O Dia em que Deus Deus Apanhou
E Deus Pai, juntamente com Deus Espírito Santo, nada fizeram para socorrer Jesus porque estavam com ele, padecendo da mesma rejeição afirma Paulo

REVERENDO MIGUEL COX
“Então, Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus,
entregou-o para ser crucificado”. Mateus 27:26
Mal sabia Pilatos que estava realizando o desejo de Deus. Ele liberou Barrabás, porque este não servia para o sacrifício, era imundo, carregava crimes hediondos a ponto de ter sobre si a sentença de morte e, assim, livre, retorna ao convívio dos demais pecadores. Alí, com excessão de Jesus Cristo, não havia inocentes, todos eram culpados, a começar pelos apóstolos. Judas o traíu, Pedro o negou e os demais: Felipe, Mateus, Tadeu, Tiago (filho de Zebedeu), João,Tiago (filho de Alfeu), André, Bartolomeu, Simão e Tomé, o abandonaram, fugindo da prisão, dos açoites e da eventual morte. Eles também não iriam servir como sacrifício. Os sumo-sacerdotes, Anás e Caifás, com os demais sacerdotes e membros do Sinédrio, setenta em número, que tramaram o covarde e traiçoeiro aprisionamento de Jesus Cristo, já com o intuito de crucificá-lo, também não iriam servir.
Os soldados também fizeram parte dessa trama humana contra Deus. Cumpriram a ordem de espanca-lo dilacerando o seu corpo com chicotadas, coroa de espinhos, bofetadas, cuspidas no rosto, colocaram a pesada cruz sobre os seus ombros, obrigando-o a carrega-la por uma considerável distância e, depois, puseram pregos nas suas mãos e pés, e o feriram com uma lança.
A multidão, igualmente corroborou, gritando: Crucifica-o, crucifica-o! Dessa maneira, Jesus não contou com a compaixão nem com a simpatia de ninguém. Ninguém se importou com Ele, ninguém mais o quis, o ódio escorria pela boca de todos, esse era o clima da sua rejeição. Aquele que encarnou todo o bem recebeu, como recompensa, todo o mal do mundo.
E Deus Pai, juntamente com Deus Espírito Santo, nada fizeram para socorrê-lo. Por quê? Porque estavam também ali, com ele, padecendo da mesma rejeição, afirma S. Paulo: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19). De igual modo foram surrados violentamente. Receberam a aversão da humanidade, foram expulsos juntamente com ele, porque, juntos, pagaram o exorbitante preço do pecado que nós, seres humanos, jamais iríamos poder quitar. Sim, Deus foi surrado. A Santíssima Trindade padeceu unida à severa punição que nos era devida. “Aquele que não conheceu pecado, ele (Deus) o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).
Deus não pôde fazer nada para impedir, pois, se o fizesse retiraria o preço da culpa universal que ele mesmo assumiu. Nas palavras de Sto. Agostinho: “você quer saber o seu valor? Olhe para a cruz, você vale um Deus crucificado!” Sim, Deus apanhou em seu lugar. Jesus Cristo não foi apenas Homem Perfeito, o Messias Prometido, ele é o Lógos, ou seja, a razão, o princípio de todas as coisas, o Criador de todo o universo: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (João 1:3). Ele é o Autor da Vida: “dessarte, matastes o Autor da Vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas” (Atos 3:15) palavras de S. Pedro.
Este é o ensino do Evangelho, Deus padeceu em nosso lugar. Deus mesmo pagou o preço do pecado que entrou no mundo através de nós e assumiu a nossa culpa. A encarnação de Cristo é a presença viva de Deus entre nós. A sua jornada. todas as suas palavras e realizações, bem como a sua entrega sacrificial como um cordeiro inocente e mudo, em nosso lugar, testificam a nossa absoluta incapacidade de nos redimir de um pecado sequer. Contudo, ficamos totalmente limpos quando aceitamos o alto preço que foi pago para a nossa redenção.
Deus abdicou de sua divindade e sofreu por nós na pessoa de seu Filho Jesus Cristo. Ele, e apenas Ele, é a nossa redenção completa! Louvado seja Deus pelo seu despojamento e sacrifício por toda a humanidade! Naquela cruz, Deus amou mais a você do que a seu Filho. Pense nisto!
Rev. Miguel Cox é mestre em teologia, pastor e membro da Academia Pernambucana Evangélica de Letras - APEL