Brasil tem potencial para liderar nova era da tecnologia, defendem executivos da Totvs e AWS no RD Summit
Executivos destacam a capacidade do País de absorver novas tecnologias, a força da cultura digital e o papel humano na revolução da IA
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Maior evento de marketing e vendas da América Latina, o RD Summit 2025, segue até esta sexta-feira (7) no Expo Center Norte, em São Paulo, reunindo grandes nomes do mercado para discutir inovação, tecnologia e o futuro dos negócios. No segundo dia do evento, um dos destaques foi o painel “Do Brasil para o Brasil: liderar, inovar e traduzir o futuro”, com Denis Herszkovicz, CEO da Totvs, e Cleber Morais, diretor-geral da AWS no Brasil, em uma conversa mediada pela jornalista Christiane Pelajo.
O encontro propôs uma reflexão sobre como o País pode transformar inovação, dados e infraestrutura digital em crescimento sustentável e competitivo. Os dois executivos trouxeram uma visão otimista — e ao mesmo tempo realista — sobre o potencial brasileiro.
“O Brasil é um país incrível. Tem uma característica de diversificação muito grande e uma capacidade impressionante de desenvolver tecnologia em todo o território”, afirmou Denis Herszkovicz.
O CEO da Totvs destacou que essa força vem da combinação entre talento técnico, criatividade e presença de ecossistemas inovadores espalhados por diferentes regiões do País. Ele citou como exemplo o Porto Digital, no Recife, criado em 2000 e hoje um dos maiores distritos de inovação da América Latina. Hoje o parque tecnológico reúne mais de 470 empresas e cerca de 21 mil profissionais, com faturamento anual de R$ 6,2 bilhões. Além do Recife, o ecossistema pernambucano tem se expandido para o interior do estado se consolidando como um dos principais polos de tecnologia do Nordeste.
No eixo Sul-Sudeste, outras regiões também vêm se destacando. Em Campinas (SP), o Instituto de Pesquisas Eldorado atua como centro de referência em pesquisa e desenvolvimento, enquanto Curitiba (PR) abriga o Vale do Pinhão, movimento de inovação que conecta startups, universidades e poder público. No Norte, o Manaus Tech Hub, criado em 2019, tem impulsionado startups e projetos de base tecnológica com foco em sustentabilidade e indústria 4.0.
“O Brasil inteiro, na minha visão hoje, tem a capacidade de desenvolver tecnologia e de inovar. A gente precisa continuar investindo para que isso continue sendo verdade”, completou Herszkovicz.
O talento e a resiliência do brasileiro são apontados como diferenciais competitivos num cenário global em transformação. “O Brasil tem uma habilidade acima da média para se adaptar. Essa é uma das nossas maiores forças”, afirmou. “Quando chega uma nova tecnologia, como a inteligência artificial, o brasileiro tem essa capacidade natural de aprender, se ajustar e seguir em frente. O que precisamos é acreditar mais em nós mesmos, ter mais confiança e valorização daquilo que é feito aqui", diz Cleber Morais.
O executivo acredita que o País vive um momento estratégico para unir o que tem de melhor — criatividade, diversidade e resiliência — a uma agenda sólida de inovação e sustentabilidade.
“O Brasil tem potencial para ser protagonista global, especialmente em áreas como energia limpa, transformação digital e formação de talentos. Temos tudo para não apenas consumir tecnologia, mas também para defini-la”, defendeu.
O avanço inevitável da IA
Durante o painel, tanto Denis Herszkovicz quanto Cleber Morais destacaram a capacidade do brasileiro de absorver e incorporar novas tecnologias ao dia a dia — uma característica que, segundo eles, faz do País um dos mais receptivos à inovação no mundo.
“Se a gente olhar para trás, vai ver que o brasileiro adotou tecnologias disruptivas com muita naturalidade”, comentou Herszkovicz. “Foi assim com a internet, com os smartphones e com aplicativos de mobilidade como o Uber. A sociedade muda rápido, e o Brasil costuma estar entre os primeiros a experimentar essas transformações", destacou.
Os executivos reforçaram que essa abertura cultural é um diferencial estratégico. Mesmo diante de desigualdades regionais e de infraestrutura, o consumo de tecnologia cresce em ritmo acelerado. O Brasil está entre os dez países com maior número de usuários de internet e redes sociais do mundo, segundo a consultoria Kepios, e lidera na América Latina em penetração de smartphones e uso de serviços digitais.
“Nos adaptamos rápido, mesmo sem todas as condições ideais. O brasileiro experimenta, testa, erra e aprende. Essa agilidade é o que nos torna preparados para lidar com a próxima grande transformação tecnológica: a inteligência artificial", observou Cleber Morais.
Os dois executivos concordam na análise de que a IA não é uma moda passageira, mas uma virada estrutural, comparável à chegada da internet e da computação em nuvem.
“A inteligência artificial é uma tecnologia revolucionária, como foram a internet e a nuvem. Ela vai impactar absolutamente todas as empresas e pessoas — a diferença será apenas o ritmo. Algumas áreas vão se transformar mais rápido, outras levarão um pouco mais, mas não há volta", afirmou Herszkovicz.
Um dos principais desafios dessa virada não está apenas em adotar ferramentas, mas em compreender o papel humano diante da automação crescente.
“A IA não substitui o ser humano. Ela pode realizar tarefas, mas não tem sabedoria. A inteligência faz as coisas certas; a sabedoria é saber por que e quando fazer”, explicou. “A diferença está no discernimento — e isso é algo que continua sendo profundamente humano".
Como em todas as revoluções tecnológicas anteriores, as empresas que souberem usar a inovação de forma estratégica sairão fortalecidas.
“A história mostra que quem aprende a usar a tecnologia — e não a teme — acaba se tornando mais forte. Vai acontecer o mesmo com a IA. É um processo de transformação inevitável, e o Brasil tem todas as condições de ser protagonista nesse movimento", apostou Morais.
O poder dos dados nas decisões
No encerramento do painel, os dois executivos voltaram a destacar a importância de abraçar a mudança e usar os dados como motor de decisão. Eles acreditam que a transformação digital já não é uma tendência — é uma realidade que está remodelando o mercado de marketing e vendas no Brasil e no mundo.
“Hoje, o jeito que fazemos negócios claramente não vai se sustentar por muito tempo. O uso de dados e a inserção da inteligência artificial como grande impulsionadora das estratégias de mídia, relacionamento e vendas já são uma realidade. As empresas que ainda não se adaptaram estão prestes a viver uma disrupção inevitável", afirmou Morais.
Herszkovicz avalia que a inteligência artificial deve ser entendida não como uma ameaça, mas como ferramenta de ampliação da capacidade humana — e, sobretudo, um recurso de competitividade para as empresas que souberem aplicá-la com propósito.
“A IA é um divisor de águas, mas seu impacto depende de como a usamos. As empresas que abraçam a inovação de forma consciente crescem mais fortes. O que diferencia uma organização de sucesso é a capacidade de aprender, experimentar e se adaptar mais rápido que as outras”, destacou.
A conclusão dos executivos é que a tecnologia é apenas o meio — o diferencial está nas pessoas e na cultura de aprendizado. A liderança do futuro, afirmaram, será cada vez mais híbrida. Humana o suficiente para inspirar e tecnológica o bastante para tomar decisões baseadas em dados.