Anistia Internacional denuncia um 'genocídio ao vivo' em Gaza
A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023, após ataque do grupo islamista Hamas em Israel, que, em represália, já deixou 52.365 mortos

A Anistia Internacional denunciou, nesta terça-feira (29), "um genocídio ao vivo" cometido por Israel na Faixa de Gaza, onde a guerra e o bloqueio da ajuda humanitária levam a população a uma situação desesperadora, acusações que Israel classificou como "mentiras infundadas".
O alto comissário de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, pediu esforços internacionais combinados para ajudar Gaza e evitar que a "catástrofe humanitária alcance um novo nível sem precedentes".
"Israel parece estar impondo aos palestinos de Gaza condições de vida cada vez mais incompatíveis com a continuação de sua existência como grupo", declarou em um comunicado.
A secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, afirmou que "o mundo tem testemunhado um genocídio ao vivo em suas telas", no prefácio do relatório anual da organização sobre direitos humanos.
A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023, após um ataque do grupo islamista Hamas em território israelense, que deixou 1.218 mortos, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
Naquele dia, 251 pessoas foram sequestradas, das quais 58 permanecem detidas em Gaza e 34 morreram, segundo o Exército israelense.
Desde então, as operações militares de Israel em represália deixaram 52.365 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
"Os Estados assistiram, como se fossem impotentes, Israel matar milhares de palestinas e palestinos, massacrar famílias inteiras de várias gerações e destruir residências, meios de subsistência, hospitais e escolas", apontou Callamard.
Na seção do relatório sobre o Oriente Médio, a Anistia reitera suas acusações de "genocídio", já formuladas em 2024, mas que as autoridades israelenses rejeitam categoricamente.
O relatório cita, entre outros, "homicídios", "danos graves à integridade física ou mental de civis", "deslocamentos forçados e desaparecimentos" e "a imposição deliberada de condições de vida destinadas a provocar a destruição física dessas pessoas".
Israel negou imediatamente estas acusações. "A organização radical anti-israelense Anistia optou mais uma vez por publicar mentiras infundadas contra Israel", disse Oren Marmorstein, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Marmorstein acusou o Hamas de "atacar deliberadamente civis israelenses e se esconder atrás de civis palestinos".
"Crianças de Gaza vão dormir com fome"
A Defesa Civil de Gaza relatou que os bombardeios israelenses mataram pelo menos sete pessoas e que quatro vítimas viviam em uma tenda em um campo de refugiados no sul do território, em Khan Yunis.
Widad Fojo, que perdeu vários familiares em um dos ataques, disse em lágrimas que está cansada da violência.
"A única coisa que quero é apoiar a cabeça em um travesseiro e dormir. Não queremos continuar recolhendo restos", declarou a mulher.
Em 2 de março, poucos dias antes do fim de uma trégua de quase dois meses, Israel interrompeu completamente o fluxo de ajuda internacional, vital para os 2,4 milhões de habitantes do território, afetados por uma crise humanitária sem precedentes.
A agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) afirmou que a recusa de Israel em permitir que a ajuda entre na Faixa "mata em silêncio", especialmente crianças e doentes.
"As crianças de Gaza vão dormir com fome. Os doentes e feridos não podem receber atendimento médico devido à escassez (...) nos hospitais", destacou.
"A fome e o desespero estão se espalhando, enquanto alimentos e suprimentos de ajuda humanitária são usados como armas. Gaza se tornou uma terra de desespero", acrescentou.
O relatório da Anistia também indica que cerca de 1,9 milhão de palestinos (90% da população da Faixa de Gaza) tiveram que abandonar seus lares em consequência do conflito, e acusa Israel de provocar "deliberadamente uma catástrofe humanitária sem precedentes".
"Gaza põe à prova a justiça internacional e a nossa humanidade", disse Heba Morayef, diretora da Anistia para o Oriente Médio e o Norte da África, em uma coletiva de imprensa.
Além disso, o Crescente Vermelho palestino anunciou, também nesta terça-feira, a libertação de um socorrista palestino detido desde um confronto entre soldados e socorristas em março, no sul da Faixa.