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O justo vive pela fé

A liberdade preciosa é concedida por Deus ao ser humano e não é mera ausência de coerção, mas oportunidade de viver segundo a verdade

Por JC Publicado em 26/10/2025 às 0:00

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PR ESDRAS CABRAL DE MELO


508 anos da Reforma Protestante (1517-2025)
O texto sagrado de Romanos 1.17 declara com poder e simplicidade: “O justo viverá por fé.” Essa breve sentença contém, em sua profundidade, uma das maiores revoluções espirituais da história da humanidade. Ela não apenas mudou o curso da teologia cristã, mas reacendeu a chama da liberdade interior e da confiança absoluta na graça divina — uma verdade que há 508 anos continua ecoando com vigor no coração da Igreja de Cristo.


Recentemente, ao caminhar pelas ruas de Wittenberg, Alemanha, senti o peso e o perfume da história. Diante das portas da antiga Igreja do Castelo, onde Martinho Lutero afixou suas 95 Teses em 31 de outubro de 1517, percebi que aquele ato não foi apenas um protesto contra os abusos religiosos de seu tempo, mas uma proclamação da liberdade da alma humana diante de Deus. Aquelas palavras em latim marteladas na madeira ecoaram não só nos ouvidos da cristandade medieval, mas no coração de todo aquele que compreende que a fé é a ponte entre a graça de Deus e a fragilidade humana.

A Liberdade que Nasce da Fé. A liberdade é o bem mais precioso concedido por Deus ao ser humano. Ela não é mera ausência de coerção, mas a possibilidade sublime de viver segundo a consciência iluminada pela verdade. O verdadeiro sentido da liberdade cristã não se encontra na autonomia do “eu”, mas na rendição confiante ao Deus que nos justifica pela fé. Como disse Lutero: “A fé é uma confiança viva e ousada na graça de Deus.”


Quando o monge agostiniano, angustiado em sua cela, leu as palavras paulinas — “O justo viverá por fé” — uma nova aurora despontou. Sua alma aflita, antes presa à lógica dos méritos e penitências, encontrou descanso no amor imerecido de Deus. Ali, à luz trêmula de uma vela, nasceu uma convicção que incendiaria o mundo: a salvação é dom gratuito da graça divina, e não recompensa por obras humanas.


O Legado que Transcende os Séculos. A Reforma Protestante não foi apenas um evento histórico; foi uma redescoberta da essência do Evangelho. Lutero e os reformadores — Calvino, Zwinglio, Melanchthon, entre outros — restauraram à Igreja a centralidade da Palavra, a supremacia de Cristo e a soberania da graça. O clamor dos reformadores ecoava: Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia, Solus Christus, Soli Deo Gloria!


Esses cinco pilares sustentam até hoje a fé evangélica. Eles nos recordam que o cristão não vive pela aparência da religião, mas pela confiança em Cristo. Que o justo não depende dos favores humanos, mas da misericórdia divina. Que a vida espiritual autêntica floresce quando a alma se curva diante da cruz e se levanta pela fé.


O Chamado Contínuo da Reforma. Celebrar 508 anos da Reforma Protestante é mais do que rememorar um fato histórico. É reafirmar o compromisso com a verdade que liberta. É compreender que a fé não é um conceito estático, mas uma experiência viva que transforma o coração e renova a mente.
A Reforma não terminou no século XVI; ela continua onde quer que um homem ou uma mulher decida viver pela fé, resistir à corrupção da alma e buscar a pureza da adoração a Deus. A cada geração, o Espírito Santo chama a Igreja a reformar-se, a voltar às Escrituras, a redescobrir o poder do Evangelho e a viver com integridade diante do Senhor.


Conclusão: A Vida que Brota da Fé. “O justo viverá por fé” é mais do que uma doutrina — é uma forma de existir. É o pulsar de uma vida rendida à graça, sustentada pela confiança e guiada pela esperança. Lutero compreendeu isso, e sua descoberta continua sendo o alicerce de toda espiritualidade autêntica.
Enquanto estive na terra da Reforma, percebi que as pedras antigas ainda “falam”. Elas testemunham um tempo em que um homem, armado apenas com a fé e a Palavra, enfrentou impérios e tradições para afirmar uma verdade eterna: Deus não se conquista; Deus se crê.


Que esta geração — e as que virão — jamais se esqueça: A fé é o fogo que reacende a liberdade da alma. A graça é o solo onde floresce a justiça. E o justo… viverá por fé.

Esdras Cabral de Melo é pastor da Convenção em Abreu e Lima PE.Mestre em Teologia, doutor em educação e graduado em Ciências da Religião e Metodologia do Ensino Superior e Doutor em Educação e Psicanálise. Membro da Academia Pernambucana de Letras (APEL).

 

 

 

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