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Grupo JCPM 90 anos: Fundação Pedro Paes Mendonça e IJCPM transformam vidas e constroem futuros

FPPM e o Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social são responsáveis pela interlocução do Grupo JCPM com a sociedade

Por Adriana Guarda Publicado em 13/05/2025 às 0:36

No Grupo JCPM, o compromisso com as pessoas faz parte da estratégia empresarial: os empreendimentos precisam estar conectados com as comunidades do entorno.

A Fundação Pedro Paes Mendonça e o Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM) são responsáveis por essa interlocução com a sociedade. A Fundação tem 36 anos de atuação dedicada à comunidade da Serra do Machado e povoados vizinhos (João Ferreira, Serrinha, Fazendinha, Ouricuri e Esteios), em Sergipe. Começou sua história com o Lar Dona Conceição, em 1989, para acolher a população idosa do povoado.

“Lá, criaram um espaço que oferece políticas públicas através de iniciativas como uma escola de ensino fundamental, um lar de idosos e uma unidade de saúde com foco preventivo. A escola atende cerca de 300 alunos e o lar de idosos foi originalmente projetado para 50 pessoas”, detalha Lúcia Pontes, diretora de Desenvolvimento Social e Relações Institucionais do Grupo JCPM.

Heudes Regis/Especial para o JC
EDUCAÇÃO Quase 300 alunos estão matriculados nas escolas da Fundação - Heudes Regis/Especial para o JC

Diferente do trabalho da Fundação, nos estados que mantêm empreendimentos do Grupo, o objetivo era desenvolver uma iniciativa social conectada com o negócio: o varejo. Assim surgiu o IJCPM, criado em 2007 para atender jovens com idades entre 14 e 24 anos, moradores das comunidades vizinhas dos empreendimentos comerciais. Com unidades operacionais no Recife (PE), Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Aracaju (SE), o Instituto tem se dedicado a apresentar oportunidades para os jovens.

Lúcia destaca que uma pesquisa feita em Pernambuco mostrou que os jovens estavam interessados em participar de cursos profissionalizantes, mas foi necessário fortalecer a base educacional com aulas de português, matemática e raciocínio lógico antes de começar.

Hoje, o Instituto qualifica os jovens, tanto em cursos profissionalizantes quanto em preparatórios para o Enem, além de facilitar a inserção no mercado de trabalho. Esse olhar mudou a vida de Alef, Estefane e Rayssa. Acompanhe as histórias a seguir.

Heudes Regis/Especial para o JC
EMPENHO Há 19 anos Lúcia Pontes atua na área de desenvolvimento social do Grupo JCPM - Heudes Regis/Especial para o JC

Alef: "A educação salvou minha vida"

O primeiro contato de Alef Silva com o Instituto JCPM foi por necessidade. Ele conta que se inscreveu em um curso de vendas por causa da merenda. Na época, em 2016, morava na comunidade de Pau Fininho, vizinha ao RioMar Fortaleza, no bairro do Papicu. Dividia uma casa de tábua de dois cômodos, com mais dez pessoas da família, e faltava comida no prato para tanta gente.

“Sendo bem sincero, eu comecei a ir pro Instituto pelo lanche. Em casa, muitas vezes não tinha comida. A merenda era importante, porque teria pelo menos aquela alimentação no dia. Ao mesmo tempo, fui gostando do curso e adquirindo conhecimento. O IJCPM me trouxe esperança, transformação. Foi meu divisor de águas”, diz.

Alef acredita que estudar no IJCPM garante aos jovens, além da oportunidade de crescer, uma certa “blindagem” nas comunidades marcadas pela criminalidade. “Quando a gente veste a farda do Instituto, é respeitado até pelo tráfico, porque existe o sentimento de que se os pais não conseguiram sair daquela realidade, pelo menos os filhos têm uma chance”, afirma.

