Netanyahu, o sacrifício do filho e uma onda de críticas
Observações feitas solenemente para as câmeras, tendo como pano de fundo um hospital atingido por mísseis, provocaram uma onda de críticas

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, caminha sobre uma camada fina de gelo - mas nem sempre toma cuidado com seus passos. Há um bom tempo, ele pede que a população de Israel faça sacrifícios em nome do esforço de guerra. Na quinta-feira, 19, quando visitou um hospital atacado pelo Irã, ele apontou para o sacrifício da própria família em meio ao sangue, suor e lágrimas de toda a população: o segundo adiamento do casamento de seu filho.
As observações feitas solenemente para as câmeras, tendo como pano de fundo um hospital atingido por mísseis, provocaram uma onda de críticas e deram força aos argumentos dos opositores, para quem ele está cada vez mais distante emocionalmente das realidades diárias de Israel.
"Há pessoas que, infelizmente, foram mortas. Famílias que perderam seus entes queridos. Eu lamento. Cada um de nós carrega um preço pessoal. Isso não passou despercebido pela minha família. Por causa da ameaça de mísseis e bombardeios, meu filho Avner cancelou o casamento. É certamente um alto preço pessoal para ele, para a noiva e para nossa família", disse o premiê, ressaltando que não era a primeira vez que o casório de seu filho precisava ser adiado.
Emendando de bate-pronto, Netanyahu comparou ainda o seu momento ao vivido por Winston Churchill durante a blitz nazista a Londres na 2.ª Guerra. "Isso realmente me lembra o povo britânico durante a blitz. Estamos passando por uma blitz", disse, referindo-se aos bombardeios alemães que mataram mais de 43 mil britânicos.
A fala viralizou nas redes sociais, sendo considerada fora de tom e insensível por boa parte da população. "Conheço muitas famílias que não foram forçadas a adiar um casamento, mas que agora nunca mais celebrarão os casamentos que deveriam ter acontecido", disse Gilad Kariv, deputado opositor.
Anat Angrest, mãe de Matan, soldado mantido refém pelo Hamas, também criticou o premiê. "O sofrimento também não passou despercebido pela minha família. Estou nas masmorras infernais de Gaza há 622 dias", escreveu Angrest no X.
PRESSÃO ECONÔMICA
Os países do Golfo Pérsico estão solicitando aos Estados Unidos (EUA) que detenham os ataques de Israel ao programa nuclear do Irã. Embora os Estados do Golfo temam o programa nuclear do Irã, a proliferação de mísseis e o apoio a milícias em toda a região, eles também temem a interrupção de suas economias e a possibilidade de que o Oriente Médio mergulhe em mais um conflito.
O presidente dos EUA, Donald Trump, até agora não mostrou sinais de querer conter Israel. Ontem, o republicano descartou a ideia de pressionar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu a parar os ataques.
USO DA DIPLOMACIA
Os países do Golfo também demonstraram preocupação com a crescente disposição de Israel em usar seu Exército, em vez da diplomacia, para lidar com os antigos problemas da região. Altos funcionários desses países, que apoiaram os esforços diplomáticos anteriores de Trump para resolver o impasse sobre o programa nuclear do Irã, foram pegos de surpresa pelo apoio do presidente a Netanyahu.
Esses países também temem que seu investimento no relacionamento com os EUA, feito durante a viagem de quatro dias de Trump à região no mês passado, não esteja se traduzindo em influência real.
"Até agora, as conversas e canais abertos com o Irã têm sido muito eficazes em prevenir o transbordamento militar para o Golfo, mas agora Israel pôs fim a isso", disse Yasmine Farouk, diretora do Projeto do Golfo e Península Arábica no think tank International Crisis Group. "Há uma posição compartilhada entre os Estados do Golfo de querer conter e parar esta guerra".
O Golfo Pérsico impõe, assim, limites aos EUA, que têm bases aéreas e navais importantes estacionadas em seus países. Os países do Golfo disseram aos EUA e ao Irã que não participarão de nenhum ataque nem permitirão que seu espaço aéreo seja usado para esse fim.