Semana trepidante
Segundo a tese de Fux, somente haveria Golpe se o plano covarde de assassinar Lula tivesse acontecido com escritura pública e firmas reconhecidas.

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A semana que passou foi trepidante. O ministro Fux deu um show nunca visto no Supremo. Olha que sou advogado militante desde 1965, época do grande baiano Hermes Lima, nosso lendário professor de Introdução à Ciência do Direito, um dos primeiros ministros do STF cassados em 64, pois quanto mais culto, mais perseguido pelos morcegos hematófagos que habitam a escuridão da noite e transmitem a raiva (gostou, Mario Helio?). Segundo a brilhante tese de Fux, somente haveria Golpe de Estado se o plano covarde de assassinar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes tivesse acontecido com escritura pública e firmas reconhecidas.
Mas o cérebro humano é um mistério. Será que as luzes feéricas dos holofotes que têm iluminado Xandão internacionalmente ofuscam o prolixo, gongórico, inconveniente e chato Fux? Inveja mata. É veneno. Perturba o sono das pessoas, tira o sossego, o apetite. A vítima canaliza toda sua energia para a elegância, tentando sublimar o trauma. Com a cabeleira prateada, reluzente e impecável o falante magistrado matou seus pares de sede e fome.
O que mais impressionou na sua fala foi a resistência física! Quantas horas ele suportou sem verter água? Ele bateu todos os recordes de tempo de oratória nas tribunas do Judiciário brasileiro. Impressionante. E que nó de gravata perfeito, na moda. Gravata de seda pura. Coisa pra salão de beleza. Treze horas de falatório. Lembrei de Sartre.
Quando passou pelo Recife, na década de 60, o filósofo do Existencialismo tornou-se habitual frequentador do Bar Savoy, na Avenida Guararapes, reduto boêmio da nata dos intelectuais pernambucanos, inclusive dos saudosos Carlos Pena Filho, Ascenso Ferreira e Austro Costa, para bater papo, falar mal do próximo e saborear seu chope encorpado e gelado, de colarinho branco, bem tirado, e bife de fígado acebolado com tempero lusitano do dono Português. Pois bem, depois de certo tempo, o badalado pensador francês passou a ser considerado "um chato" pelos escritores, clientes, garçons e torcedores de futebol, porque falava sem parar e sem deixar ninguém falar e levantar pra urinar. Assim que entrava no alegre recinto a turma desabafava: "Lá vem aquele gringo chato!" Danado foi Xandão ter perdido o jogo do Corinthians, conforme queixou-se durante o voto de Carmen Lúcia por causa de Fux.
Arthur Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras Jurídicas - APLJ