Hoje com 31 anos, Alef tem uma trajetória com o IJCPM e o RioMar Fortaleza. Foi servente de pedreiro na construção do mall, trabalhou como vendedor em uma loja e um quiosque e, há 8 meses, está no Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC). Um dia, soube da visita de seu João Carlos Paes Mendonça ao shopping e pediu para conhecê-lo.

Marilia Camelo
CONQUISTAS Alef Silva estudou no Instituto JCPM e conseguiu se colocar no mercado de trabalho: no RioMar Fortaleza - Marilia Camelo

“Na época, eu ainda trabalhava no quiosque. Contei um pouco da minha história a seu João Carlos e ele se comoveu. Minha vida foi marcada pela violência do tráfico. Vi meu irmão gêmeo, Alex, morrer com seis tiros aos 24 anos. Meus dois cunhados também foram vítimas do crime. Perguntei se poderia trabalhar no shopping e ele respondeu, na hora, que eu poderia fazer parte da equipe do RioMar. Pediu ao superintendente para me contratar e estou aqui”, comemora.

Dono de uma postura positiva, Alef não se amargura com o passado. Hoje mora em um apartamento na comunidade de Vicente Pinzón, no Papicu, em Fortaleza, com a esposa Bruna e os filhos Ágata e Abner, de 4 e 1 ano.

“Hoje não consigo me imaginar na condição precária em que vivia. O banheiro era no quintal da casa: um quadrado de madeira e um buraco no chão. Não tinha privada. Quando chovia, as madeiras da casa inchavam e se desfaziam. A gente pegava madeirite descartadas da obra do shopping para remendar. Morava perto de uma fossa aberta, com esgoto, e pegava muito bicho
de pé. Era uma situação muito difícil”, recorda.

Para o futuro, Alef pensa em fazer faculdade de psicologia ou de administração e aproveitar as oportunidades de crescimento profissional no RioMar Fortaleza. Hoje ele cursa o Ensino Médio na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“Sou muito grato ao Instituto. Se não fosse por ele, não estaria aqui hoje contando minha história. Talvez nem tivesse sobrevivido. O IJCPM trabalhou meu interior, me formou como pessoa e como profissional. Me preparou para o mercado de trabalho, me deu todas as ferramentas. É verdade que o sucesso dependeu de mim, mas eles me prepararam. Graças a Deus, eu consegui!”, celebra.

Estefane: A menina da Serra do Machado cresceu

Quando era criança, Estefane Bispo brincava de cantigas de roda com as amigas na frente da mercearia de seu Pedro. Nascida na Serra do Machado, morava com a família na mesma rua, a poucos metros da mercearia. Cresceu ali, vendo o povoado se transformar. Formada em engenharia civil, hoje vive e trabalha em Aracaju, mas sua família, suas raízes e sua memória afetiva continuam lá na Serra.

As histórias da infância se confundem com a presença da Fundação Pedro Paes Mendonça (FPPM) no povoado. Estefane, hoje com 24 anos, começou sua vida letiva aos 3 anos na escolinha de educação infantil São Sebastião. Depois, quando o Centro de Educação Básica Auxiliadora Paes Mendonça (CEBAPM) foi inaugurado, em 2006, fez parte da primeira turma de alunos e seguiu até o 9º ano.

Na adolescência, sem escola de Ensino Médio no povoado, foi estudar no município de Itabaiana (distante 30 minutos da Serra), em um colégio privado, com bolsa paga pela Fundação. Foi aprovada no Enem de primeira, aos 17 anos, no curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 2017.

“Mais uma vez, a Fundação estava presente na minha vida, porque o curso era em Aracaju e icava difícil fazer o traslado de ida e volta todos os dias. Recebi um auxílio moradia, que me ajudou com as despesas durante todo o tempo que eu fiquei na capital”, ressalta.

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MEMÓRIA Estefane tem uma relação com a mercearia de seu Pedro desde criança - Heudes Regis/Especial para o JC

De volta à mercearia

Quando se formou, em 2022, Estefane voltou à Serra do Machado, desta vez para exercer seu trabalho como engenheira. O desafio foi reconstruir a mercearia de seu Pedro, junto com um grupo de arquitetas e outros profissionais. Um trabalho de voltar no tempo e recriar o espaço nos moldes de antigamente.

