OPINIÃO | Notícia

Eduardo Carvalho : A arte de perguntar enriquece diálogo e aprendizado

Perguntas definem tarefas, expressam problemas e delineiam casos. Impulsionam o pensamento. Respostas, por outro lado, sinalizam ponto final

Por EDUARDO CARVALHO Publicado em 16/05/2025 às 7:00

Diálogo é uma palavra de origem grega que tem duas partes. "Dia" quer dizer "através de". "Logos", conhecimento. Significa conhecimento fluindo através das pessoas. É construir pontes de entendimento, enriquecido através da arte de perguntar. Prática que deve ser cultivada ao longo da vida. Saber perguntar favorece a fundamentação e expansão de argumentos.

Perguntas definem tarefas, expressam problemas e delineiam casos. Impulsionam o pensamento adiante. Respostas, por outro lado, muitas vezes sinalizam um ponto final no raciocínio. Somente quando uma resposta gera novas perguntas é que o pensamento continua como investigação. Perguntas abertas ampliam horizontes, aprofundam questões em foco, clarificam conteúdos. Perguntas fechadas esclarecem pontos chave do que está sendo negociado.

Nesse processo, as perguntas inteligentes e feitas com maestria desempenham um papel essencial. Elas mantêm o diálogo vivo. Aprofundam a reflexão, ajudam a melhorar a argumentação, repensar propostas, perceber inconsistências. Mostram respeito pelo ponto de vista do outro e disposição para aprender com ele, transformando o diálogo em um momento de crescimento mútuo, onde ideias podem evoluir e soluções emergem com resultados extraordinários para todos e para o todo.

Perguntas bem formuladas provocam suposições e estimulam o raciocínio crítico. Convidam à descoberta. Simples questões como: “E se?”, “Por quê? “, “Como isso funciona?”, “O que aconteceria se…?”, “Por que você pensa assim?” podem abrir caminhos para compreensões profundas. Inspiram investigações e iluminam os limites do nosso conhecimento.

Em instituições educacionais a qualidade das perguntas formuladas por um aluno é um dos melhores indicadores do seu grau de compreensão. Um aluno que questiona está ativo no processo; está tentando conectar, integrar, duvidar, aplicar.

Perguntas inteligentes revelam intenção, escuta ativa e um desejo autêntico de compreender ou expandir argumentos. Requerem objetividade, empatia, respeito, equilíbrio emocional, curiosidade e coragem. Em geral, tem as seguintes características: 1) Clareza de propósito (provoca reflexão, busca entendimento mais profundo ou estimula novas ideias); 2) Contexto e relevância (conectadas ao momento, ao tema e à pessoa); 3) Abertura ao diálogo (geralmente são perguntas abertas); 4) Capacidade de gerar novas perguntas (explorando dilemas, conexões e nuances); 5) Estímulo ao pensamento crítico e criativo (ajudam a identificar pressupostos, desconstruir verdades absolutas e ampliar horizontes. Podem provocar insights, tanto em quem ouve quanto em quem pergunta). Algumas abordagens estimulam formulação de perguntas e aprendizados significativos. São complementares, não excludentes. Um bom educador ou líder sabe quando alternar entre elas.

Question Formulation Technique (QFT) — ou Técnica de Formulação de Perguntas — é uma metodologia desenvolvida pelo Right Question Institute, nos Estados Unidos. É amplamente utilizada em ambientes educacionais, corporativos e comunitários para fomentar o pensamento crítico, a autonomia intelectual, e a compreensão de temas complexos. Exemplo de pergunta: O que você gostaria de saber sobre o motivo pelo qual os jovens se sentem desconectados da escola?

“Humble Inquiry" ("Investigação Humilde") é um conceito desenvolvido por Edgar Schein, psicólogo organizacional e professor de MIT, que propõe uma abordagem de comunicação baseada em escuta respeitosa, curiosidade genuína e construção de confiança. A postura é de igualdade ou abertura, não de superioridade. Ao perguntar com humildade, a outra pessoa se sente ouvida e valorizada, fortalecendo a colaboração. Humble Inquiry é usado para criar conexões autênticas. Como por exemplo: Pode me contar mais sobre sua experiência com o aprendizado na escola?

Socratic Questioning" (Questionamento Socrático) é uma técnica de indagação baseada na abordagem do filósofo grego Sócrates, que consiste em fazer perguntas estruturadas para estimular o pensamento crítico, examinar crenças e chegar à verdade por meio do diálogo. O processo não aceita afirmações superficiais. Requer reflexão crítica sobre o que diz, pensa ou acredita. No processo, o indivíduo descobre mais sobre si mesmo, seus valores e suas razões. Socratic Questioning é usado quando se quer aprofundar o raciocínio. Um exemplo: Por que você acha que os jovens não veem utilidade prática no que aprendem na escola? O que poderia ser feito para mudar isso?

Inquiry-Based Learning (IBL) — ou Aprendizagem Baseada em Investigação — é uma metodologia centrada no aluno que promove o aprendizado por meio da exploração ativa, curiosidade e formulação de perguntas significativas. O aluno deixa de ser passivo e assume um papel de investigador, guiando sua própria aprendizagem com base em questões que ele mesmo gera. Explora hipóteses, faz experimentos, busca dados e interpreta resultados. O conhecimento é construído com base na descoberta, não apenas na transmissão. Exemplo de Atividade usando a metodologia: O Impacto das Mudanças Climáticas nas Cidades.
Vivemos em uma era de excesso de informações, mas de escassez de perguntas significativas. Aprender a fazer perguntas inteligentes é habilidade essencial de ser desenvolvida desde criança. Líderes que sabem perguntar inspiram colaboração. Professores que estimulam perguntas cultivam pensamentos crítico, criativo, sistêmico. Pais que escutam as perguntas dos filhos formam cidadãos conscientes. Uma mente com perguntas é uma mente que está intelectualmente viva.

Eduardo Carvalho, Autor do livro Nurture Global Citizenship Awareness

 

 


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