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Adriano Oliveira: A família Bolsonaro e Tarcísio são sábios?

O tema soberania, trazido à tona, está intenso em parcela dos eleitores, o qual possibilitará o aumento da popularidade do governo Lula

Por ADRIANO OLIVEIRA Publicado em 20/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 20/07/2025 às 9:15

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Políticos falam pouco sobre estratégias. Mas muitos deles são exímios estrategistas. A Ciência Política também é econômica ao aborda estratégia, apesar de ser área em que poderia formar excelentes estrategistas. Jornalistas e analistas políticos, geralmente, não conseguem desenvolver olhar estratégico. Enxergam apenas o presente e desconsideram o passado, o futuro e a relação de causa e efeito dos eventos que são produzidos pelas ações dos atores.

O Brasil é excelente laboratório para avaliamos e aprendermos sobre estratégia. Mas, afinal, o que é estratégia? Ações que possibilitam conquistas, as quais podem ser ótimas ou não. Elas também podem evitar prejuízos. Portanto, nem sempre, a estratégia traz consequências positivas. A estratégia não deve ser simplesmente entendida como A que causa B. A pode causar B, que causa C, e mais sucessivas causalidades.

Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, apressou em tentar derrotar as chances de Lula em 2026 ao suspender os efeitos do decreto do governo estabelecendo o IOF. Motta acreditou que a derrubada do IOF traria impopularidade para o presidente da República em razão de que a população brasileira não suporta pagar mais imposto. Leitura, aparentemente, sábia. Todavia, Motta esqueceu de que a estratégia do ator pode gerar reação do oponente.

O governo Lula reagiu com a narrativa "pobre paga muito imposto e rico paga pouco e não que pagar". Neste espaço, dia 06/07/2025, eu previ que a popularidade do presidente Lula cresceria em virtude da narrativa implantada e assim ocorreu de acordo com as pesquisas de avaliação do governo divulgadas pela Quaest e Atlas. Lembro ainda que no âmbito político a estratégia do governo foi também eficiente. O STF foi provocado, aconteceu reunião de conciliação, não houve acordo, e o ministro Alexandre de Moraes restabeleceu o IOF.

Nestes últimos dias, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, passou a ser referência de péssimo estrategista. Tenho falado sempre que Freitas erra ao insistir na associação com o bolsonarismo. Bons analistas de pesquisas qualitativas sabem que Bolsonaro leva rejeição para qualquer candidato e numa disputa entre lulismo e bolsonarismo o primeiro leva vantagem.

Não satisfeito por estar associado ao bolsonarismo, Tarcísio de Freitas se aliou ao trumpismo. O governador de São Paulo desprezou o jeito bélico de governar do presidente americano. Assim que assumiu, Donald Trump aumentou tarifas e iniciou guerra comercial contra diversas nações, e, mais recentemente, com o Brasil. Tarcísio não considerou, antes de abraçar o trumpismo, que a economia de São Paulo tem dependência da economia americana. Portanto, ações que limitam o comercio internacional trazem impacto para o setor produtivo paulistano.

Tarcísio de Freitas, diante da fama, verdadeira ou não, de ser um bom gestor, e, considerando, equivocadamente, que Bolsonaro lhe conduzirá à presidência da República, apoiou, inicialmente, a estratégia de Eduardo Bolsonaro de incentivar Donald Trump a retaliar o Brasil economicamente em razão das instituições não estarem "respeitando" os direitos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro erram. Tarcísio de Freitas copia o erro. A família Bolsonaro está aliada ao presidente americano para evitar a prisão do ex-presidente Bolsonaro. Todos os atores que estão aliados a família Bolsonaro erram na estratégia por acreditarem que as instituições brasileiras e o presidente Lula recuarão diante da pressão econômica e política do governo Trump.

O presidente Lula e o STF reagiram. Lula se reaproximou dos empresários, os quais o rejeitavam. O tema soberania está intenso em parcela dos eleitores, o qual possibilitará o aumento da popularidade do governo Lula. Hugo Motta e David Alcolumbre abandonaram Jair Bolsonaro e se aliam ao governo em defesa da economia brasileira. Jair Bolsonaro está com tornozeleira eletrônica, na iminência de ser condenado e preso, e sem condições de fuga. Mesmo assim, Tarcísio de Freitas segue a ser sócio político do ex-presidente.

Adriano Oliveira,  cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia.

 

 

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