"República do Bolo de Rolo": Por que a influência em Brasília não transforma Pernambuco?
Estado passou a ter não apenas a função de corrigir falhas de mercado, mas também a responsabilidade de planejar e induzir transformações estruturais

Pernambuco, apesar de sua rica história e de seu potencial econômico, enfrenta desafios persistentes em seu desenvolvimento.
Com uma população estimada pelo IBGE, em 2024, de 9.539.029 habitantes, a estagnação econômica do estado, ao longo de décadas, foi sustentada por uma elevada concentração fundiária e de renda, baixa produtividade agrícola e ausência de um mercado interno dinâmico — fatores que impediram a emergência de um processo autossustentado de crescimento.
Nesse contexto, o Estado passou a ter não apenas a função de corrigir falhas de mercado, mas também a responsabilidade de planejar e induzir transformações estruturais.
Investimentos em infraestrutura, industrialização, turismo e modernização agrícola são fundamentais para catalisar o crescimento econômico e promover a inclusão social.
Apesar de avanços recentes — como os R$ 72,8 bilhões repassados pelo Governo Federal ao estado em 2024, conforme dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, destinados a áreas como saúde, educação e infraestrutura — ainda é necessária a formulação de uma estratégia mais robusta e coordenada para que esses investimentos se convertam não apenas em crescimento econômico, mas em desenvolvimento sustentável de longo prazo.
A Expressiva Representação Pernambucana no Governo Federal
Atualmente, Pernambuco, além de ser o estado de origem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, conta com expressiva representação em ministérios estratégicos do governo federal.
Entre os pernambucanos que ocupam cargos de destaque estão: José Múcio Monteiro, ministro da Defesa (PRD); Luciana Santos, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (PCdoB); André de Paula, ministro da Pesca e Aquicultura (PSD); Silvio Costa Filho, ministro dos Portos e Aeroportos (Republicanos); Wolney Queiroz, ministro da Previdência Social (PDT); Jorge Messias, advogado-geral da União (PT); e Frederico de Siqueira Filho, ministro das Comunicações.
A Desconexão entre Poder Político e Investimentos Estratégicos
A influência política regional tende a ampliar a capacidade de atração de investimentos públicos, especialmente em contextos de coalizões amplas e fragmentadas, como o atual.
O arranjo institucional brasileiro, caracterizado pela forte concentração de recursos no governo central e pelas amplas prerrogativas do Executivo federal, torna a ocupação de cargos ministeriais uma variável relevante na disputa por recursos federais.
No entanto, Pernambuco tem enfrentado uma desconexão entre sua presença nos centros de decisão e a concretização de projetos de grande impacto econômico no estado.
Essa dissociação entre protagonismo político e materialização de investimentos estratégicos evidencia a necessidade de uma abordagem mais abrangente e articulada para o desenvolvimento de Pernambuco.
Não se trata apenas de garantir a presença no centro das decisões federais, mas de fortalecer as bases locais de planejamento e execução de políticas públicas. Para que o estado converta sua influência política em resultados concretos para a população, é imprescindível enfrentar os entraves históricos que limitam seu dinamismo econômico e social.
O Caminho para um Desenvolvimento Sustentável e Inclusivo
Nesse sentido, a combinação entre investimentos estruturantes e o fortalecimento da governança local emerge como caminho decisivo para a superação dos desafios históricos e a construção de um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.
A descentralização das políticas públicas, intensificada a partir da Constituição de 1988, fortaleceu os municípios, possibilitando uma gestão mais próxima das necessidades locais.
No caso de Pernambuco, marcado por profundas desigualdades regionais — entre o Litoral, o Agreste e o Sertão — e por um elevado número de municípios com baixa capacidade administrativa e fiscal, a adoção de práticas sólidas de governança pública torna-se imprescindível.
A capacidade dos municípios de desenhar e implementar políticas públicas eficazes está diretamente relacionada à qualidade da governança adotada.
Retomar esse debate com base em evidências e em boas práticas — muitas já consolidadas em municípios mais estruturados do estado — constitui um passo essencial para que Pernambuco avance na redução de suas desigualdades regionais e na construção de um desenvolvimento local mais sustentável e inclusivo.
A "República do Bolo de Rolo" e a Necessidade de Superar o Clientelismo
Contudo, a “República do Bolo de Rolo” — expressão que sintetizamos pela notável presença de lideranças pernambucanas em posições estratégicas no governo federal — não tem se traduzido, de forma proporcional, em benefícios estruturantes para o estado como um todo.
Embora Pernambuco tenha forjado novos líderes com projeção regional e nacional, a atuação dessas lideranças, na prática, tende a atender prioritariamente aos interesses de seus próprios grupos políticos e eleitorais, mais do que a um projeto abrangente de desenvolvimento estadual.
Superar essa lógica fragmentada e clientelista é um desafio inadiável para que a influência política acumulada possa finalmente se converter em avanços concretos, sustentáveis e duradouros para toda a sociedade pernambucana.
*Priscila Lapa, jornalista e doutora em Ciência Política; Sandro Prado, economista e professor da FCAP-UPE.