Editorial JC: Na estação da concessão
Um dos sistemas metroviários mais sucateados do Brasil, ainda sob a gestão do governo federal, ganha perspectiva de investimentos nos próximos anos

Novela que se arrasta desde o governo estadual anterior, a concessão do sucateado Metrô do Recife deve atravessar a gestão de Raquel Lyra com poucas mudanças em relação ao início do mandato. Sob a administração federal da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o sistema metroviário da Região Metropolitana do Recife perdeu centenas de milhares de passageiros ao longo de décadas de desinteresse e desinvestimento.
Hoje o sistema é deficitário, não dispõe de recursos sequer para manter a operação em condições mínimas para os teimosos usuários que recorrem ao metrô mais por falta de opção do que por preferência. O quebra-quebra constante afasta os passageiros, que tiveram que se adaptar à insegurança e ao desconforto de viagens estressantes, diariamente.
A coluna Mobilidade do JC-PE teve acesso ao cronograma da esperança: de acordo com o programa de desestatização da CBTU, o leilão do Metrô do Recife para a concessão à iniciativa privada está previsto para o ano que vem, e a entrada em operação da nova fase, já privatizado, seria apenas em 2027.
Há um longo percurso a cumprir, pelo visto, nos trilhos da burocracia e da decisão política que adiam essa concessão pelo menos desde que o então governador Paulo Câmara cedeu a pressões corporativas e desistiu de tocar a concessão, deixando o problema para a atual governadora – que também não vai ver isso acontecer, ao menos não no presente mandato, de acordo com o cronograma revelado.
O projeto de concessão sob o encargo do BNDES estipula um período de estudos técnicos e consulta pública este ano, segundo apurou a colunista Roberta Soares. A proposta precisará de todo o primeiro semestre do ano que vem para ser aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e do Estado (TCE), em paralelo ao lançamento do edital da concessão.
Somente no primeiro trimestre de 2027 o novo contrato entraria em vigor, o que possivelmente fará com que os passageiros sintam diferenças relevantes alguns meses depois. O que se espera ansiosamente em Pernambuco, há vários anos, para que o sistema coletivo de transporte metroviário deixe de ser um eterno problema, e se apresente, como em tantos lugares no mundo, como atraente solução de mobilidade para as pessoas que se deslocam na metrópole.
Mas antes de ser entregue à gestão privada, serão necessários investimentos da ordem de R$ 4 bilhões. Mais outros R$ 2 bilhões deverão ser investidos pela concessionária. Como os estudos encontram-se em andamento, os valores envolvidos podem mudar. O que ainda deixa os pernambucanos em suspense é a origem da viabilização para a concessão, já que a conta é cara para tornar o negócio atrativo para qualquer investidor.
A autorização da concessão pelo governo federal, teoricamente, acelera o processo. No entanto, as articulações políticas e econômicas precisam ser intensificadas, para que o cronograma seja cumprido e o calvário dos cidadãos tenha fim – e se possa vislumbrar a expansão da mobilidade por trilhos na Região Metropolitana do Recife.
Confira a charge do JC desta quarta-feira (28)