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Editorial JC: Congresso de volta

Prisão domiciliar de Bolsonaro e tarifaço dos EUA contra o Brasil devem ser os principais temas dos parlamentares no retorno ao trabalho

Por JC Publicado em 05/08/2025 às 0:00 | Atualizado em 05/08/2025 às 6:51

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Em um semestre que normalmente já seria recheado de expectativas, pela virada da esquina de um ano para as eleições presidenciais, dos governos estaduais, e para o Congresso, além das assembleias dos estados, senadores e deputados federais estão de volta ao batente para meses que podem ser bastante movimentados – na política e na economia.

Se a decretação da prisão provisória de Jair Bolsonaro, um dia após manifestações por todo o país em sua defesa e em protesto ao Supremo Tribunal Federal (STF), tem tudo para concentrar os discursos nesta semana, as repercussões e reações ao tarifaço de Donald Trump às importações de produtos brasileiros pelos Estados Unidos também prometem se estender, demandando o posicionamento e o debate dos congressistas.

No topo da agenda do Senado e da Câmara, espera-se mais do que a disputa retórica entre o golpismo e a defesa da democracia. Cada senadora e senador, cada deputada e deputado carregam, junto com o mandato, a responsabilidade para cuidarem diariamente dos interesses coletivos, muito além de seus umbigos e do horizonte das próximas eleições.

A polemização repetitiva e paralisante das demais pautas não pode prevalecer, nem em relação ao processo de Bolsonaro em curso no STF, nem no vexatório alinhamento de alguns integrantes do Congresso à chantagem do tipo “se colar, colou” da Casa Branca contra o Judiciário brasileiro – que, apesar de desidratada, segue fazendo consequências e possíveis grandes prejuízos a vários setores econômicos importantes, inclusive em Pernambuco, a exemplo da fruticultura do Vale do São Francisco.

E não faltam assuntos relevantes para a reflexão e a decisão dos congressistas neste retorno do recesso parlamentar. Há cassações de mandatos em pauta, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o aumento da taxação das empresas de apostas, dos bilionários e de títulos de investimentos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2026, que está atrasada, a mineração em terras indígenas, entre outras matérias.

Até o cabimento da anistia contra os acusados de golpe em 8 de janeiro de 2023 está na lista dos trabalhos, configurando prioridade para o Partido Liberal de Bolsonaro – vendo ali uma brecha para qualquer condenação do ex-presidente.

O risco é tal miragem contaminar a maioria, e suspender a realidade enquanto o embate com o Judiciário ganha motivação, abalando mais uma vez o equilíbrio entre os poderes da República.

Num semestre como o que se anuncia, a população lança os olhos e os ouvidos ao Congresso, na esperança de encontrar vozes sensatas e demonstrações de sensibilidade ao cotidiano fora do Plano Piloto de Brasília. A inflamação do radicalismo, o duelo por holofotes e o travamento de pautas que trava, na verdade, o país, podem, no entanto, infelizmente, se repetir.

Mas a expectativa é sempre positiva, mesmo em tempos de poucas razões para acreditar, em um cenário político onde parece difícil o Congresso escapar à tendência de conturbar.

Confira a charge do JC desta terça-feira (5)

Thiago Lucas
Bolsonaro tem prisão domiciliar decretada por Moraes - Thiago Lucas

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