REUNIÃO | Notícia

Brics rejeita 'ressurgência do protecionismo comercial'

O posicionamento para acabar com os conflitos na Ucrânia e em Gaza foi dito em uma reunião de chanceleres do bloco no Rio de Janeiro

Por AFP Publicado em 29/04/2025 às 18:20

O Brics expressou, nesta terça-feira (29), sua forte oposição à "ressurgência do protecionismo comercial", no segundo dia da reunião de chanceleres do bloco no Rio de Janeiro, em uma reação velada às agressivas políticas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O bloco de economias emergentes destacou "a firme rejeição de todos [os países-membros] à ressurgência do protecionismo comercial", declarou em entrevista coletiva Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, que exerce a presidência rotativa do grupo.

O grupo de onze países, com a China como potência dominante, fez uma declaração em favor do multilateralismo como contrapeso às medidas unilaterais que têm gerado tensões comerciais em nível global.

Em um documento divulgado pela presidência do grupo, os chanceleres do Brics "exortam todas as partes a tomar medidas para defender o livre comércio e o sistema multilateral de comércio".

Vieira explicou que o documento é um esboço das intenções para a declaração que será emitida pelos chefes de Estado na cúpula prevista para os dias 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.

Mas "houve um consenso absoluto de todos os países" sobre "temas de disputas comerciais, tarifas", destacou.

O Brics reúne, além de Brasil e China, Rússia, Índia, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã

O bloco, que tem crescido em número de integrantes e ganhado visibilidade internacional nos últimos anos, representa quase metade da população mundial e 39% do PIB global.

Na abertura do encontro, na segunda-feira, no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio, Vieira defendeu "a diplomacia em vez do confronto e a cooperação em vez de unilateralismo".

A guerra comercial impulsionada por Trump tem afetado especialmente a China, com tarifas de 145% sobre seus produtos, às quais Pequim respondeu com tarifas de 125% para as importações vindas dos Estados Unidos.

O Fundo Monetário Internacional já reduziu suas previsões de crescimento global para 2,8% neste ano, devido à extrema "incerteza" gerada pelas medidas protecionistas dos Estados Unidos e pelas retaliações de diversos países.

Prematuro falar em moeda única

Uma eventual desdolarização do comércio entre o Brics foi abordada com cautela pelos diplomatas presentes na reunião.

Já discutido durante a cúpula de outubro em Kazan, na Rússia, o tema provocou ameaças de Trump de impor tarifas de 100% ao bloco caso seguisse por esse caminho.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, declarou que "seria prematuro debater a transição para uma moeda única" para o grupo.

O bloco tem trabalhado para aumentar as transações comerciais nas moedas nacionais de seus membros, uma estratégia impulsionada pela Rússia em parte para contornar as sanções impostas pela guerra na Ucrânia.

Por outro lado, o Brasil liderou no primeiro dia um apelo por um reforço do multilateralismo como mecanismo para encerrar os conflitos na Ucrânia e em Gaza.

Além disso, os chanceleres discutiram a reforma dos organismos multilaterais para aumentar a representação dos países do Sul Global.

 

A agenda promovida pelo Brasil no bloco busca maior equidade em instituições como a ONU — especialmente no Conselho de Segurança — e também no FMI e no Banco Mundial.

A presidência brasileira do Brics também instou a "retirada total" das forças israelenses de Gaza e considerou "inaceitável" a obstrução da chegada de ajuda humanitária ao território palestino.

Israel retomou a campanha militar na Faixa de Gaza em 18 de março, depois que uma trégua de dois meses veio abaixo por desavenças com o grupo islamista palestino Hamas, cujo ataque sem precedentes contra Israel, em outubro de 2023, deu início à guerra.

"A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são inaceitáveis", disse Vieira. "É necessário assegurar a retirada total das forças israelenses de Gaza", acrescentou.

Ao menos 40 pessoas morreram nesta segunda-feira em Gaza em bombardeios israelenses, informou a agência de Defesa Civil do território palestino.

 

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