A atualidade de Jesus
Neste mês de abril, em que se celebra a Páscoa, somos convidados à reflexão sobre a vida de Jesus e Seus ensinamentos que ecoam com atualidade

GUSTAVO MACHADO
Neste mês de abril, em que se celebra a Páscoa, somos convidados à reflexão sobre a vida de Jesus e Seus ensinamentos, que ecoam com uma atualidade cada vez mais precisa.
Nessa perspectiva, em tempos de redes sociais e imediatismos, de linchamentos virtuais e cancelamentos públicos, as lições de Jesus são como um farol de lucidez e misericórdia em meio à tempestade de julgamentos apressados. Há mais de dois mil anos, um grupo de homens levou até Ele uma mulher surpreendida em adultério. Queriam testá-Lo. Desejavam que Ele compactuasse com a violência travestida de justiça. Mas a sábia resposta de Jesus, que percebendo às manipulações, reverbera até hoje com desconcertante atualidade: “Quem dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra (João:8:7).”
Essa cena, tão conhecida, parece escrita para os nossos dias. Hoje, os apedrejamentos não são com pedras, mas com posts, comentários e hashtags. É no “tribunal da internet” que muitos se colocam como julgadores implacáveis — como se nunca tivessem errado, como se estivessem autorizados a definir quem merece ou não ser “destruído”. A cultura do cancelamento ignora a complexidade humana, a possibilidade de arrependimento, de crescimento, de recomeço — e sempre é tempo de recomeçar. Esse procedimento substitui a justiça pelo justiçamento e o perdão pelo espetáculo da punição pública.
Mais grave ainda é quando tudo isso é feito em nome de Deus. Discursos inflamados, recheados de intolerância e ódio, vestem-se de religiosidade para justificar ofensas, exclusões e ataques. Uma cruzada, novamente, se ergue — não com espadas, mas com palavras ferinas, com a manipulação da fé, com o uso político do nome de Deus. Jesus, porém, nunca agiu assim. Ele confrontava, com assertividade e amorosidade, os poderosos injustos e acolhia os caídos. Denunciava, com firmeza e afabilidade, os hipócritas e estendia a mão aos feridos. Jesus não o fazia por meios que expusessem os equivocados ao ridículo ou à exposição pública (tão comuns hoje, em tempos de lives e afins), pois sabia o Mestre que o chamado à mudança interior era — e é — um processo de reforma íntima e individual que passa por etapas: arrependimento, expiação e reparação. Jesus não usava o povo como massa de manobra, mas como destinatário de esperança.
É tempo de visitar e vivenciar as lições morais do Evangelho, não como código de condenação, mas como proposta de amor, compaixão e verdade. O pensamento de Jesus segue atual porque propõe que o mais forte é quem perdoa, que a justiça se faz com amor e empatia/caridade, e que a fé não é instrumento de domínio ou manipulação, mas de libertação. Em tempos de dedos apontados, Ele ainda escreve na areia. Em dias de gritos e cancelamentos, Ele sussurra: “Eu também não te condeno; vai, e não peques mais”(João, 8:11). Não nos aprisiona no sentimento de culpa. Indica-nos o caminho para a correção de nossos próprios erros, sem que os outros sejam os corretores de nossas condutas. Convida-nos, a partir do autoconhecimento, à libertação por meio do senso de responsabilidade e à transformação interior.
Essa, parece-nos, que é a proposta de Jesus. Os dias são chamados, sim. Chamados à lucidez. Chamados à misericórdia. Chamados ao retorno da fé que edifica com amor, não a que destrói. O mundo não precisa de novos inquisidores — precisa, urgentemente, de pessoas dispostas a viver o Evangelho de Jesus.
Gustavo Machado – trabalhador da Fraternidade Espírita Franscisco Peixoto Lins (Peixotinho).