A Inteligência Artificial e o fim do Ensino Superior
O fim do Ensino Superior, como o conhecemos, está próximo. Já era prenunciado há décadas, desde o início da adoção de tecnologias digitais....

A adoção da inteligência artificial (IA) pela população representa, ao mesmo tempo, um dos maiores desafios e um manancial de oportunidades para as instituições de ensino superior (IES). Seu impacto vai desde a possibilidade de renovação das técnicas pedagógicas, à multiplicidade de pesquisas que podem ser realizadas e o apoio à formação dos profissionais de Ensino Superior. Uma análise estratégica pode auxiliar a revelar as fortalezas e fragilidades das IES em relação às mudanças. Como todo cenário complexo, esse é paradoxal: A IA encarna as maiores ameaças e as melhores oportunidades para a criação do que será o Ensino Superior num futuro próximo.
Para o Ensino Superior atual, o avanço da IA levanta questões éticas e desafios regulatórios. O risco de vieses algorítmicos, os problemas na privacidade de dados e a falta de diretrizes claras são preocupações fundamentais. O uso excessivo de IA pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade dos estudantes caso se torne um substituto, em vez de um complemento. Embora a IA não substitua completamente os educadores, sua introdução pode mudar radicalmente a dinâmica da profissão, exigindo adaptação contínua por parte dos docentes.
O uso da IA no Ensino Superior abre caminhos para uma educação mais inovadora e personalizada. As IES têm a possibilidade de se beneficiar do potencial inovador da IA permitindo-lhes aprimorar metodologias de ensino, enriquecer a experiência dos estudantes e facilitar a educação sob medida. A personalização do aprendizado possibilita aos professores compreender melhor os processos de aprendizagem, ajustando estratégias conforme o perfil de cada aluno e oferecendo feedback instantâneo.
No entanto, a adoção da IA no Ensino Superior enfrenta desafios estruturais e culturais. A falta de recursos e infraestrutura adequada pode dificultar sua implementação eficaz, especialmente em instituições com orçamentos mais limitados. A necessidade de requalificação dos professores para o uso dessa tecnologia é um obstáculo significativo ao exigir tempo, investimento e esforço conjunto entre gestores e educadores até efetivado. Numa tentativa de concluir o paradoxo, a resistência à mudança também configura um desafio. Muitos educadores enxergam a IA, e as tecnologias digitais, somente sob o prisma dos possíveis riscos e não como as ferramentas de apoio, as quais, através do bom uso, podem se tornar.
A IA não deve ser vista como uma ameaça, mas como uma ferramenta para potencializar o Ensino Superior e melhor preparar os estudantes para um futuro altamente digitalizado. O sucesso das IES nesse novo contexto dependerá de sua capacidade de equilibrar tecnologia e humanização na educação. Aqueles que não entenderem essa relação irão sucumbir, pois um novo modelo está nascendo - e ele é simpático ao uso de inteligência Artificial.
O fim do Ensino Superior, como o conhecemos, está próximo. Já era prenunciado há décadas, desde o início da adoção de tecnologias digitais; hoje, consolida-se através da popularização da IA. O esvaziamento de instituições de Ensino Superior e a notável evasão estudantil evidenciam esse fim. Na verdade, assistimos à ascensão de modelos adaptados à incontornável mudança da cultura digital. O novo Ensino Superior será mais prático, próximo, humano, sustentável e envolvente e entregará efetivas experiências de aprendizagem com o apoio das tecnologias emergentes.
Alex Sandro Santos, professor titular da UFPE e membro da Academia Pernambucana de Ciências