Artigo | Notícia

É proibido dançar

A vitória do Flamengo sobre o Chelsea por 3x1, após virada sensacional na Copa do Mundial de Clubes da Fifa, surpreendeu a muitos, não a mim.

Por ARTHUR CARVALHO Publicado em 02/07/2025 às 0:00 | Atualizado em 02/07/2025 às 10:42

A vitória do Flamengo não foi somente a de um time de futebol sobre outro, foi o triunfo de uma relativamente jovem nação sobre uma nação cansada de guerra, que já foi imperialista, lutou e derrotou Napoleão Bonaparte, em Waterloo, resistiu heroicamente em Londres aos bombardeios aéreos de Hitler e comandou o desembarque das forças aliadas na Normandia no dia D, império britânico que se orgulhava de ser império tão fantástico que nele o sol nunca se punha.

A vitória do Mengão sobre o Chelsea foi o triunfo do batuque importado da África, do samba de Sinhô, Donga, João da Baiana e Riachão, do terreiro de Tia Ciata, dos desfiles da Sapucaí, de Ary Barroso e Noel Rosa, Caymmi e Luiz Gonzaga, do frevo, de Capiba e do maracatu de Dona Santa, do coco de Jackson do Pandeiro, de Gordurinha e Pixinguinha, o maior de todos. Do choro de Jacó do Bandolim e de Garoto. Dilermano Reis e João Pernambuco.

Da mistura de negros africanos com nossos índios e portugueses, resultou uma raça triste, com ressaibos de alegria carnavalesca. Do sincretismo entre católicos, evangélicos, adeptos do candomblé e umbandistas. Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Rubem Braga e Augusto dos Anjos.

O gingado do Flamengo vem do negro Domingos da Guia, do caboclo Zizinho, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Quando perguntaram a Bob Paisley, treinador do Liverpool, por que seu time perdeu a partida final da Copa de 81 para o Flamengo por 3x0 ele respondeu: "Porque o Flamengo não joga futebol, o Flamengo dança. E isso devia ser proibido..."

Neném Prancha, Guaberinha e Tovar. Pobre de quem não viu Tovar jogar. A classe, a malemolência e a picardia do rubro-negro mais querido vieram do samba de coco do recôncavo baiano, do frevo e maracatu, dos reisados e danças do Maranhão, dos bois vermelho e azul de Parintins da Amazônia, dos morros e gafieiras do Rio de Janeiro. Do Mangue, da Lapa, do Pelourinho e do Chantecler, símbolo da boemia recifense, Flutuante e Moulin Rouge. Tabaris e Rumba Dancing de Salvador e Bataclan de Ilhéus. De Zé Coió, Chá Preto e Pente, Pente e Chá Preto.

Arthur Carvalho , do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro-RJ - SERJ

 

Compartilhe

Tags