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A Eutanásia não é a solução

Tornar a eutanásia uma realidade é, no mínimo, pensar que o homem seja critério e norma de si mesmo, pois a vida e a morte só pertencem a Deus

Por JC Publicado em 08/06/2025 às 0:00

PADRE BIU DE ARRUDA


A Palavra de Deus e a Tradição da Igreja são uníssonas na defesa da vida humana, desde o seu desabrochar (concepção) até o seu declínio natural (morte). Logo, nada justifica ceifar a vida de ninguém, por melhor que pareça ser o argumento; afinal, “só Deus é quem dá a vida e dá a morte” (Dt 32, 39).

Diante do mistério da existência humana e do fechamento à transcendência do ser, a França segue o mesmo caminho equivocado de outras nações, aprovando no seu parlamento a eutanásia como se fosse a solução louvável para estancar o sofrimento humano daquelas pessoas tidas como incuráveis. Contudo, é preciso lembrar, e lembrar sempre, que o incurável não é sinônimo de incuidável. Em toda pessoa humana há sempre uma dignidade que é conatural, tendo presentes as digitais do Criador. Logo, a vida humana além de ser inviolável é sagrada na sua origem.


Estimado/a leitor/a, para um justo juízo de valor moral acerca da eutanásia, antes de tudo é preciso ter claro o que seja. A eutanásia “é uma ação ou omissão que, por sua natureza e nas intenções, provoca a morte com o objetivo de eliminar o sofrimento” (Evangelium Vitae, n. 65). Diante de tal afirmação, depreende-se que  eutanásia consiste na intenção deliberada de uma ação ou uma omissão, visando à morte da pessoa. Sendo assim, quando se prevalece a tendência para apreciar a vida, só na medida em que proporciona prazer e bem-estar, o sofrimento humano desponta como se fosse um contratempo. Diante de tal situação, tornar a eutanásia uma realidade é, no mínimo, pensar que o homem seja critério e norma de si mesmo. Nunca foi e nunca será, pois a vida e a morte só pertencem a Deus (1Sm 2,6).


A eutanásia, por mais desejada que seja, não será o lenitivo que cure, definitivamente, a angústia que reside em cada ser humano ou bane da face da terra a dor humana. Afinal, há um vazio no interior humano que chega a provocar alguns interrogações; como por exemplo: De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? São questões que têm a sua fonte comum naquela exigência de sentido que só será compreendida, quando a criatura reconhecer que é uma fagulha da Eternidade e, por isso, merecedora de todo respeito, a começar pela inviolabilidade da vida e sua sacralidade. Logo, por mais que parlamentos no mundo aprovem a eutanásia, essa lei não passa de uma corruptela de lei, sem merecer a obediência da consciência.


A história dá testemunho de que Igreja, em seus mais de 2000 mil anos de presença no mundo, como aquela que é portadora e anunciadora de Jesus Cristo, nunca mediu esforços para defender a vida humana desde a concepção até a morte natural. A sua missão como mestra é demonstrar para o mundo que vale a pena viver, uma vez que a vida é uma graça de Deus.


Nesse diapasão, o Magistério da Igreja é como se fosse uma bússola, formando e orientando consciências. Para tanto, basta ver a Donum Vitae de Paulo VI e a Evangelium Vitae de João Paulo II, para citar apenas dois documentos que tiveram sua fonte primária nas Sagradas Escrituras. Sem olvidar, o primeiro documento cristão que fala da sacralidade da vida, isto é, a Didaqué. Logo, não será excessivo lembrar que a eutanásia é sempre uma violação grave à vida humana.


Há quem defenda que a eutanásia seja um ato de compaixão. Mas que compaixão? A verdadeira compaixão consiste na história apresentada por São Lucas, no capítulo 10. O relato do doente à beira do caminho. A verdadeira compaixão é aquela que acompanha no momento da necessidade, ou seja, do Bom Samaritano, que vê, tem compaixão, se aproxima e oferece ajuda concreta. Aqui reside a compaixão evangélica, isso sim! Ter compaixão é estar ao lado da pessoa no declinar da vida, de modo natural.
Acredita-se que no declínio da vida, a pessoa é merecedora do acolhimento amoroso da família. Por isso, urge, diante de tão perversa ação, coragem de todos para assumir um estilo de vida que promova a pessoa humana, na sua dignidade a nível pessoal, familiar, social e internacional.


Parcela de responsabilidade também, recai sobre os legisladores que deveriam criar normas que promovam a cultura da vida e da morte. A eutanásia não é a solução.


Padre Biu de Arruda e da Arquidiocese de Olinda e Recife – Pároco da Paróquia de Santa Luzia na Estância– AOR

 

 

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