Sem celular, melhora
Benefícios para os estudantes vão muito além do desempenho, depois que os aparelhos celulares tiveram o uso proibido nas escolas brasileiras
Poucos meses depois do banimento oficial – ou do aumento de restrições – da utilização dos celulares no ambiente escolar, os resultados preliminares tornam perceptível a diferença entre a falta de controle e a orientação para que o instrumento tecnológico não se transforme em problema para a educação. Com tantas atrações para o olhar, a audição e a mente, os “smart phones” estavam emburrecendo crianças e adolescentes no Brasil, como se viu em outras partes do mundo. Não por causa do avanço que aproxima a ciência da magia, como dizia o escritor Arthur C. Clark, autor de “2001: Uma Odisseia no Espaço”. Mas devido ao choque ético no despreparo que veio junto aos aplicativos e redes sociais, fazendo com que a liberdade para o acesso à informação se transformasse em aprisionamento, afastando os jovens do interesse pelo conhecimento.
Desde a sanção de uma lei específica pelo presidente Lula, em janeiro, as escolas não podem permitir o uso de celulares no seu ambiente. E professores e gestores escolares já notam a diferença – para melhor – no comportamento estudantil e no desempenho do aprendizado. Sem a tela para prender a atenção e proporcionar a fuga social, a interação aumentou e os conflitos diminuíram, em várias escolas. Não que a realidade antes do abuso dos celulares no horário escolar fosse dourada, e não é de volta ao passado que se trata. O que se resgata é a possibilidade de se investir na qualidade das relações humanas, bem como no aproveitamento dos potenciais do aprendizado – sem o componente tecnológico fazendo a alienação da vida real.
Em entrevista para a DW, publicada no portal UOL, um diretor de escola em São Paulo, Marcus Loures, sintetizou a necessidade da legislação para a adaptação – e, podemos complementar, para barrar os prejuízos que se acumulavam à altura da providência da lei. “Talvez um dia a gente não precise de uma lei para dizer que não pode usar o celular na escola, quando todo mundo estiver mais acostumado com a tecnologia e como lidar com ela, mas por enquanto precisamos dela”, reconhece. Como quase tudo em educação, é uma questão de limites e bom senso.
A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que adotou a proibição mais cedo que o resto do país, no ano passado, realizou pesquisa que mostra que os alunos do 8º e 9º anos tiveram um desempenho até 53% melhor em matemática, depois da medida restritiva aos celulares. Se todos nós podemos estar passando horas demais vidrados nas telas, o risco ao desenvolvimento das novas gerações deve se apresentar como óbvio. Ainda é cedo para afirmar o quanto a retirada influencia no desempenho, de maneira geral. Mas são claros os benefícios imediatos, para a educação coletiva e o amadurecimento individual, da desintoxicação virtual para meninas e meninos com longos caminhos de realidade pela frente.