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A Religião e a Ressocialização 

A Pastoral Carcerária é uma organização ligada à Igreja Católica que tem como objetivo evangelizar e promover a dignidade humana nas prisões

Por JC Publicado em 25/05/2025 às 0:00


PADRE BIU DE ARRUDA

Caríssimo leitor, já está comprovado que a religião exerce uma grande influência na ressocialização dos reeducandos. Isso é fato. Para tanto, basta ver as teses apresentadas por estudiosos do sistema carcerário. Sem olvidar que, há parcerias frutíferas entre o Estado e as várias denominações cristãs e isso tem sido uma mão na roda. Contudo, é necessário reconhecer que o próprio termo ressocialização não é adequado, uma vez que, ressocializar implica em socializar. Ora, como resssocializar quem nunca teve moradia, família, comida, emprego, afeto humano etc? Mas isso é tarefa daqueles que laboram com as ciências sociais. A intenção aqui é falar do valor da religião para o sistema carcerário.


É de conhecimento de todos que o sistema carcerário brasileiro já está falido há anos; não recupera praticamente ninguém. Pelo contrário, entra um ser humano que praticou um delito e sai um monstro abduzido pelo ódio; e quando não, um verdadeiro professor na escola do crime, visto que em muitas penitenciárias são as gangues que mandam e ditam as regras do jogo. Sendo assim, como recuperar a pessoa jogada dentro de autênticas masmorras? É missão desafiadora. E neste sistema perverso entra a religião com a mão amiga, reconhecendo que um ato delituoso não define para sempre a pessoa, mas é preciso ressaltar a sua dignidade humana que tem origem divina.


A religião é um instrumento forte de ressocialização. Ela exerce o poder de transformar a vida social do apenado. Ela não vê apenas por meio da lupa do Estado. Geralmente, o Estado só enxerga a pessoa que praticou um delito e que precisa ser alijada da sociedade e punida. O olhar religioso dá um passo mais largo, não vendo apenas alguém que infligiu a norma, mas um ser humano que é merecedor de ajuda em momento tão difícil.


É justamente nessa situação calamitosa de abandono, de esquecimento, onde a pessoa só tem a companhia de um sistema falido e das fétidas paredes do cárcere que entra em cena a religião. E aqui, é preciso reconhecer o esforço abnegado de tantas pessoas cristãs que levam a Palavra de Deus – como refrigério humano – para quem está excluído da sociedade humana e que talvez, carregará para sempre, uma nódoa, como se fosse um cão sarnento, sem cura.


Nessa batalha desafiadora de perdas e ganhos, é necessário tirar o chapéu para a Pastoral Carcerária e tantos outros grupos de denominações cristãs diferentes, que visam ao mesmo objetivo: estender a mão a quem precisa, mostrando que a pessoa é filha de Deus. A Pastoral Carcerária é uma organização ligada à Igreja Católica que tem como objetivo evangelizar e promover a dignidade humana nas prisões, realizando visitas aos apenados, promovendo reuniões, cursos, celebrações litúrgicas etc.
Em alguns lugares, quando a Lei 7. 210/1984 (Lei de Execução Penal) permite, há atividades recreativas. Os voluntários da Pastoral Carcerária entenderam com gesto e vida, a lição do Divino Carpinteiro: “estava na prisão e não foste me visitar” (Mt 25, 39). Não se pode negar também, que o Estado, aqui e acolá, oferece a ressocialização por meio de estudos e trabalho artesanal dos apenados de modo tímido. Onde a lei permite, é claro.


Querido leitor, a religião dentro do sistema prisional contribui para resgatar a dignidade humana daquele que errou e que perdeu a liberdade. A religião é como se fosse uma bússola na convivência no cárcere. Ela restaura o apenado, melhorando o comportamento, elevando a autoestima. Como também, é provado que o índice de reincidência de quem recebe ajuda da religião é bem menor de quem não recebe. Isso é fato. Contudo, é de acreditar que, de todos os benefícios que a ação religiosa no cárcere provoca na vida do apenado, talvez o maior deles seja a reaproximação com os laços consanguíneos. Por isso, antes de o Estado ressoacializar, ele precisa socializar, investindo pesado na educação e nas famílias.


Padre Biu de Arruda é da Arquidiocese de Olinda e Recife, e pároco da Paróquia de Santa Luzia na Estância.

 

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