OPINIÃO | Notícia

Cláudio Couceiro d’Amorim: A Representação

Uma corporação que esteja sofrendo um desastre desse nível só tem uma saída: a substituição imediata de seu comandante! Este deixou de falar...

Por Cláudio Couceiro d'Amorim Publicado em 31/05/2025 às 7:00

Sim, o tema aqui é a representação, seus poderes e deveres. A complexidade dos valores a serem observados, a escolha de representantes capazes e, principalmente, fiéis, na defesa dos interesses de seus representados — são estes os principais elementos em jogo na atualidade. Tão distante da Grécia antiga, onde os senadores — os mais velhos da comunidade — se reuniam nas praças públicas para o processo de tomada das decisões sobre os caminhos a seguir, caso a caso.

Analisando o tema sob o enfoque da representação pessoal, podem ser abordados dois segmentos. Primeiramente, o da representação política de um detentor de mandato recebido pela escolha de seus eleitores para seu exercício no Poder Legislativo, seja de quatro em quatro anos, como vereadores ou deputados, seja, no caso do Senado, atualmente de oito em oito anos. A diversidade dos temas, suas inúmeras variáveis, as peças em causa, as restrições das legislações e o jogo de equilíbrio com os demais poderes — Executivo e Judiciário — são fatores difíceis de harmonizar.

Além de tudo — e é melhor aqui não os detalhar —, há inúmeros outros fatores, como a luta entre partidos pelo poder, o despreparo de muitos representantes para o fiel exercício de seu mandato, além da utilização de práticas irregulares. Sim, é preferível irmos ao ponto do foco aqui desejado!

Mas o foco aqui é o segundo segmento: o da representação corporativa, em que o contingente dos eleitores é bem mais restrito e a relação representantes/representados mais próxima, lembrando um pouco aquela época remota em que o jogo se fazia de forma direta, suscetível a uma avaliação clara por parte das comunidades diretamente interessadas.

O exemplo mais rico é o da representação sindical. Do lado dos representados, os interesses são os mais claros, como os da questão salarial, da qualidade de vida e da justiça social. Do lado dos representantes, por sua vez, a obrigação de corresponder à confiança depositada por seus eleitores é muito bem vigiada por meio de constantes assembleias que visam de forma contínua — no mínimo anualmente — acompanhar a correção dos procedimentos e a evolução das medidas adotados por seus representantes no campo da luta.

De fato, o poder de uma corporação está representado por sua força de luta e pelas batalhas efetivas realizadas ao longo do ano na defesa de seus representados. Sim, a luta é sua força, pois não dispõe de cargos nem de poderes nos combates que enfrenta. Suas armas são a capacidade de raciocínio, a disposição para o trabalho, sua união e a irrestrita relação de confiança entre comandantes e comandados!

Isso dito, quando, eventualmente, essa confiança se põe em xeque, ou, pior ainda, está claramente ferida, a suspeita recai sobre uma postura débil do representante de classe — isso para se dizer o mínimo.
Justifica-se aí o uso de termos pejorativos como traidor, pelego e outros bem mais fortes e impublicáveis, que expressam de forma clara a quebra da relação de confiança por parte dos mandatários corporativos!
A perda da confiança é um fator extremamente forte. Para ela, não há volta.

Uma corporação que esteja sofrendo um desastre desse nível só tem uma saída: a substituição imediata de seu comandante! Este deixou de falar a língua da corporação, aliando-se — mesmo que de forma sutil, por baixo do pano — com aqueles que não têm, por princípio, uma postura de defesa em relação aos valores mais caros à comunidade. Em jogo de xadrez não se brinca!

O melhor representante de uma categoria — tipo sindical — é, na verdade, aquele que se coloca de forma aberta, clara e leal na defesa dos interesses de sua corporação. Caso perceba, por menor que seja, qualquer hipótese de conflito com seus interesses pessoais, precisa colocá-los ao conhecimento de todos e abdicar do cargo antes que venha a perder a confiança nele depositada!
Uma corporação ferida pelas armas da traição, utilizada e manipulada por seu maior representante, precisará recomeçar todo um trabalho perdido ao longo dos anos — às vezes mesmo em decorrência de poucos atos praticados, mas certamente de uma profundidade cruel e desprezível.
A confiança só tem uma vida!

Cláudio Couceiro d’Amorim, Auditor Fiscal aposentado

 


 
 
 

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