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Grande Recife tem a maior desigualdade do Brasil, mesmo com melhora de índices

A elevada desigualdade no Recife reflete a situação de rendimento na base da pirâmide social. A RMR registrou um dos menores rendimentos médios

Por JC Publicado em 06/10/2025 às 5:00

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A Região Metropolitana do Recife (RMR) se destaca no cenário nacional por registrar o pior índice de desigualdade de renda do Brasil metropolitano em 2024, de acordo com o Boletim Desigualdade nas Metrópoles, divulgado pelo Observatório das Metrópoles, UFRJ e PUCRS. Apesar de melhorar seus indicadores, a capital pernambucana ainda figura entre os piores resultados do País na questão de renda e desigualdade.

O Recife apresentou o Coeficiente de Gini de 0,556 , o maior entre as 22 regiões metropolitanas analisadas, indicando a maior concentração de renda. Para contextualizar, o índice do conjunto de todas as RMs do país foi de 0,534.

A disparidade no Recife é ainda mais evidente na comparação entre os extremos de renda: em 2024, os 10% mais ricos da RMR ganhavam, em média, 17,6 vezes mais do que os 40% mais pobres. Essa é a quinta maior razão de rendimentos registrada no país. Em 2021, porém, a disparidade na capital pernambucana era de 21 vezes.

RENDA BAIXA E EXTREMA POBREZA

A elevada desigualdade no Recife reflete a situação de rendimento na base da pirâmide social. A RMR registrou um dos menores rendimentos médios para o estrato dos 40% mais pobres em 2024, com apenas R$ 474. O valor superou apenas os de Fortaleza (R$422) e Grande São Luís (R$ 427).

Extrema Pobreza: O Recife também aparece entre as áreas com maior incidência de extrema pobreza, atingindo 4,9% da população em 2024, apesar da forte redução desde 2021, quando o percentual era de 14%.

Na pobreza, o percentual da população do Recife caiu de 50,5% para 31,6%. 

Embora os indicadores do cenário local ainda estejam entre os piores do País, o boletim aponta que, em nível nacional, a desigualdade nas metrópoles caiu significativamente desde 2021, impulsionada pelo maior aumento proporcional da renda na camada mais pobre. A taxa de pobreza no conjunto das RMs atingiu o menor valor da série histórica em 2024.

Desde 2021 houve significativa queda das desigualdades nas regiões metropolitanas brasileiras. Entre 2021 e 2024 o coeficiente de Gini – quanto maior, mais elevada a desigualdade – caiu de 0,565 para 0,534. O valor atingido é o menor da série histórica, superando aquele de 2015, quando foi registrado um Gini de 0,539 – até então o menor nível de desigualdade desde 2012. Seguindo esta tendência, se em 2021 a renda do estrato mais rico era 19,2 vezes maior que a do estrato mais pobre, em 2021 essa razão de rendimentos caiu para 15,5 vezes.

REDUÇÃO DA DESIGUALDADE NO PAÍS

A maior parte das vinte e duas regiões metropolitanas do País acompanhou este movimento, apresentando redução na desigualdade de renda no mesmo período, com exceção das regiões metropolitanas de Curitiba, Florianópolis, Grande São Luís e Vale do Rio Cuiabá. Ou seja, se trata de uma tendência generalizada nas metrópoles do país, que em linhas gerais é condizente com o que ocorrera para a população brasileira como um todo. Segundo Juciano Rodrigues, professor do IPPUR-UFRJ e pesquisador do Observatório das Metrópoles, “o principal fator explicativo dessa tendência de queda das desigualdades é a renda do trabalho, que no período cresceu proporcionalmente mais para os mais pobres”.

O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o ano de 2024, de acordo com o IPCA. O estudo trabalha com as linhas de US$6,85/dia PPC para pobreza e US$2,15/dia PPC para a extrema pobreza, assim como definidas pelo Banco Mundial. Em valores mensais de 2024, a linha de pobreza é de aproximadamente R$692,54 per capita e a linha de extrema pobreza é de aproximadamente R$217,37 per capita.

O Boletim destaca que entre 2021 e 2024 o comportamento da renda do estrato dos 40% mais pobres nas regiões metropolitanas foi de forte crescimento, atingindo os maiores valores da série histórica em 2023 e, posteriormente, em 2024, quando chegou ao valor de R$670. Em 2021, por sua vez, era de R$474 apenas. Com efeito, a despeito das persistentes desigualdades, foi na base da pirâmide que houve crescimento proporcionalmente maior da renda em nossas metrópoles neste último período. De acordo com Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR-UFRJ e coordenador do núcleo RJ do Observatório das Metrópoles, “o mercado de trabalho mais aquecido favoreceu este estrato, que havia sofrido perdas enormes durante a pandemia. E, junto com o controle da inflação, permitiu aumento real dos rendimentos.”

Nesse sentido, é importante verificar que houve aumento da renda média para a população como um todo nas metrópoles brasileiras. Pela segunda vez consecutiva, a média de renda atingiu o maior valor da série histórica, chegando a R$2.475 em 2024 - considerando o conjunto das regiões metropolitanas. Além disso, em todas as regiões metropolitanas verificamos tendência de crescimento da renda média entre 2021 e 2024.

Finalmente, o Boletim traz evidências de que houve forte e contínua queda da taxa de pobreza no conjunto das regiões metropolitanas, variando de 31,1% para 19,4% entre 2021 e 2024. Desse modo, 9,5 milhões de pessoas saíram da situação de pobreza nas metrópoles brasileiras, fazendo a taxa de pobreza atingir o menor valor da série histórica em 2024. Além disso, é importante salientar que houve redução da taxa de pobreza em todas as regiões metropolitanas na comparação entre 2021 e 2024. Segundo Andre Salata, professor da PUCRS e coordenador do PUCRS Data Social, “a conjunção de aumento da renda com redução das desigualdades explica porque no período analisado houve forte queda nas taxas de pobreza e extrema pobreza nas nossas regiões metropolitanas.”

Em relação à extrema pobreza, o Boletim mostra que a partir de 2021 passou a ocorrer redução expressiva da taxa, chegando a 3,3% em 2024, indicando que desde então mais de 2,8 milhões de pessoas saíram da situação de pobreza extrema no Brasil metropolitano.

Ranking de Desigualdade de Renda por Região Metropolitana (2024)

O Coeficiente de Gini mede a desigualdade de renda, variando de 0 (igualdade completa) a 1 (desigualdade completa).

Posição (Melhor para Pior) Região Metropolitana Coeficiente de Gini (2024)

1º (Menor Desigualdade)

Goiânia

0,478


Manaus

0,480


Belo Horizonte

0,484


Vale do Rio Cuiabá

0,486


Porto Alegre

0,489


Florianópolis

0,490


Vitória

0,502


Curitiba

0,506


Macapá

0,509

10º
Teresina

0,512

11º
Belém

0,517

12º
Salvador

0,517

13º
Fortaleza

0,519

14º
São Luís

0,528

15º
Aracaju

0,532

16º
Maceió

0,532

17º
Rio de Janeiro

0,533

18º
João Pessoa

0,534

19º
São Paulo

0,536

20º
Natal
0,537


21º
Brasília

0,547

22º (Pior Desigualdade)
Recife
0,556


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