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A avenida mais charmosa do Recife

A Avenida Boa Viagem foi palco de grandes eventos. Quase recebia uma prova de Fórmula Indy, promovida por Luciano do Valle...........

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 09/05/2025 às 0:00 | Atualizado em 09/05/2025 às 9:10

A Avenida Boa Viagem é uma das mais bonitas e, sem dúvida, a mais charmosa da cidade. Começa na Avenida Antônio de Gois e vai até a Avenida Armindo Moura, no limite entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes. Tem 7 km de extensão e atravessa os bairros do Pina, Boa Viagem e Setúbal, que muitos já chamam de bairro. Começou a existir no início do Século 20. Antes era uma estrada de areia utilizada por pescadores, ligando as praias da zona Sul. Inicialmente foi chamada de Avenida Beira Mar. Sua estrutura atual começou a existir há 96 anos quando a chamada Avenida da Ligação, a atual Herculano Bandeira, começou a ser construída, visando liga a cidade às praias do Pina e Boa Viagem, então isoladas apenas com casas de pescadores.

Em 1924, quando Boa Viagem passou a ser mais conhecida pelos recifenses, o governador Sérgio Loreto determinou a construção da avenida em 21 de outubro de 1924. O governador foi de bonde do Recife antigo até a Ponte do Pina. De lá, seguiu para a Avenida Boa Viagem, numa comitiva com mais de 300 automóveis. Acompanhando todo seu percurso, no final do Século 20 foi construído o calçadão. Quando a foi inaugurada, houve um momento de descoberta do mar e da modernidade. Nos primeiros dez anos, o desenvolvimento do bairro se deu no entorno da igrejinha de Nossa Senhora da Boa Viagem, na praça do terminal. Nela foi construído o Hotel Boa Viagem, durante anos o principal da cidade.

Depois, aconteceu a expansão com a construção de prédios modernos. Na fase inicial tinha duas faixas, separadas por uma calçada com as luminárias. Depois, virou faixa única. Foram construídas torres para os guardas salva vidas. Sua numeração, durante anos, servia para dividir Boa Viagem, pelo número desses postos. Uma exigência do Código de Obras obriga a separação entre os prédios, evitando que se forme uma parede de concreto. Aos poucos foram surgindo os edifícios. Alguns ficaram famosos, como o Acaiaca, o Castelinho, o Califórnia, o Caiçara. Numa das extremidades, surgiu o Cassino Americano, que foi também boate, prostibulo, restaurante e hoje está abandonado. Seus edifícios bonitos, cada vez mais altos, transformam a avenida num showroom de arquitetura, com projetos assinados por arquitetos famosos.

Um fato curioso envolveu o grande empresário pernambucano, Ricardo Brennand. Ele tinha um terreno perto da pracinha do terminal e pretendia construir o edifício mais alto da América do Sul, superando um de Caras, na época o maior. Chegou a fazer um projeto, mas esbarrou na dificuldade com o cone do Aeroporto dos Guararapes, que limita a altura das edificações na área. Lá foi construído o belo "Brennand Plaza"

No número 4000 o empresário Adelmar da Costa Carvalho construiu a Casa-navio, réplica de um transatlântico. Conta a história, que na véspera de ser considerado patrimônio, foi derrubada para dar lugar a um edifício. Atualmente a avenida tem uma vida pujante, com seus quiosques, palco de grandes eventos, como o réveillon e eventos de carnaval. A Padaria Boa Viagem é palco de grandes eventos políticos e sociais. Na avenida estão alguns dos mais famosos hotéis da nossa cidade. Com belos edifícios, tornou-se, digamos, um showroom de projetos de famosos arquitetos. A Avenida Boa Viagem tem três pracinhas, conhecidas como 1º Jardim, 2º Jardim (a mais badalada com vários restaurantes) e 3º Jardim.

A Avenida Boa Viagem foi palco de grandes eventos. Quase recebia uma prova de Fórmula Indy, promovida por Luciano do Valle, por muitos anos foi local do "Recifolia", um dos maiores carnavais fora de época do país, que teve até um caso folclórico, quando um rapaz se dizendo filho do dono da Gol enganou todo mundo e até ganhou carona no avião de empresário local para ir para o Rio de Janeiro. O Bloco da Parceria, criado por João Carlos Paes Mendonça quando comandava o Bompreço, fez o maior sucesso na manhã do domingo antes do carnaval. O réveillon de Boa Viagem marcou época em frente ao Acaiaca, antes de se concentrar no Polo Pina. Luciano do Valle fez durante anos o Band Folia no Polo Pina, com vários eventos esportivos e artísticos. O Bloco do Camburão no domingo depois do carnaval, depois transferido para Olinda. Quando prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos assinou decreto limitando os eventos na avenida, que sempre trazem transtornos para os moradores. Foram mantidos poucos, como desfiles religiosos, a Passeata da Diversidade, algumas corridas de rua.

Já teve muitos restaurantes famosos, como o "Veleiro", o "Lobster", o "Ponteio", o "Boi Preto", o "Boi e Brasa", o "Maxime", o "Pescatore", o "La Maison", todos de boas lembranças. Um estabelecimento que resiste ao tempo e às constantes propostas para transformar o local num edifício, é a Padaria Boa Viagem, também conhecida por ser polo de eventos políticos. Hoje tem poucos, no 2º Jardim e o "Tasqunha do Tio". Dos hotéis, alguns fecharam, como o Boa Viagem e o Hotel do Sol. Dois estão sendo transformados em flats, o Recife Praia e o Internacional Lucsim. Parte da avenida no 2º Jardim é fechado ao trânsito nos domingos, mas nunca é um grande sucesso. Tem uma curiosidade: a área no polo pina tem um movimento extra nas segundas-feiras: dizem que é para receber pessoas obrigadas a trabalhar aos domingos. Teve também episódios tristes, como a queda de um avião e ataques de tubarão.

Atualmente, o calçadão está sendo totalmente reformado, inclusive com projeto de ganhar restaurantes na área junto ao mar. Para manter a beleza da avenida mais charmosa da cidade.

 

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social

 

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