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Mercado de carbono: sustentabilidade ou risco de maquiagem verde?

Mais do que uma solução financeira, o mercado de carbono precisa ser uma ferramenta de transformação real.........................

Por EVERTON DE OLIVEIRA Publicado em 24/05/2025 às 0:00 | Atualizado em 26/05/2025 às 10:08

A corrida global pela descarbonização colocou o mercado de carbono no centro do debate sobre sustentabilidade, economia e clima. Trata-se de um mecanismo que permite transformar a redução das emissões em ativos financeiros — os créditos de carbono — que podem ser comercializados entre empresas, países e organizações.

Na prática, funciona assim: se uma empresa consegue reduzir suas emissões além da meta, ela pode vender esse "excedente" para outra que não conseguiu cumprir seu limite. Esse modelo, chamado de Cap and Trade, já é utilizado em vários países e tem como objetivo criar um incentivo econômico para reduzir a emissão de gases de efeito estufa.

Mas para que isso funcione de forma ética e eficiente, é preciso rigor. Ferramentas como o GHG Protocol (protocolo dos gases de efeito estufa) ajudam a mapear e contabilizar as emissões em três níveis: as diretas (como uso de combustíveis), as indiretas (como o consumo de energia) e as da cadeia de valor (como transporte de mercadorias e fornecedores).

Outro mecanismo importante é o REDD (redução das emissões por desmatamento e degradação), que remunera quem mantém florestas em pé, evitando desmatamento e incentivando práticas sustentáveis. Esses instrumentos são fundamentais, sobretudo para países como o Brasil, que tem nas florestas um ativo estratégico para o mundo.

No entanto, o mercado de carbono também tem riscos. Se não houver controle rigoroso, pode abrir espaço para o chamado greenwashing, quando empresas parecem sustentáveis, mas apenas terceirizam seu impacto sem mudar práticas reais. Comprar créditos sem investir na redução efetiva das próprias emissões não resolve o problema — apenas adia.

Por isso, mais do que uma solução financeira, o mercado de carbono precisa ser uma ferramenta de transformação real, onde reduzir, sequestrar e compensar sejam ações feitas com responsabilidade, transparência e compromisso ambiental.

É justamente essa discussão que traremos para Recife nos dias 27 e 28 de maio, em um evento promovido pelo Instituto Água Sustentável. Porque o carbono não é problema dos ambientalistas — é um desafio de toda a sociedade, da economia e do nosso futuro coletivo.

Everton de Oliveira, diretor do Instituto Água Sustentável

 

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