Transição energética em Fernando de Noronha avança com projeto que prevê matriz 100% renovável até 2027
Iniciativa da Neoenergia busca transformar Noronha na primeira ilha oceânica habitada da América Latina a operar com matriz energética 100% renovável
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O arquipélago de Fernando de Noronha recebeu, neste sábado (8), o lançamento do projeto Noronha Verde, iniciativa que promete transformar a matriz energética local e eliminar, de forma progressiva, a dependência de combustíveis fósseis. O evento ocorreu no Forte dos Remédios e contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, do presidente executivo da Iberdrola, Ignacio Galán, do CEO da Neoenergia, Eduardo Capelastegui, do deputado federal Waldemar Oliveira e do tenente-brigadeiro Marcelo Damasceno.
Com investimento de R$ 350 milhões, recursos da própria Neoenergia, o projeto prevê a instalação de mais de 30 mil painéis solares fotovoltaicos, integrados a um sistema de armazenamento por baterias. A meta é alcançar descarbonização total da geração elétrica até 2027, tornando Fernando de Noronha a primeira ilha habitada da América Latina a operar integralmente com energia limpa. A Usina Tubarão, que hoje gera energia a partir de biodiesel, seguirá apenas como backup para situações emergenciais, embora a expectativa da empresa, a longo prazo, seja de dispensar completamente seu uso.
“Hoje o Brasil dá exemplo ao mundo. Ao desligar uma usina a diesel e iniciar o processo de transição energética em Fernando de Noronha, mostramos que é possível unir soberania, sustentabilidade e desenvolvimento econômico. Transição energética não é apenas um compromisso ambiental, é também uma oportunidade de geração de emprego, renda e inovação. É a nova economia, uma economia verde, fora da qual não há salvação nem para o planeta, nem para a vida”, disse o ministro Alexandre Silveira.
A iniciativa resulta de uma parceria entre a Neoenergia, o governo federal e o governo de Pernambuco, com licenciamento da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e anuência do ICMBio, responsável pelas unidades de conservação federais no arquipélago. O planejamento foi desenvolvido com base em estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que avaliou custos, impactos ambientais e alternativas, como modelos eólicos e híbridos, antes da definição pelo modelo solar com armazenamento em baterias.
Projeto busca zerar emissões de CO2 associadas à geração de energia
Atualmente, Noronha emite cerca de 22 mil toneladas de CO2 por ano, segundo estimativas para 2025. Em 2024, foram 21 mil toneladas. O Noronha Verde busca zerar essas emissões associadas à geração de energia até 2027. Hoje, apenas 5% da matriz elétrica da ilha provém de fontes solares, com pouco mais de 4 mil painéis em operação. Com o novo projeto, esse número saltará para mais de 30 mil, ampliando de forma significativa a participação das fontes renováveis.
“Este projeto, além de ser um ícone na transição energética brasileira, representa também um compromisso concreto com a sustentabilidade, a inovação e o futuro do planeta, temas que estarão em debate nos próximos dias na COP30, em Belém. Atualmente, 95% da energia da ilha é gerada por fontes termoelétricas, com alto consumo de diesel e emissão de cerca de 21,5 mil toneladas de CO2 por ano. Isso contrasta com o potencial turístico e ambiental da região, que recebe cerca de 150 mil visitantes por ano e é Patrimônio Mundial pela UNESCO. Nosso compromisso com a descarbonização, eletrificação e eficiência da ilha começou há 10 anos, com a construção das plantas solares Noronha I e II, de 1 MWp de potência instalada. Depois, lançamos o Trilha Verde, iniciativa pioneira que promoveu a mobilidade elétrica na ilha, com 12 eletropostos para carros elétricos. Nos últimos três anos, entregamos ainda a usina solar Vacaria, a usina solar Lab Noronha e estações de carregamento para bicicletas elétricas”, destacou Eduardo Capelastegui.
O sistema substituirá o uso diário de 27 mil litros de diesel, combustível que chega à ilha em viagens semanais pelo mar. O produto utilizado atualmente é o S10, composto por 15% de biodiesel, e parte do volume é enviada do Rio Grande do Norte e parte de Pernambuco.
“Tirar o diesel de Fernando de Noronha significa um novo começo para a ilha. É um marco histórico que abre uma nova janela de oportunidades em turismo, inovação e desenvolvimento sustentável. Fazer investimento em Noronha é um desafio logístico gigante, mas é aqui, nesse território limitado e sensível, que mostramos que é possível conciliar preservação ambiental e qualidade de vida para quem vive e trabalha na ilha. Nada disso seria possível sem decisão política e coragem. Desde o início, acreditamos que um destino como Noronha não podia continuar sendo abastecido por combustível fóssil. A parceria com a Neoenergia mostra que a mudança é possível quando há propósito e compromisso. Nosso compromisso é transformar Noronha em um destino verdadeiramente sustentável, um lugar bom para visitar porque é, antes de tudo, bom para viver. E isso só se faz com investimento, planejamento e respeito ao meio ambiente”, afirmou a governadora Raquel Lyra na ocasião.
