Trump critica fome em gaza e diz que Israel tem responsabilidade na crise
Israel culpa a ONU e outras organizações humanitárias pela crise. Elas são acusadas de fracassar na logística de envio dos caminhões para Gaza

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Donald Trump contradisse nesta segunda-feira (28) o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, reconheceu que existe fome na Faixa de Gaza e afirmou que Israel tem responsabilidade pela crise. "Com base nas imagens de TV, diria que as crianças parecem muito famintas", disse o presidente, ao lado do premiê do Reino Unido, Keir Starmer, durante reunião entre os dois em Turnberry, na Escócia
Apesar de afirmar que Israel também é responsável pela crise, Trump repetiu a tese propagandeada pelo governo israelense, de que o grupo terrorista Hamas tem roubado ajuda humanitária, acusação rejeitada no fim de semana por oficiais do próprio exército israelense citados pelo New York Times.
O presidente americano afirmou que deve pressionar Netanyahu, na próxima vez que eles conversarem, para que mais ajuda entre no território palestino. "Quero que eles garantam que todos consigam a comida", afirmou Trump. As declarações ressaltam uma nova divergência entre ele e o premiê de Israel.
No domingo, 27, Netanyahu afirmou que "não existia fome em Gaza" e garantiu que Israel não estava praticando uma "política de fome" no território palestino. Na semana passada, no entanto, mais de 50 palestinos morreram de inanição, segundo a ONU. Mais de 100 mil dos 2,1 milhões de habitantes de Gaza enfrentam desnutrição aguda e 500 mil não conseguem comer diariamente.
Na semana passada, o governo Trump aprovou um financiamento de US$ 30 milhões para um sistema de distribuição de ajuda humanitária em Gaza, apoiado por Israel e administrado por empreiteiros americanos, que dirigem a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês). A fundação é alvo de críticas por não conseguir distribuir a comida no território.
Crise humanitária
Os comentários de Trump ocorreram depois da publicação de imagens chocantes, no final de semana, que mostraram um agravamento da crise de fome em Gaza, com crianças e bebês desnutridos e adultos desesperados sem comida.
Durante a coletiva de imprensa, ao lado de Starmer, Trump disse que os EUA "estabeleceriam centros de alimentação" em Gaza, mas não ofereceu mais detalhes.
Depois de muita pressão da comunidade internacional, o exército de Israel começou, no final de semana, a realizar lançamentos aéreos de ajuda, junto com pausas limitadas nos combates em três áreas habitadas de Gaza, por 10 horas ao dia, para auxiliar na distribuição.
Em comunicado divulgado na semana passada, a ONU acusou o exército de Israel de matar mais de mil pessoas em centros de distribuição de comida na Faixa de Gaza - as mortes ocorreram desde maio, quando a entrada de ajuda foi retomada de forma limitada e a GHF começou a operar.
Culpa
Israel culpa a ONU e outras organizações humanitárias pela crise. Elas são acusadas de fracassar na logística de envio dos caminhões para Gaza. Funcionários das Nações Unidas respondem, afirmando que Israel criou tantos obstáculos burocráticos que ficou quase impossível o processo de distribuição.
Outro argumento comum de Israel é dizer que o Hamas estaria roubando ajuda humanitária envida aos palestinos. A alegação foi repetida mesmo durante o período em que nenhum carregamento de suprimentos entrava na Faixa de Gaza, entre março e maio.
No fim de semana, em reportagem do jornal americano The New York Times, comandantes militares israelenses, que pediram para não serem identificados, afirmaram que não há provas de que o grupo terrorista estava roubando sistematicamente a ajuda humanitária.