“Eu nasci e me criei naquela ruinha da mercearia. Ao longo do tempo vi a fachada mudar várias vezes. Já foi uma biblioteca, onde eu acessei a internet pela primeira vez e onde tinha acesso a livros. Foi uma casa de costura, onde minha mãe e minha avó tiravam sustento para casa. Agora volta a ser mercearia, junto com um espaço de empreendedorismo para estimular os pequenos negócios”, recorda.

Estéfane destaca o papel da FPPM no povoado. “Quando nasci, a fundação já existia. Então é difícil imaginar a realidade da Serra do Machado sem ela. Não consigo ver perspectiva e oportunidade para as pessoas. A Fundação transformou e ainda transforma a vida de muita gente e eu sou a prova disso”, diz.

Além do trabalho na mercearia, Estefane foi contratada pelo Shopping Jardins, em Aracaju, em setembro de 2024, para trabalhar como Coordenadora de Instalações Comerciais e Ambiência, uma espécie de facilitador entre o lojista e o shopping.

Arquivo pessoal
INFÂNCIA Bodega era local de encontro de Estefane com as amigas para brincar - Arquivo pessoal

A dança deu lugar ao violino

A história de Estefane com a Fundação também tem arte. Aos 10 anos a menina trocou as oficinas de dança pelas de violino. Se identificou com o instrumento e hoje é violinista profissional. Toca nos finais de semana em casamentos, festas e batizados e brinca que tem um hobby remunerado.

Em junho de 2024, ela participou da turnê Acústico 2, do grupo Só Pra Contrariar (SPC), na Arena Fonte Nova, em Salvador. “Estudar violino foi mais uma oportunidade que a Fundação me deu e eu me agarrei”, afirma, reforçando a importância da FPPM para o povoado. “Eu saí da Serra fisicamente, mas meu coração continua lá”, declara.

Arquivo pessoal
SÓ PRA CONTRARIAR Em 2024, a violinista participou da turnê Acústico 2, do grupo SPC, em Salvador - Arquivo pessoal

Rayssa: Um vilarejo em festa

Rayssa aguardava ansiosa o resultado final do Sisu 2025. Esperava ver seu nome na lista de aprovados no curso de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Justo neste ano, o Ministério da Educação (MEC) atrasou a divulgação. A lista seria divulgada na noite do domingo, 26 de janeiro, mas ficou para a manhã de segunda-feira (27).

“Disseram que a lista sairia às 9h, mas eu acordei por volta das 7h e resolvi dar uma olhadinha. Meu nome estava lá. Fiquei em choque e demorei uns cinco minutos atualizando a página antes de chamar a minha mãe para ter certeza que era verdade”, lembra.

A notícia se espalhou rapidamente e a família da nova estudante de medicina organizou um buzinaço. “Vieram com várias motos para a frente da minha casa e ficaram buzinando. Foi um caos bom. Minha mãe, Miriane, chorava”, relata, comentando a dedicação dela em todos os momentos da sua vida.

Nascida na cidade vizinha de Itabaiana, Rayssa Andrade, de 19 anos, foi morar na Serra do Machado, em Ribeirópolis (SE), quando tinha seis anos. Estudou do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental no Centro de Educação Básica Auxiliadora Paes Mendonça (CEBAPM), mantida pela Fundação Pedro Paes Mendonça (FPPM).

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UNIVERSITÁRIA Rayssa vai realizar o sonho de cursar medicina - Heudes Regis/Especial para o JC

Além do ensino regular, participou de oficinas de capoeira e flauta doce. Também estudou violino e depois entrou para a Orquestra Filarmônica tocando sax alto. “A Fundação ajuda a abrir muitas portas, a construir um futuro para os jovens. Se não fossem as oportunidades que ela me ofereceu, demoraria muito mais para alcançar meus objetivos”, afirma.