Nova etapa da transição energética
O projeto marca o início de uma nova etapa na transição energética em Noronha. Ao todo, o novo complexo ocupará 24,63 hectares, o que representa 1,5% da área habitável do arquipélago. A área foi cedida pela Administração de Noronha, com parte pertencente à Aeronáutica. “O Brasil é protagonista da transição energética global, e Pernambuco tem um papel essencial nesse processo. O sol que antes castigava o Sertão agora se transforma em fonte de energia limpa, renovável e de futuro”, completou Silveira.
A nova planta solar fotovoltaica, com capacidade de 22 MWp e sistema de baterias de 49 MWh, será suficiente para atender o consumo local. O projeto será implantado em duas fases: a primeira, correspondente a 16% da planta, será entregue até maio de 2026; a segunda, até o primeiro semestre de 2027, quando a ilha deverá atingir operação totalmente descarbonizada. Além de reduzir emissões de gases de efeito estufa, a iniciativa permitirá diminuir encargos e subsídios pagos por todos os consumidores por meio da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), que atualmente subsidia a energia gerada a diesel na ilha. Ainda não há, no entanto, uma estimativa exata da redução na conta de energia.
O projeto integra o Programa Mais por Noronha, que reúne ações de mobilidade sustentável, inovação tecnológica e incentivo ao uso de fontes não poluentes. Entre as medidas já implementadas estão sistemas de aquecimento solar em pousadas, redes elétricas inteligentes e veículos elétricos para transporte na ilha. O planejamento aposta em um modelo de negócio limpo e confiável, e contempla um convênio internacional com o MIT, além de um termo de cooperação técnica entre a Neoenergia e o Governo de Pernambuco, estabelecendo compromissos nas áreas de eficiência energética, P&D, energias renováveis e mobilidade elétrica.
“Esse feito será possível graças à implantação de um sistema inovador, formado por uma usina solar composta por mais de 30 mil módulos fotovoltaicos, com capacidade de 23 MWp, associada a um sistema de armazenamento formado por 144 racks de baterias, totalizando 49 MWh de capacidade. Assim, durante o dia, a usina fornecerá a energia necessária para o consumo instantâneo da ilha e para carregar as baterias; à noite, as baterias, previamente carregadas, fornecerão a energia para o consumo noturno, com segurança no fornecimento e emissões zero”, explicou Eduardo Capelastegui.
“Essa solução foi desenhada com base em estudos geotécnicos, ambientais e de demanda energética para gerar energia limpa e acessível para os mais de 3 mil habitantes e cerca de 150 mil turistas que visitam a ilha anualmente. Os benefícios vão além da sustentabilidade: o projeto também contribuirá para o sistema elétrico brasileiro, reduzindo em até 10% o custo da geração na ilha. Portanto: energia mais limpa, sustentável e mais barata”, concluiu o CEO da Neoenergia.
Quando concluído, o Noronha Verde fará com que Fernando de Noronha se torne a primeira ilha oceânica habitada da América Latina a operar com uma matriz energética 100% renovável, um passo simbólico e técnico importante para o Brasil às vésperas da COP30, que será realizada em Belém.
Em sua fala, Ignacio Galán destacou o papel da Neoenergia e os investimentos planejados no Brasil. “Somente nos próximos cinco anos, planejamos investir cerca de R$ 40 bilhões no desenvolvimento e modernização de redes elétricas e novas instalações renováveis. Sabemos que a eletrificação é a base para garantir um fornecimento de energia seguro, competitivo e de qualidade para o Brasil. Nada disso seria possível sem uma política energética clara, a visão promovida pelo presidente Lula e pelo ministro Silveira, e a estabilidade regulatória do país, tornaram o Brasil uma referência mundial no setor elétrico.
O destinatário final dos investimentos e do desenvolvimento tecnológico deve ser sempre as pessoas: nossos clientes e nossos cinco mil fornecedores, de quem compramos mais de R$ 10 bilhões por ano, empregando mais de 150 mil brasileiros e, claro, nossos 16 mil colaboradores, que são referência no Grupo Iberdrola por seu conhecimento, bom trabalho e senso de pertencimento, desde os engenheiros brasileiros que hoje atuam nos Estados Unidos e, em breve, também na Austrália, até os milhares de eletricistas que formamos a cada ano em nossas escolas, dois mil deles somente em Pernambuco.”