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'Ninguém tem condições de se libertar dos combustíveis fósseis', diz Lula

Declaração do presidente contraria decisões climáticas globais, às vésperas da COP30, a ser realizada em Belém, no Pará, em novembro

Por Estadão Conteúdo Publicado em 24/10/2025 às 9:11

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (24) que considera muito fácil pregar o fim dos combustíveis fósseis, mas que atualmente nenhum país tem condições de se "libertar" deles. A declaração contraria decisões climáticas globais, às vésperas da COP30, a ser realizada em Belém (PA).

"É muito fácil falar fim do combustível fóssil, mas é difícil a gente dizer quem é que tem hoje condições de se libertar do combustível fóssil. Ninguém tem", afirmou Lula, em entrevista em Jacarta, capital da Indonésia, onde recebeu apoio e compromisso do governo local com aporte ao Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, a ser lançado na COP30.

"Nós estamos fazendo as coisa que tem que ser feita corretamente e vamos continuar investindo em energia renovável, vamos continuar utilizando o dinheiro para que a gente faça cada vez mais condições de o Brasil se ver livre do combustível fóssil. Mas enquanto o mundo precisar, o Brasil não vai jogar fora uma riqueza que pode melhorar a própria vida do povo brasileiro."

O petista foi questionado sobre uma contradição entre sediar a COP30, em Belém (PA), uma conferência climática das Nações Unidas em que os países decidiram se afastar do uso de fontes fósseis de energia, e a busca por explorar novas reservas de petróleo no Brasil.

A Petrobras acaba de receber aval do Ibama para iniciar a exploração e perfurar na Margem Equatorial, Foz do Amazonas, uma reserva estimada em ao menos 6 bilhões de barris. A autorização contou com aprovação política do presidente, sob críticas de ambientalistas, e opôs os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Marina (Silva).

"Nós queremos trabalhar para que a gente possa reduzir o uso de combustível fóssil, uma das formas que eu tenho dito é que a gente tem que utilizar o dinheiro do petróleo para consolidar a chamada transição energética", disse Lula.

O presidente afirmou ainda disse que o Brasil vai dizer ao mundo na COP30 que é "um dos países que mais tem energia renovável no Planeta Terra". O petista citou a mistura de 30% de etanol na gasolina e 20% de biodiesel no óleo diesel.

"Nós pegamos a autorização para fazer pesquisa na Margem Equatorial. Entre você fazer a pesquisa e você ter petróleo leva um tempo muito grande, porque precisa de nova licença para poder fazer as coisas numa empresa que tem expertise. Você não tem histórico da Petrobras que tem vazamento de óleo em lugar nenhum", disse Lula, embora a empresa tenha sim registro de casos na costa brasileira, segundo relatórios da própria empresa. "Possivelmente seja a empresa com mais expertise de prospectar petróleo em águas profundas sem nenhum dano."

O presidente disse que a estatal ainda precisa do dinheiro advindo da venda do petróleo, mas que vai se converter numa empresa voltada no futuro a outros tipos de energia.

'Comércio com Indonésia está aquém das duas economias'

ACHMAD IBRAHIM/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Lula e o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, após uma reunião bilateral realizada no Palácio Merdeka, em Jacarta - ACHMAD IBRAHIM/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Lula também afirmou que o comércio bilateral de US 6,3 bilhões entre o Brasil e a Indonésia está aquém da dimensão das duas economias e populações, que somam quase 500 milhões de habitantes.

"A boa política comercial entre duas nações é uma via de duas mãos. A gente compra, a gente vende, e é preciso que haja equilíbrio", disse Lula, em entrevista coletiva.

O presidente defendeu que o intercâmbio entre os dois países avance com mais entusiasmo dos empresários e destacou que a visita oficial à Indonésia marca uma nova fase das relações comerciais brasileiras com o Sudeste Asiático.

Lula agradeceu a presença de mais de cem empresários brasileiros que integraram a comitiva presidencial e elogiou o trabalho da ApexBrasil na promoção de negócios. "Quanto mais parcerias econômicas tivermos, melhor. E não apenas econômicas e comerciais, mas também entre universidades, cientistas e ministro", afirmou o presidente, que ressaltou a importância da cooperação multilateral como forma de reduzir a dependência de um único país.

A visita à Indonésia - a primeira de um presidente brasileiro em 17 anos - integra a agenda de aproximação com o Sudeste Asiático, que inclui também a Malásia e a participação de Lula na Cúpula da Asean, no domingo, 26.

"É a primeira vez que um presidente brasileiro participa da Asean. O Brasil quer aprender e construir com essa região dinâmica do mundo", disse.

Em tom descontraído, o presidente encerrou a entrevista contando que recebeu uma festa surpresa antecipada pelos 80 anos, que completará na segunda-feira. "Foi a melhor festa de aniversário da minha vida, só não tive coragem de dançar."

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