Alfredo Gomes: Universidade pra quê?
As Universidades Federais, vitais e subfinanciadas

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A universidade é uma instituição presente em todas as sociedades do mundo e existe há quase um milênio – como a conhecemos. É o instrumento mais importante de formação de pessoas, produção de conhecimento, tecnologia e inovação. As universidades transformam a vida das pessoas e de regiões inteiras, são vitais para o desenvolvimento humano, social e econômico.
Pernambuco e os pernambucanos têm uma das melhores e mais importantes universidades do Brasil: a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A nossa UFPE lidera o movimento pioneiro em ciência, tecnologia e inovação que levou à criação do CESAR e do Porto Digital.
Segue na vanguarda da inovação, criando o primeiro curso de bacharelado em Inteligência Artificial do Estado e, ainda em 2025, inaugurará o Parque Tecnológico e o Centro Acadêmico do Sertão, em Sertânia, que irão fortalecer o ecossistema de educação, ciência e inovação de Pernambuco.
É também uma das maiores universidades do país, podendo ser comparada a uma cidade, com quase 50 mil pessoas. São, aproximadamente, 32 mil estudantes de graduação matriculados em 115 cursos; mais de 8 mil estudantes de mestrado e doutorado matriculados em 156 cursos; e 64 programas de residência (médica, uniprofissional e multiprofissional).
Também conta com 17 Institutos Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação; 20 Laboratórios Multiusuários de Pesquisa (LaMPs), entre os quais um dos biotérios mais modernos e bem equipados do país. São mais de 2.500 professores efetivos e mais de 3.500 técnicos.
A UFPE segue avançando estado adentro, buscando alcançar cada vez mais pessoas em diversas regiões da Zona da Mata, Agreste e Sertão. Já são 13 centros acadêmicos, em Recife, Vitória de Santo Antão e Caruaru. E o Colégio de Aplicação, um dos melhores do país, com mais de 400 alunos dos ensino fundamental e médio.
Podemos olhar para a UFPE e comemorar. Mas também podemos lamentar. Lamentar muito, porque poderíamos fazer muito mais. Essa mesma universidade –gigante, vital, transformadora e presente – não conta com um financiamento mínimo para sua operação, muito menos para ampliações de estrutura, projetos e serviços que poderia entregar muito mais à sociedade.
Precisamos, juntos, encarar essa verdade: a UFPE encontra-se em situação de subfinanciamento, enfrenta enormes dificuldades financeiras e parte de sua infraestrutura física tem se deteriorado. Convido toda a sociedade a ver de perto, conhecer os projetos inovadores e ações importantes – mas também a enxergar como a falta de financiamento tem degradado a nossa Universidade Federal.
Outra forma de conhecer essa verdade é através do gráfico a seguir, que apresenta o orçamento discricionário (recursos do Tesouro Nacional) da UFPE para o período de 2014 a 2025. A linha inferior compreende os valores nominais estabelecidos anualmente pela Lei Orçamentária Anual; a linha superior mostra os valores corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a preços de 2025.
O orçamento da UFPE girava em torno de R$ 213 milhões em 2014. Dali em diante, sofreu sucessivos cortes. Em 2021 e 2022, teve os piores orçamentos da série histórica (R$ 139 e R$ 142 milhões, respectivamente). Em 2023, o orçamento recuperou um pouco de fôlego (R$ 177 milhões, em função da PEC da Transição), mas, em 2024, voltou a cair R$ 6 milhões.
Em 2025, mais uma queda, ficando na faixa de R$ 170 milhões – valor insuficiente para manutenção e funcionamento. São R$ 43 milhões A MENOS, se comparado a 2014, sem considerar a inflação do período, que, segundo o IBGE, teve um IPCA acumulado superior a 77%.
Como uma “cidade”, que operava em seu limite com R$ 325 milhões, pode oferecer estrutura, manutenção, desenvolvimento e ampliação com apenas R$ 177 milhões? Quase 50% de corte real. Essa é apenas uma possibilidade de cálculo. Podemos exercitar outras opções juntos, mas posso garantir que, em todos os cenários – por mais conservadores que sejam – vamos concluir que a UFPE, e por analogia as demais universidades federais, está seriamente subfinanciada.
Esse quadro orçamentário deprimente e irresponsável destoa da importância que a melhor universidade do Nordeste – e uma das melhores do país – tem para os pernambucanos. Destoa da riqueza da nossa cultura, da força do nosso povo e da história de inovação, pioneirismo e destaque do nosso estado.
Mas seguiremos. Porque esta é uma instituição forte e corajosa, resiliente e destemida, que continuará firme com seus objetivos: manter sua liderança e vitalidade para superar tantos desafios.
Alfredo Gomes, reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)