Prévia do que vem por aí
As fortes precipitações em poucos dias ou horas reforçam o que os cientistas vêm dizendo sobre as mudanças climáticas – e precisamos nos preparar

A soma dos milímetros é sempre a justificativa ideal, na perspectiva do poder público, para a alegação da imprevisibilidade que torna vulneráveis as cidades brasileiras durante os breves temporais e as chuvas intensas prolongadas. O temporal de uma hora em São Paulo ou a chuva forte numa madrugada, no Recife, podem ter consequências diferentes, ainda que guardem semelhanças no despreparo urbano para o clima na era do aquecimento global.
A capital pernambucana e municípios vizinhos enfrentam o drama conhecido por outras cidades do Nordeste e do país, quando chove mais do que alguns minutos, com intensidade maior do que o usual – e como se sabe há algum tempo, o inusual pluviométrico gradativamente se torna o imprevisto comum. Todos os anos, chove além da média mensal em vários lugares do planeta, e do Brasil. No Recife e Região Metropolitana, então, a concentração de água que cai do céu é tão certa quanto o dia seguinte de pesadelo para a população, e de notas oficiais dos governantes e seus secretários.
A rotina alterada pelos avisos meteorológicos chega nas telas dos celulares, oficialmente ou nos grupos de mensagens instantâneas, suspendendo aulas, atendimentos médicos e hospitalares, causando prejuízos ao comércio e deixando as pessoas presas dentro de casa, quando não ficam ilhadas sem poder voltar para suas residências. Infelizmente, as tragédias e as ocorrências já vistas em outras chuvaradas voltam a acontecer.
Como nos últimos dias no Grande Recife. Duas pessoas eletrocutadas, a queda de uma parte de morro que já havia sido cenário de tragédia há dez anos, um carro engolido pelo asfalto, e as enchentes de canais levando poluição, lama e medo para as ruas e os moradores, inundados de impaciência. Como nos arredores do Canal do Fragoso, em Olinda, cuja obra se arrasta há mais de uma década. Mudam os governantes, porém a padronização de respostas genéricas e protocolares para a população é a mesma, nos órgãos das prefeituras e do governo do estado. A notável ausência dos gestores públicos é percebida pelos pernambucanos, recifenses, olindenses e demais habitantes dos municípios atingidos.
Assim como a falta de planejamento seguido por ações que levem em consideração a necessidade conhecida de prevenção a tragédias e transtornos que se repetem. É lamentável que uma barreira caia no mesmo lugar, no Recife, uma década mais tarde, e tudo o que a Prefeitura seja capaz de dizer é que a obra está prevista para o ano que vem. No horizonte climático, a estação chuvosa retorna, novamente sem providências para amenizar a força das águas, cada vez mais intensas devido às mudanças climáticas. No horizonte político, as próximas eleições estão sempre no topo das prioridades, sem que os eleitores ganhem muito com isso.