Lula assiste a desfile militar e faz reunião com Putin na Rússia
Viagem do presidente brasileiro tem sido criticada por simbolizar uma espécie de apoio diplomático a um líder autocrata que controla o país

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta sexta-feira (9), de uma série de eventos a convite do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou. Lula é um dos únicos líderes de democracias ocidentais presentes na capital russa.
A viagem do presidente brasileiro tem sido criticada por simbolizar uma espécie de apoio diplomático a um líder autocrata que controla o país com mão de ferro, persegue opositores e invadiu um país vizinho, a Ucrânia, atropelando acordos internacionais.
A lista de participantes inclui o líder da China, Xi Jinping, e chefes de outras 28 nações como Armênia, Azerbaijão, Belarus, Venezuela, Cuba, Bósnia, Burkina Fasso, Congo e Egito.
Lula começou o dia na parada militar de 80 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, a celebração do Dia da Vitória, que marca a rendição da Alemanha nazista. Moscou foi toda decorada com bandeiras vermelhas e grandes painéis de led com imagens da guerra para a data.
O desfile militar é tradicionalmente usado por Putin para reforçar o nacionalismo e projetar o poderio militar russo com exibições de equipamentos, como tanques, veículos blindados, peças de artilharia e mísseis - atuais e históricos - e homenagens ao Exército Vermelho soviético. Caças Sukhoi sobrevoaram Moscou.
Putin também busca demonstrar laços políticos amplos com a recepção a líderes estrangeiros. Desde a invasão da Ucrânia em 2022 a cerimônia vinha sendo esvaziada, assim como o relacionamento externo do russo.
Segundo meios de comunicação ligados ao aparato estatal russo, cerca de 30 líderes políticos globais devem participar das celebrações em Moscou - principalmente da Ásia, antigas repúblicas soviéticas e da África.
Ida de Lula
A ideia de Lula é tratar novamente com Putin da proposta de negociação de paz sino-brasileira, para alcançar, de início um "cessar-fogo abrangente".
Lançada em meados do ano passado, a sugestão com seis pontos agradou a Moscou, mas não a Kiev. Ela não exige a retirada das tropas russas do terreno ucraniano, algo que era considerado fundamental no Ocidente.
No ano passado, autoridades da China chegaram a falar no apoio de cerca de 100 países, mas somente 11, além de Brasil e China, a endossaram em setembro, após encontro nas Nações Unidas, em Nova York.
Lula quer discutir a relação comercial com Putin. Brasil e Rússia bateram recorde no ano passado, com trocas comerciais estimadas em US$ 12,4 bilhões. No entanto, o Brasil tem amplo saldo negativo de US$ 9,5 bilhões.
Os principais produtos importados pelo País são o diesel e fertilizantes, considerados insumos essenciais para produção agrícola brasileira. E exporta principalmente café e carne bovina. Lula assistiu ao lado da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, à parada militar na Praça Vermelha.
O desfilo contou com milhares de militares, alguns trajados com fardamento de época, e unidades de antigas repúblicas soviéticas, como Belarus, Azerbaijão, Usbequistão e Casaquistão, entre outros.
Também desfilaram militares de países politicamente próximos a Moscou, entre eles das Forças Armadas do Egito e do Exército de Libertação Popular da China.
Lula e demais líderes internacionais receberam os cumprimentos de Putin no Palácio do Senado russo, no Kremlin. Na noite anterior, eles foram recebidos para um banquete no Grande Palácio do Kremlin.
O presidente brasileiro também se reunirá com o primeiro ministro da Eslováquia, Robert Fico, no hotel Four Seasons, onde se hospeda em Moscou. No sábado, dia 10, ele se desloca para visita a Pequim, China.
A ex-presidente Dilma Rousseff, presidente do banco do Brics, o NDB, por também está em Moscou. Ela teve o mandato renovado à frente do banco em acordo com Putin, que indicaria um sucessor russo, mas evitou por causa de sanções internacionais.
O Brasil sedia o Brics neste ano, com uma cúpula de líderes prevista para julho no Rio, mas a presença de Putin é improvável, por causa de um mandado de prisão contra ele, acusado de deportação ilegal de crianças ucranianas, em nome do Tribunal Penal Internacional.