Banco Central mantém Selic em 15% e não sinaliza caminho fácil para redução
Apesar de um ambiente internacional mais favorável, com o Federal Reserve sinalizando cortes graduais de juros, o Copom manteve postura mais rígida
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*Com Estadão Conteúdo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15,0% ao ano, conforme comunicado divulgado nesta quarta-feira (17). A decisão do colegiado foi unânime. Essa é a segunda reunião consecutiva em que a autarquia mantém o nível da Selic. De setembro de 2024 até a reunião de junho deste ano, o BC aumentou a taxa em 4,50 pontos, o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos, perdendo apenas para a alta de 11 75 pontos entre março de 2021 e agosto de 2022, que ocorreu após o fim da pandemia.
“Em nossa opinião, o comunicado do Copom foi bastante Hawk (focado na inflação), principalmente por não reconhecer o início da desaceleração econômica e por manter a sentença que ‘não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado’. Nossa leitura é que o comunicado rechaça as possibilidades de cortes de juro ainda em 2025 e deve reforçar as apostas do mercado para o que o início do ciclo de cortes seja em março de 2026. Em função do tom ‘Hawkish’ do comunicado, para a renda fixa, esperamos que a ponta curta da curva sofra um ligeiro ajuste, e em contrapartida, na ponta média-longa, maior alívio. Esse comportamento, ‘bull-flattening’ da curva de juros tende a beneficiar os títulos pré-fixados de maior duration, conforme temos antecipado aos nossos clientes”, Paulo Henrique Oliveira, especialista de renda fixa da Daycoval Corretora.
Apesar de um ambiente internacional mais favorável, com o Federal Reserve sinalizando cortes graduais de juros, o Copom manteve uma postura mais prudente. A avaliação é de que ainda não há espaço para iniciar um ciclo de flexibilização sem risco de desancorar expectativas. A atenção do mercado, no entanto, se volta à comunicação do Banco Central.
De acordo com o comunicado do Copom, a conjuntura externa continua incerta, influenciada pela política econômica dos Estados Unidos, o que gera volatilidade em diferentes classes de ativos. No Brasil, embora os indicadores de atividade econômica mostrem uma moderação no crescimento, o mercado de trabalho segue dinâmico. A inflação, tanto a cheia quanto as medidas subjacentes, permanece acima da meta.
As projeções de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2025 e 2026 estão em 4,8% e 4,3%, respectivamente, ambos acima da meta. O Copom enfatizou que o cenário exige uma política monetária "significativamente contracionista por período bastante prolongado" para controlar a inflação.
Riscos e perspectivas
O Comitê destacou que os riscos para a inflação seguem elevados. Entre os fatores que podem pressionar os preços para cima estão:
A desancoragem das expectativas de inflação por um período mais longo.
Uma maior resiliência na inflação de serviços.
O impacto inflacionário de políticas econômicas, tanto externas quanto internas.
Por outro lado, os riscos de baixa incluem uma desaceleração econômica mais acentuada, tanto no Brasil quanto globalmente, e uma possível queda nos preços de commodities.
O Copom reforçou que continuará acompanhando a imposição de tarifas comerciais pelos EUA ao Brasil e o impacto da política fiscal doméstica. A instituição não hesitará em retomar o ciclo de alta de juros caso julgue necessário.
"O Copom deixou claro que pretende manter a política em patamar significativamente contracionista por um período prolongado e até sinalizou que não hesitaria em retomar o ciclo de alta se necessário. Esse discurso reduz o espaço para cortes no curto prazo e tende a penalizar ações mais sensíveis à queda de juros, como varejo, consumo discricionário e construção civil, que vinham se beneficiando da expectativa de flexibilização monetária mais cedo", Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora.
IMPACTO ECONÔMICO
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considera injustificada a decisão do Banco Central de manter a Selic em 15% ao ano. A atitude da autoridade monetária demonstra postura excessivamente conservadora, mesmo diante dos sinais favoráveis do quadro inflacionário e do desaquecimento intenso da atividade econômica.
“Não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos. Não existe inovação, reindustrialização, crédito acessível. O que existe é a paralisia nos investimentos produtivos com sequelas para toda a sociedade. Já passou do momento de uma política monetária mais favorável. Afinal, por que correr o risco de fazer investimento produtivo se é possível obter, sem esforço, um rendimento real de 10% ao ano aplicando no mercado financeiro?”, questiona o presidente da CNI, Ricardo Alban.
CORTE DE JUROS NOS EUA
O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortou a taxa dos Fed Funds (como é conhecida a taxa de juros dos Estados Unidos) em 25 pontos-base, para faixa entre 4% a 4,25% ao ano, segundo comunicado divulgado nesta quarta-feira. Esta é a primeira vez que o Fed reduz as taxas de juros neste ano, retomando ciclo de flexibilização monetária.
O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) notou que houve aumento nos riscos de baixa para o emprego, em comunicado da decisão de cortar as taxas de juros em 25 pontos-base, divulgado nesta quarta-feira, 17. O trecho é uma adição no texto do comunicado do BC dos Estados Unidos, que reiterou estar atento aos riscos para ambos os mandatos de emprego pleno e estabilidade da inflação em 2%.
O BC norte-americano retirou a constatação de que as condições do mercado de trabalho continuam sólidas, afirmando no lugar que os ganhos de emprego desaceleraram e que a taxa de desemprego subiu, embora continue em nível baixo.
Em relação à economia, os dirigentes ressaltaram que o crescimento da atividade econômica continuou a moderar no primeiro semestre deste ano.
Contudo, o Fed também adicionou ao texto observação de que a inflação subiu no país e reiterou que continua em nível "um pouco elevado".
O BC norte-americano ressaltou que as incertezas sobre as perspectivas econômicas permanecem elevadas e reforçou seu compromisso em atingir o duplo mandato de emprego e inflação no longo prazo.