Uma empresa não é um país, nem um país é uma empresa!
Existem diferenças sutis entre gerir uma empresa e governar um país, um Estado ou um município sob um regime democrático pleno.......

Em tempos de um país governado por um empresário, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, eleito na democracia mais longeva do mundo, o estilo de pensamento necessário para a gestão pública é muito diferente daquele que leva ao sucesso nos negócios.
Existem diferenças sutis entre gerir uma empresa e governar um país, um Estado ou um município sob um regime democrático pleno.
Aqui não se trata apenas do desequilíbrio tarifário global, defendido e aplicado pelo Presidente Trump. A questão é como gerir essas ações em um regime democrático, com contabilidades públicas e privadas que possuem lógicas, métricas e expectativas distintas.
Enquanto na Contabilidade Privada as medidas são baseadas principalmente em faturamento e lucro, na Contabilidade Pública as métricas envolvem inflação, desemprego, taxas de juros e tributação.
Uma é regida pelos CEOs e seus Conselhos de Governança, enquanto a outra é administrada pelos Bancos Centrais, Congressos e Governantes eleitos pelo povo , Cortes de Justiça
As decisões envolvem interações complexas entre agentes públicos e privados.
À luz da equação de Richard Hackman, da Universidade de Harvard, percebe-se que, em regimes democráticos, o grau de interação entre os agentes públicos e privados pode ser muito maior do que na gestão empresarial, milhares de vezes.
Bons gestores públicos, muitas vezes, não são bons empresários. Cada sistema tem sua própria lógica, como se diz, "cada um com seu cada um".
É como alguém que dirige um carro com rota definida pelo Waze e outro que conduz um ônibus com rotas, paradas e horários estabelecidos. Um tem paradas obrigatórias, o outro não.
Aqui, nos vêm à mente as ideias do Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman. Ele afirma que, em geral, os empresários lidam com sistemas de gestão movidos por feedbacks positivos, fáceis de corrigir.
Nos negócios, toda decisão tem um impacto financeiro. A máxima é "o segredo é a alma dos negócios", e a assimetria das informações é um fator crucial. A lógica aqui é comprar, vender e lucrar. Empresas podem quebrar.
No ambiente público, os gestores, sejam políticos ou não, lidam com sistemas de feedback negativo de difícil correção, pois envolvem múltiplos agentes com interesses difusos.
Os governos não quebram; criam impostos. No setor público, a forma de comunicar e o tom podem até desconfigurar um bom conteúdo. O cuidado também deve estar no "envelope" da mensagem.
Muitas vezes, o empresário na gestão política não está preparado para o "envelopamento" de suas ideias. Os "envelopes" ajudam a valorizar o conteúdo das mensagens.
"Os hábitos de um grande empresário não são, em geral, aplicáveis na gestão pública", como lembra o Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman.
"O líder empresarial que deseja se tornar um gestor público deve aprender um novo vocabulário e um conjunto de conceitos antes de fazer qualquer pronunciamento em sua nova área de atuação".
Não se administra um país como se fosse uma grande empresa, nem uma grande empresa como se fosse um país. Eis a Questão.
Aloisio Sotero, conselheiro em negócios . LinkedIn Aloisio Sotero