Adriano Oliveira : A inocência do marketing político e das redes sociais
O marketing político virou refém das redes. Tudo que é lá postado é estratégia. Se tem engajamento e muitas curtidas, a "estratégia" está correta

Tenho a impressão de que vivemos na ditadura das redes sociais. Basta o gestor aparecer nas redes que imediatamente a sua popularidade aumenta. São as redes sociais que motivam o crescimento da popularidade do presidente da República, governador e prefeito. Comemorar datas comemorativas nas redes é estratégia formidável para aumentar os admiradores de alguma gestão.
O marketing político virou refém das redes sociais. Tudo que é lá postado é estratégia. Se tem engajamento e muitas curtidas é porque a “estratégia” está correta. Nada de verificar a popularidade através das pesquisas de opinião. As manifestações nas redes representam a conjuntura e a plenitude da opinião pública. Não importa as bolhas. São as redes sociais que são a opinião pública.
Nada de amostra científica ou universo de pesquisa qualitativa. O que está nas redes é a opinião pública. E, portanto, o político deve insistir naqueles (sei lá o quê) tipo de postagem. Os sentimentos dos eleitores são representados pelas curtidas e comentários observados em cada postagem no Instagram, YouTube e tantos outros. Um twitte é a mensagem. Nada de dar entrevistas em rádios e aparecer na TV. Você tem que estar nas redes. Mesmo sem saber o que dizer e sem saber se o que você diz está correto.
Marketing político nasce da estratégia, a qual é definida pela pesquisas qualitativa e quantitativa. Principalmente, ressalto, pelo primeiro tipo de pesquisa, a qual desvenda os sentimentos/emoções dos eleitores. Se a pesquisa, qualitativa ou quantitativa, é construída e os seu dados interpretados obedecendo premissas científicas, conclui-se que a construção da estratégia é atividade científica. E a ausência de pesquisa na definição da estratégia e do marketing político possibilita que a estratégia e o marketing político percam o seu caráter científico.
Não existe estratégia e marketing político eficiente, inclusive nas redes sociais, sem a interpretação adequada da conjuntura. O governador André Firmino é bem avaliado porque a pesquisa qualitativa revela que o eleitor o tem como alguém que estar mudando o Estado através de muitas obras. O prefeito Zito está mal avaliado em virtude de que o eleitor considera que a cidade parou depois que ele assumiu a prefeitura. O presidente da República Lucas Tenório está bem avaliado porque estar combatendo a corrupção que era prática recorrente no mandato do presidente anterior.
Os exemplos apresentados revelam que são os sentimentos dos eleitores que causam popularidade ou impopularidade. Não é o comportamento do gestor ou do político nas redes sociais. Se o prefeito, governador e o presidente da República têm bom desempenho nas redes, inclusive proporcionando muitos engajamentos, mas não tiverem realizações e a conjuntura não favorecer, as redes têm a sua importância enfraquecida. As redes sociais são instrumentos do marketing político e não estratégia. Elas precisam ser utilizadas para levar a comunicação ao eleitor.
As redes sociais não mudam conjuntura. Mas elas podem influenciar, e não só elas, a mudança dos julgamentos dos eleitores. Explico. A conjuntura são os eventos observados no presente. Por exemplo: Inflação alta é um elemento da conjuntura. Crise política e desejo por mais segurança pública são outros elementos. As reclamações intensas para com o sistema público de saúde também. Além dos sentimentos. Na conjuntura podemos encontrar sentimentos de mudança, mal-estar, esperança, seguir em frente, mais conquistas, e tantos outros.
Para as redes sociais mudarem o julgamento dos eleitores, a interpretação da conjuntura precisa acontecer através da pesquisa qualitativa e do olhar atento para as evidências do ambiente social. Mais uma vez, portanto, afirmo: as redes sociais são instrumentos. Elas não representam estratégia. Assim como o marketing político. E mais: Marketing político não é apenas uma boa ideia. Para ele ser eficiente, precisa de estratégia. Sem pesquisa e estratégia, o marketing político e as redes sociais perdem eficiência. Portanto, a popularidade baixa do gestor Antônio não é da responsabilidade por inteiro do seu desempenho nas redes sociais.
Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência