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Corrida armamentista

Elevação de gastos com armas e tecnologia de guerra na Europa consolida tendência que alimenta a indústria da morte e as políticas totalitárias

Por JC Publicado em 26/05/2025 às 0:00

Os ataques maciços da Rússia sobre a Ucrânia, e de Israel sobre o que resta da Faixa de Gaza, nos últimos dias, fazem parte de um mundo cada vez mais focado na destruição do outro, visto como inimigo – e na autodestruição de todos, no horizonte da lógica belicista. No início de maio, os líderes da França e da Alemanha anunciaram que irão comprar mais armas, e investir na tecnologia capaz de “criar as inovações necessárias para os modos de guerra de amanhã”, na expressão grandiloquente, mas não menos sanguinária que outras exaltações, do presidente Emmanuel Macron.
A declaração entra em sintonia com a tendência já apontada por mais de uma organização internacional, a respeito do aumento dos orçamentos que turbinam as guerras em curso e as futuras. Trata-se de uma tendência preocupante que pode afetar a segurança global nos próximos anos, com possíveis repercussões humanitárias e econômicas, a depender da extensão e dos locais devastados pelas inovações balísticas e por tropas tradicionais, onde a crueldade continua sendo a principal arma.
Países do hemisfério norte vêm multiplicando seus investimentos militares diante de ameaças percebidas ou alegadas, gerando instabilidade geopolítica desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, há mais de três anos – numa curva ascendente que vem de antes disso, de pelo menos uma década. Os gastos rubricados como defesa da soberania nacional superam trilhões de dólares anuais no planeta – quase 1 trilhão, em 2024, somente pelos Estados Unidos – aprofundando as desigualdades e ampliando as tensões regionais, bem como dentro de nações divididas por conflitos. Os recursos que poderiam ser aplicados em programas sociais, e na prevenção das mudanças climáticas, são perdidos no sumidouro das guerras.
Sem o aparelhamento bélico proporcionado por Washington, por causa da política de afastamento implantada por Donald Trump, os europeus assumem o ônus de se protegerem por si mesmos – e mostram que devem seguir a cartilha norte-americana, investindo na segurança, e não na paz, contrariando os princípios da União Europeia. Pior para a civilização que dispõe na Europa de um exemplo de convivência entre os povos, com todas as ressalvas pela desconfiança persistente diante dos imigrantes.
Se governos moderados considerados de centro já abraçam a perspectiva de elevar os gastos com esse objetivo, imagine-se o cenário em que a extrema direita cresce e ganha espaços de poder na Europa. Com Trump apenas em início de mandato, e os focos de guerra quentes na Ucrânia e em Gaza, sob o entusiasmo mortífero de Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu, faltam no mundo líderes pacifistas que espalhem a aversão à violência armada.
E a corrida armamentista prossegue, com mais dinheiro e participantes.

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