E se mostra indispensável para os cidadãos, mesmo aqueles com plano privado, ou com acesso a especialistas e laboratórios particulares. O SUS é uma segurança para toda a população, mas especialmente para as famílias de baixa renda, desprovidas de assistência de outra forma.
O maior realizador de transplantes de órgãos do mundo, a maior estrutura de vacinação – que fez diferença, entre outros momentos, para a erradicação da poliomielite e o combate ao coronavírus – precisa, no entanto, de grandes e profundas melhorias para atender a mais de 200 milhões de pessoas, que dependem do SUS no cotidiano. Como destacou a colunista do JC-PE, Cinthya Leite, há problemas persistentes de gestão, incluindo a desvalorização dos profissionais responsáveis pela trajetória de êxito do sistema, por mais de três décadas.
A desarticulação da rede é uma das questões apontadas como obstáculos para a qualificação dos serviços prestados. O que se vê em alguns serviços de excelência, como a vacinação e os transplantes, falta na maior parte dos demais, dificultando a vida dos pacientes, médicos e demais profissionais. Como sintetiza Cinthya Leite: “o excesso de unidades de urgência e a falta de integração com a atenção básica criam um círculo vicioso de superlotação e ineficiência”, escreve, a partir do diagnóstico indicado por Tiago Feitosa, que chama atenção para a necessidade de coordenação para integração dos municípios com as unidades estaduais.
Em outro ponto para melhoria, a ausência de médicos substitutos pode afetar comunidades inteiras, em casos de férias ou impedimento do profissional que atende regularmente aquele grupo. Para Marcus Villander, as condições para o exercício da medicina também têm que avançar. “É preciso garantir condições mínimas para prestar um atendimento digno, seja preventivo ou curativo. Precisamos parar com políticas de curto prazo e organizar o sistema com base em experiências que funcionam, aqui e lá fora”, sugere o diretor científico da Sociedade Pernambucana de Clínica Médica (SPCM).
O agendamento digital de consultas no aplicativo Conecta Recife é um exemplo de uso da tecnologia para o bem comum, sinal de um futuro que pode ser sentido no presente. A universalização preconizada pelo SUS não pode ser feita de qualquer jeito. Cada vez mais indispensável, reconhecido como um sistema merecedor de valorização, o SUS celebra 35 anos de conquistas com uma série de problemas históricos ainda pela frente.