Editorial JC: Febre alta continua
Novas estimativas para a temperatura global nos próximos anos não são boas – e os efeitos até 2030 podem ser mais severos do que se pensava

Mais de duas centenas de modelos de previsão a respeito do comportamento climático até 2029 estão no relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado na semana passada. Os cientistas já vêm alertando sobre a necessidade de reversão do aumento contínuo da temperatura média na superfície da Terra, há alguns anos.
Mas a cada ano que passa a esperança de que o problema se resolva vai diminuindo. O que era para ver visto como urgência foi tratado com desleixo pela maioria dos líderes mundiais, e a humanidade não conseguiu alterar a forma como se relaciona com o meio ambiente. Com o aumento da temperatura, além de ondas de calor e temporais mais frequentes, a biodiversidade corre sérios riscos, e com ela, o equilíbrio que mantém os ecossistemas ameaça ruir.
A perspectiva realista é a de minimizar danos num horizonte de incertezas acerca dos prazos e da dimensão dos efeitos sobre a vida em geral, e os animais humanos em particular. Nesse prisma, cresce a probabilidade, segundo os dados prospectivos, de que os efeitos cheguem mais rapidamente, e de maneira mais incisiva, do que se previa.
Como o derretimento das geleiras e o aumento do nível dos oceanos, por exemplo, cujas consequências podem significar o fim da habitabilidade em regiões costeiras, e até mesmo a reconfiguração do clima em largas proporções.
Segundo os dados da OMM, até 2029, a temperatura média planetária pode atingir quase 2 graus Celsius acima da referência da segunda metade do século XIX, tomada como parâmetro de antes da era de aquecimento global gerado pela ação humana.
Em 2024, o limite de 1,5º C foi ultrapassado, sem que mudanças de porte estejam em curso para frear o que está por vir. Para piorar, estima-se que o aquecimento no Ártico será mais que o triplo do aquecimento global, acelerando o derretimento do gelo marinho e afetando, assim, não apenas o volume oceânico, mas também as correntes de água que regulam o clima em escala global.
O novo relatório ganha em contundência e em desesperança. Ao invés de vislumbrarmos quaisquer resultados de esforços empreendidos no sentido de evitar a catástrofe ambiental, o que se percebe é uma estabilidade preocupante no descontrole que alia emissão de gases poluentes e alto consumo de energia e recursos naturais.
No rumo atual da civilização, o que se torna possível é o aumento em até 2,5º C da temperatura média global até 2050, e não sua redução, que poderia, em tese, impedir o efeito-dominó de mudanças climáticas irreversíveis, com repercussões dramáticas, ou trágicas, sobre a vida na Terra.
A relevância da COP30 no Brasil, em Belém, no final do ano, depende das escolhas que os países fizerem daqui até lá. No estágio de agora, contudo, é alta a chance de que venha a ser mais uma decepção para os ambientalistas, diplomatas e governantes que ainda sonham com posicionamentos coerentes com as demandas da urgência ambiental.
Confira a charge do JC desta quarta-feira (4)