Eduardo Carvalho: O mundo precisa de pessoas com nível de consciência elevado
Para evoluir precisa acreditar que a vida é pedagógica e considerar que todo ser humano tem algo para ensinar. Jamais se sentir dono da verdade

A consciência, segundo a filosofia, é um atributo do ser e se subdivide em três níveis. A transição entre esses níveis requer o reconhecimento do nível que está e decidir se desenvolver. O primeiro nível se preocupa com o “eu”. Como sobrevive, como se alimenta, como descansa, como atende aos seus desejos. O segundo nível inclui aqueles que têm relação direta conosco. Ou seja, a princípio a família mais próxima e depois, com o passar do tempo, alguns amigos. O terceiro nível é aquele onde há preocupação com a humanidade e a natureza como um todo. Este é o nível mais elevado da consciência, onde o ser humano se conecta com princípios universais e transcende o ego. É o nível do altruísmo verdadeiro, do ser humano pleno e realizado, que vive guiado por valores universais com sabedoria, compaixão e fraternidade, contribuindo para o bem comum.
No primeiro nível o indivíduo percebe o corpo físico, as energias que percorrem esse corpo físico. Em seguida, percebe as emoções, evoluindo para trabalhar com a mente de uma forma muito rudimentar. É a primeira identificação. Está muito ligado ao instinto de sobrevivência. É egoísta e, como tal, quer que o mundo gire em torno dele. As coisas que têm valor são as que servem para ele. O tempo todo se pergunta e avalia, o que o que pode ganhar com algo. Precisa evoluir.
Para evoluir precisa acreditar que a vida é pedagógica e considerar que todo ser humano tem algo para ensinar. Jamais se sentir dono da verdade. Ser eterno aprendiz. Comprometer-se sempre em elevar a consciência para um patamar superior. Eleger como propósito algo maior do que meramente sobreviver e transitar de um pequeno “eu” para um grande “eu”, qualificando esse “eu”. Fazer algo virtuoso pelos outros, pelo mundo, por si mesmo, para se tornar mais humano. Não admitir sair daqui do mesmo tamanho que entrou. Saber fazer escolhas conscientes.
A vida é resultado das nossas escolhas. Cabe refletir sobre o que considera quando faz escolhas. Os interesses pessoais? O que vai obter para si? É uma reta ação, altruísta, considerar como beneficiar mais pessoas com uma decisão e não querer os frutos para ter mais fama, poder ou dinheiro. Contentar-se em ser digno por participar de algo importante, que teve, humildemente, a sua autêntica colaboração. A dignidade é o respeito por si próprio. Mesmo que não tenha ninguém olhando algo que faça, a consciência está.
É necessário entender que somos dotados de alma humana (eu superior) e de alma animal (eu inferior) e, em todos os momentos, essa luta entre as almas existe. Para evoluir a consciência, devemos avaliar diariamente quais foram as vitórias. Se a alma animal prevaleceu, a estratégia precisa ser mudada, para que a alma humana se sobressaia. É uma luta diária. Não tem pausa. Como na respiração, no bater do seu coração, se pausar, morre fisicamente. Com uma pausa no funcionamento da alma, morre espiritualmente. Não tem mais a consciência.
No processo de elevação da consciência, a vida precisa fluir. Sem arrastar casos mal resolvidos do passado - decepções, traições, ingratidões. Os nós do plano emocional precisam ser desatados e ter coragem para enfrentar crises, que são momentos para se redobrar a atenção, caminhando com prudência, para não cair. As crises geram oportunidades de aprendizados para a evolução da consciência.
Elevemos a consciência, também, comprometendo-nos em passar pelas pessoas e deixá-las melhores do que eram antes de lhe conhecer, sendo fator de soma, agregando valores de justiça, bondade, verdade, fraternidade; sendo culto, cultivando seu caráter, objetivando o bem comum.
Por meio desse processo virtuoso chega-se ao terceiro nível da consciência, que compreende toda a humanidade, incluindo a natureza e como se relacionar com ela. É um organismo e cada indivíduo é uma célula. Uma célula pode destruir um organismo, quando não trabalha para o bem dele. Quando ocorre um desastre climático, por exemplo, deve se entender que é uma resposta a algo feito de maneira incorreta. É crucial entender porque aconteceu e agir para corrigir as causas. Vivemos às custas da natureza: os alimentos, o ar, a água. É fundamental cuidar bem dela. Quanto mais a consciência permanece nesse nível, mais muda o mundo pessoal. Os sentimentos e a compaixão pelas pessoas tornam-se mais profundos. Não só pela miséria física, mas também pelas misérias moral, psicológica e espiritual.
Lamentavelmente, a maioria das pessoas se limita ao segundo nível, como muitos políticos e profissionais: presidente de país que cria programas assistencialistas para dar peixe sem ensinar a pescar e muito menos criar uma indústria de peixe; prefeito que prioriza recursos para fazer obras eleitoreiras e ignora solucionar os problemas crônicos da cidade; político que consegue verba para projetos que lhe beneficia; médico que faz cirurgia que poderia ser evitada; profissionais ( advogado, arquiteto, engenheiro) que junto com cliente influente consegue aprovação de projetos que prejudicam o meio ambiente e a mobilidade do cidadão; funcionário público que vende dificuldade para obter propina;. São inúmeros os casos, se cada um parar para pensar.
Esse cenário só mudará se organizações, cidades, nações forem constituídas por lideranças com consciências elevadas. No terceiro nível.
Eduardo Carvalho, Autor do livro Global Changemaker