O Livro dos Espíritos -160 anos
A trajetória que levou à publicação de "O Livro dos Espíritos" começou muito antes de 1857 pois já estava em curso no plano espiritual

MANUELLE TEIXEIRA
Em 18 de abril de 1857, o mundo presenciava um marco espiritual: A publicação de "O Livro dos Espíritos", obra inaugural da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec. Este livro, mais do que uma coletânea de perguntas e respostas, representa a concretização de uma promessa feita por Jesus relatada no Evangelho de João (Jo, 14:16, 17): O envio do Consolador, o Espírito de Verdade, que viria relembrar e esclarecer os ensinamentos do Cristo.
A trajetória que levou à publicação de "O Livro dos Espíritos" começou muito antes de 1857. No plano espiritual, esse projeto já estava em curso. A obra "Cartas e Crônicas", ditada pelo Espírito Humberto de Campos (Irmão X) e psicografada por Francisco Cândido Xavier, relata no capítulo 28 (Kardec e Napoleão) que em 1799 houve uma reunião nas esferas superiores para planejar um novo ciclo de conhecimento. Nela, destacava-se a missão de Hippolyte Léon Denizard Rivail, que passaria a usar o pseudônimo Allan Kardec, Espírito comprometido com a regeneração moral da humanidade.
O ambiente histórico também foi preparado para esse momento. A invenção da imprensa, a Reforma Protestante, o Iluminismo e a Revolução Industrial ocorridos anteriormente, permitiram maior disseminação de ideias e amadurecimento intelectual da humanidade. E, apesar da repressão política da época, sobretudo na França de Napoleão III, o Espiritismo floresceu.
Em 1848 surge o Espiritualismo Moderno, com a culminância dos fenômenos espiritualistas em Hydesville, nos Estados Unidos, na residência da família Fox. Logo após, em 1850, ganharam notoriedade na Europa as chamadas “Mesas Girantes”.
O primeiro contato de Rivail com estes fenômenos ocorreu apenas em 1855, quando, finalmente, aceitou o convite para observar uma das reuniões. A princípio, cético, aplicou rigor científico ao estudo das manifestações espirituais, desenvolvendo um método de investigação baseado na observação, análise e comparação das comunicações.
As reuniões, inicialmente frívolas, tomaram nova forma agora sob a coordenação de Kardec. As sessões passaram a ocorrer com disciplina, oração e respeito, permitindo o amparo e a comunicação dos Espíritos Superiores. As questões eram elaboradas pelo codificador e respondidas pelos Espíritos com o auxílio de médiuns.
A primeira edição da obra, de 1857, continha 501 questões. E, em 1860, após revisão, foi publicada a segunda edição, contendo 1.019 perguntas, que se consolidou como a versão definitiva. Nela, o Espiritismo apresentou-se como uma doutrina de tríplice aspecto: Ciência, Filosofia e Religião, com o objetivo de promover a transformação moral do ser humano e oferecer consolo por meio da fé raciocinada.
Jesus, embora não tenha fundado uma religião ou construído templos, deixou-nos a Lei de Amor. O Espiritismo, longe de contradizer sua mensagem, é o instrumento por meio do qual essa verdade se amplia e se aprofunda, explicando a imortalidade da alma, a justiça divina e a reencarnação como caminho de progresso.
A Doutrina Espírita é farol para os que sofrem, esclarecimento para os que buscam e consolo para os que choram. Ela nos lembra que a vida continua, que somos Espíritos imortais e que a felicidade verdadeira nasce da vivência do amor, da justiça e da caridade.
Ao celebrarmos os 168 anos de "O Livro dos Espíritos", agradecemos a Allan Kardec, o codificador incansável, mas, sobretudo, a Jesus, nosso modelo e guia. Como sabiamente nos diz Alcíone, no livro "Renúncia": 'A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida'. Então, que possamos vivê-la todos os dias, a fim de alcançarmos o verdadeiro progresso.
Manuelle Teixeira é trabalhadora voluntária da Federação Espírita Pernambucana (FEP)