Editorial | Notícia

Passando dos limites

Invasão do treino da equipe do Sport e ameaças aos jogadores rompem, uma vez mais, as raias do bom senso em demonstração de violência

Por JC Publicado em 18/07/2025 às 0:00

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A paixão pelo esporte é benévola, saudável, socializadora. O verdadeiro torcedor se entusiasma com o bom desempenho, mas não transforma adversários em inimigos, nem demoniza atletas que vivem da atividade esportiva, por derrotas que fazem parte de qualquer trajetória e qualquer competição. O torcedor que preza a representação da bandeira, do clube ou da nação em dada modalidade, transforma a torcida em rotina de saúde, assim como o esportista que desenvolve a virtude do corpo. E sabe, esse torcedor ou torcedora, que a paixão esportiva agrega as pessoas, mesmo quem não torce pelo mesmo escudo: pois o esporte socializa, aproxima, gera empatia na vitória e quando se perde.
Na contramão da fruição da paixão, as gangues atuantes no futebol de Pernambuco continuam impunes. Tanto é assim que a violência que apregoam e praticam está passando de todos os limites, sem que as autoridades estabelecidas, os clubes e a Federação de Futebol sejam capazes de impedir seu avanço. Os integrantes das facções organizadas não são apaixonados pelo futebol – sua paixão é a violência. Não apenas transformam os adversários em inimigos, como a própria gestão dos clubes pelos quais torcem, e até os jogadores, podem ser alvos de ameaças e agressões. Na rotina dos agressores, a paixão não é algo saudável, mas doentio, que se traduz em gritos de guerra, arrastões pelas ruas e manifestações de ódio, individualmente ou em grupo, nas redes sociais ou no trajeto para os estádios. Como seria de se esperar, tal tipo de paixão só aproxima os criminosos, afastando os torcedores reais e criando obstáculos para a imensa torcida dos principais clubes pernambucanos.
“A gente vai atormentar a vida de vocês”, ameaçou um dos invasores do Centro de Treinamento do Sport, dias atrás, referindo-se aos jogadores. “Todo mundo aqui tem antecedente criminal”, confessou, elevando o tom das cobranças por vitórias de maneira inaceitável, em uma ameaça que não pode mais ser tolerada pelas instituições – da FPF e os clubes até o governo do Estado, a Justiça e as polícias. Os antecedentes criminais, até agora, não parecem ter sido elementos suficientes para manter as gangues longe dos estádios, ou mesmo presas, já que muitos de seus integrantes repetem ações de vandalismo usando o futebol como motivação, sem serem repreendidos.
Em nota oficial, o Sport repudiou a invasão. Mas como ficam os jogadores, profissionais em risco a partir do momento da invasão? E a torcida saudável, diante da gravidade do ataque de torcedores doentes de paixão pela violência? Já passou da hora de se dar um basta à desenvoltura com que as organizadas desfilam, esbravejam, vandalizam e metem medo nos cidadãos. Cabe aos clubes deixarem de condescendência. Cabe à Justiça não abrir mão de penalizar, quando a polícia faz sua parte e consegue prender os envolvidos em crimes repletos de antecedentes. Que a invasão ao CT do Sport seja um ponto de virada para o fim da violência no futebol – é pelo que torcemos.

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