Quando concluiu o Ensino Fundamental, a estudante foi para uma escola privada em Itabaiana, com bolsa integral paga pela FPPM. Além da mensalidade, a Fundação também arcou com os livros e material didático, ao longo dos três anos do Ensino Médio.

“O apoio da Fundação foi fundamental porque, além da concorrência de um curso como o de medicina, existem outras dificuldades para quem mora no interior. Na época do Ensino Médio, eu acordava às 4h40 para pegar o carro de 6h para Itabaiana e só chegava em casa às 15h ou às 20h (se tivesse integral). Por conta do deslocamento, o tempo para estudar em casa ficava reduzido, além de ser muito cansativo”, recorda.

Para cursar medicina, Rayssa terá que se mudar da Serra do Machado para o município de Lagarto, onde fica o campus da UFS. O ano letivo começa neste mês de maio. “A medicina vai me permitir trabalhar em qualquer lugar, mas eu também quero voltar à Serra do Machado para devolver um pouco do que recebi”, conclui.

Kátia: do pau de arara ao Bairro do Futuro

O pau de arara que levava as crianças para a escola, em Ribeirópolis, parava em frente à mercearia de Seu Pedro. Vez por outra, os estudantes ganhavam um pão bolachão para comer antes de embarcar. Até metade dos anos 2000, não tinha ensino fundamental no povoado de Serra do Machado e era preciso estudar na cidade, a 7,3 km de distância.

“Ir de pau de arara, numa mercedinha aberta para Ribeirópolis era uma experiência difícil. As estradas de chão, com muitas valas, dificultavam o trajeto, principalmente em época de chuva. O vento levava nossos materiais e, às vezes, chegávamos sujos na escola”, recorda Kátia Regina Mendonça, 43 anos, nascida e criada na Serra e hoje coordenadora da Fundação Pedro Paes Mendonça (FPPM).

Inaugurada em 1989, a Fundação começou a fornecer transporte escolar no ano seguinte. “Foi uma mudança enorme, com redução da evasão escolar”, recorda. Assim como não tinha ensino fundamental, a educação infantil também era precária, funcionando primeiro em uma garagem e depois no salão paroquial da igreja. Em 1993, a Fundação implantou a Escola São Sebastião (ensino infantil) e em 2006 o Centro de Educação Básica Auxiliadora Paes Mendonça (ensino fundamental).

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MORADIA Kátia foi beneficiada por uma casa no Bairro do Futuro - Heudes Regis/Especial para o JC

O primeiro grande projeto da fundação na Serra foi o Pintando o Sete, que oferecia aulas de teatro, capoeira e balé. “Era tudo muito novo para a gente, que nunca tinha ouvido falar dessas atividades. O projeto despertou o interesse de muitos jovens”, diz.

“Na minha época quase ninguém tinha ensino superior. E, quando tinha, era professor. Mas agora há outros horizontes e temos estudantes de medicina, engenharia, psicologia, enfermagem, além de professores também”, orgulha-se.

Casa própria

Kátia revela que, até os anos 2000, ainda existiam casas de taipa no povoado. Até a Fundação decidir construir o Bairro do Futuro, com 65 residências. A escolha dos beneficiados seguiu uma série de critérios, levando em consideração as pessoas em situação de vulnerabilidade social e os mais necessitados.

“Como eu estava na FPPM na época da construção, participava de todas as reuniões e fazia as atas. Depois me dei conta de que me enquadrava nos critérios para receber a casa e acabei sendo beneficiada. Pagávamos R$ 50 por mês e a Fundação arcava com o restante. A inauguração do Bairro do Futuro aconteceu em 2009”, afirma.

Formada em geografia e estudando pedagogia, Kátia reforça que a Fundação transformou a vida das pessoas. “Seu João Carlos dá a varinha, mas é você quem pesca. E o mais bonito é que as pessoas realmente desejam e buscam, mesmo com tantas dificuldades. A Fundação dá esse empurrão e isso encoraja”, observa.

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