Trump ameaça países alinhados ao Brics com tarifa adicional de 10%
A ameaça de Donald Trump ocorreu ao mesmo tempo em que ocorria a Cúpula do Brics no Rio de Janeiro, durante esta segunda-feira (7)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou os países ligados ao Brics com uma tarifa adicional de importação de 10%. "Qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics será submetido a uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção a este assunto!" escreveu o republicano na rede Truth Social.
A ameaça de Trump ocorreu ao mesmo tempo em que ocorria a Cúpula do Brics no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (7). No encontro, os países integrantes do bloco sinalizaram "sérias preocupações" com as medidas protecionistas e unilaterais de comércio, em referência à guerra tarifária deflagrada pelo presidente americano, sem citá-lo nominalmente.
A secretária de Comunicação e porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente americano, Donald Trump, acredita que o Brics está "tentando minar os interesses dos EUA", em coletiva de imprensa nesta segunda-feira.
"Trump está garantindo que os EUA serão tratados de forma justa no cenário global", disse, ao pontuar que o presidente está "monitorando de perto" a cúpula do grupo que acontece no Rio de Janeiro. "Trump não acredita que o Brics esteja se fortalecendo", acrescentou.
ATUAÇÃO DO BRICS
Representantes dos países do Brics condenaram os bombardeios ao Irã e pouparam a Rússia, dois membros plenos do bloco, na declaração oficial da cúpula, ocorrida no Rio. O grupo não mencionou Israel e Estados Unidos, autores dos ataques no Oriente Médio. Também não citou a Ucrânia, invadida em 2022 e acusada pelo Kremlin de praticar “terrorismo” contra civis.
“Condenamos os ataques militares contra a República Islâmica do Irã, que constituem uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”, afirmaram os líderes, em sinalização a Teerã, mas usando o exato teor do texto proposto como meio-termo pelo Brasil, como antecipou o Estadão.
O tema havia virado alvo de impasse, dado o desejo da delegação iraniana de elevar o tom. Diplomatas enviados por Teerã exigiam uma declaração mais dura do que uma emitida em junho, como de fato ocorreu. Mas acabaram isolados e não conseguiram emplacar termos como “condenação veemente” e uma atribuição nominal aos “ataques militares realizados por Israel e EUA”. Países como Índia, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos resistiram, por causa de suas relações com Washington e Tel-Aviv.
Por outro lado, o Brics citou sete vezes os termos Israel ou israelense e destinou longos parágrafos à segurança no Oriente Médio, sobretudo, na Faixa de Gaza, Síria e Líbano. A declaração final menciona ainda seu “compromisso inabalável com a solução de dois Estados”, referindo-se a um Estado palestino e um Estado israelense. Isso desagradou ao Irã, que não reconhece o Estado de Israel.
“Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas, mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
MEDIAÇÃO
Presidente de turno do bloco, o Brasil queria evitar que o comunicado final do Brics soasse como uma afronta clara aos EUA. Por isso, atuou para reduzir a visão crescente de que o grupo se tornou um polo de contestação ao Ocidente, manobrado politicamente por China e Rússia.
Ainda assim, a declaração do bloco não menciona os ataques aéreos da Rússia contra a Ucrânia às vésperas da cúpula, os mais intensos desde 2022 e ocorridos após uma conversa entre Vladimir Putin e Donald Trump terminar sem avanço. Mas cita ataques ao território russo. “Condenamos nos termos mais fortes os ataques contra pontes e infraestrutura ferroviária que visaram deliberadamente civis nas regiões de Bryansk, Kursk e Voronezh, na Federação Russa, resultando em várias vítimas civis”, afirmaram os líderes.
É a primeira vez que o Brics cita ataques específicos em território russo desde a invasão da Ucrânia, em 2022.
CRÍTICA DIRETA
Na abertura da cúpula, Lula criticou a Aliança do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a quem acusou de “instrumentalização” ao evocar a fala de Teerã de que a agência estaria a serviço do Ocidente. Sobre a Otan, o presidente atacou a decisão dos países da aliança que, pressionados por Trump e preocupados com a Rússia, concordaram em elevar a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) os respectivos investimentos em defesa.