A jornada do protagonista: Como o brasileiro quebrou o tabu e deixou de "coisificar" o dinheiro em busca da prosperidade
Brasileiro redefine prosperidade como autonomia e identidade, não só consumo; e vê crédito como cidadania, aponta pesquisa Itaú/Consumoteca
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São Paulo-SP – A relação do brasileiro com as finanças passou por uma transformação histórica: o foco na estabilidade, prioridade de gerações passadas, deu lugar à busca ativa por prosperidade, autonomia e bem-estar financeiro.
Essa mudança comportamental e cultural foi o tema central do evento "Consciência e prosperidade: a nova relação do brasileiro com o dinheiro", promovido pelo Itaú Unibanco na última quarta-feira (22), no Museu de Arte de São Paulo (MASP), em São Paulo-SP.
O encontro apresentou os resultados de uma pesquisa realizada pelo Itaú em parceria com o Grupo Consumoteca, que revelou que o brasileiro deixou de ser espectador para se tornar protagonista de sua vida financeira.
Para analisar a profundidade desse movimento, o evento contou com a palestras de João Araújo, diretor de Estratégia e Ciclo de Vida do Cliente do Itaú Unibanco, e uma mesa de debate que reuniu o antropólogo Michel Alcoforado, o próprio João Araújo, a atriz Fernanda Torres e a advogada Gabriela Prioli, com mediação de Pâmela Vaiano, diretora de comunicação corporativa do Itaú Unibanco.
O tabu e a necessidade de "coisificar" o dinheiro
Durante o evento, o antropólogo e sócio-diretor da Consumoteca, Michel Alcoforado, explorou a dimensão cultural e emocional que historicamente marcou a relação do brasileiro com o dinheiro, identificando a quebra de um antigo tabu.
Alcoforado apontou que há uma dificuldade intrínseca em discutir abertamente o tema: “Boa parte do nosso apego às coisas do Brasil é a nossa dificuldade de falar e de pensar dinheiro, em como isso é um assunto proibido”.
Essa dificuldade em verbalizar a riqueza leva a um comportamento de ostentação. Segundo o antropólogo, como não se fala sobre dinheiro no cotidiano, é preciso “comprar as coisas para despertar nos outros a capacidade imaginativa: que é o outro fazer uma conta de quanto dinheiro você tem pelas coisas que você está carregando”.
Ele resume essa dinâmica afirmando que: “A gente está sempre tentando transformar dinheiro em ‘coisa’ para entender quanto dinheiro a gente tem”.
A pesquisa, no entanto, mostra que esse cenário está mudando: 78% dos brasileiros hoje afirmam não sentir mais desconforto em falar de dinheiro, rompendo esse tabu histórico.
A prosperidade como identidade e autonomia
Michel Alcoforado também detalhou como o significado de prosperidade evoluiu no Brasil. Enquanto nas décadas passadas a estabilidade era o objetivo principal — nos anos 80, por exemplo, significava “não passar necessidade”, e nos anos 90 e 2000, o consumo era visto como “sinônimo de inclusão social” —, o foco atual é outro.
Na “era da inteligência assistiva”, o brasileiro busca “prosperar com autonomia, segurança e controle sobre suas escolhas”. Nessa nova fase, o dinheiro transcendeu a função de mera sobrevivência para se tornar “um marcador de identidade, valores e aspirações”.
Os dados do estudo confirmam essa busca ativa por autonomia: 83% dos brasileiros procuram novas formas de lidar com as finanças, priorizando estratégias inteligentes de investimento.
O crédito como cidadania e o novo papel dos bancos
A nova mentalidade proativa dos brasileiros também redefiniu o papel das ferramentas financeiras. O crédito, antes visto por parte da população apenas como dívida, é agora enxergado como uma alavanca para prosperar. Uma grande fortaleza da sociedade brasileira, segundo Alcoforado, é a possibilidade de antecipar a compra e pagar depois. Ele defende que “Quando eu antecipo o consumo, também estou antecipando cidadania. Eu acho o consumo fundamental para cidadania”.
Essa transformação impacta diretamente a relação com as instituições financeiras. Alcoforado observou a evolução do papel do banco, que está deixando de ser um mero local de transações. “O banco vai deixando de ser um lugar onde a gente só bota nossa graninha para proteger o dinheiro que a gente não consegue guardar em casa,” ele explica.
O novo papel é estratégico: o banco “vai assumindo um lugar, muito fundamental, de um espaço de apoio para ajudar a me organizar, tomar decisões e prosperar”.
De fato, 41% dos brasileiros já consideram que o banco tem um papel mais consultivo e de organização financeira, contrastando com os 22% que mantêm a visão de que a instituição é apenas um local transacional ou para guardar dinheiro.
O apoio da inteligência assistiva
A jornada rumo à prosperidade consciente é complementada pela tecnologia. Na visão de Alcoforado, o avanço tecnológico na chamada "nova era da inteligência assistiva" é uma resposta à demanda por equilíbrio.
As pessoas buscam "proximidade, personalização e suporte ativo no dia a dia", mas querem manter a autonomia de suas escolhas. A tecnologia, neste contexto, deve oferecer “suporte consultivo que ajude a reduzir o peso emocional das decisões financeiras,” permitindo que o brasileiro avance em sua jornada de protagonista financeiro.