"Forró pode dialogar com a modernidade, desde que haja respeito à origem", diz Elba Ramalho
Cantora regravou "Amor ou Paixão", clássico do forró eletrônico cearense, com arranjos tradicionais: 'Revisitei Eliane com um novo olhar, mais maduro'

Em plena maratona de shows juninos, Elba Ramalho lança, nesta sexta-feira (20), uma homenagem às mulheres do forró - com destaque para a cearense Eliane, conhecida como A Rainha do Forró - por meio da regravação de "Amor ou Paixão".
A faixa foi originalmente lançada em 1994 e permanece viva nos repertórios de bandas, sobretudo as ligadas ao forró eletrônico (ou "das antigas", como vem sendo chamado atualmente), que marcaram a década de 1990.
Na versão original, Eliane mesclava elementos eletrônicos a estruturas do forró tradicional, somando metais e backing vocals à estética da música pop. Com Elba, a canção ganha novo fôlego com um arranjo que prioriza sanfona, cordas e percussões - em uma leitura mais orgânica, carregada de emoção.
O lançamento antecede a apresentação da cantora no palco principal do Sítio Trindade, em Casa Amarela, onde ela encerra a programação desta sexta-feira, à meia-noite, como a grande atração da noite. Depois, ela segue para Campina Grande (21/06), Goiana (22/06), Campina Grande (23/06), Cuité (24/06), Largato (27/06), Feira de Santana (28/06) e Aracajú (29/06).
Em entrevista ao Jornal do Commercio, Elba comentou a nova gravação e refletiu sobre os caminhos do forró diante das transformações do gênero: "O forró pode dialogar com a modernidade, desde que haja respeito à origem".
Entrevista - Elba Ramalho
Por que regravar Amor ou Paixão?
Essa canção sempre teve um significado especial pra mim. Eliane é um ícone da música nordestina e temos uma admiração mútua. Ela me convidou para participar do DVD dela e, por motivos de agenda, não consegui. Quero retribuir o carinho e o afeto dela por meio dessa gravação. É uma canção urbana que fala sobre uma dúvida muito humana, entre dois sentimentos que, muitas vezes, se confundem. Regravar Amor ou Paixão foi uma forma de revisitá-la com um novo olhar, mais maduro. Senti que era o momento certo de trazer essa música de volta, com um arranjo novo, mas mantendo a emoção original. Foi uma escolha afetiva e artística ao mesmo tempo.
O forró eletrônico deu muito espaço às vozes femininas. Como enxerga essa vertente do ritmo? Acha que preserva a essência do forró?
Eu vejo com bons olhos o crescimento das vozes femininas dentro do forró, inclusive no forró eletrônico. É muito importante que esse espaço exista, e tem sido ocupado com talento e personalidade. Sobre preservar a essência, acredito que tudo depende de como a música é feita. O forró pode sim dialogar com a modernidade, desde que mantenha sua identidade, seus elementos essenciais. A tradição e a inovação podem caminhar juntas, desde que haja respeito à origem.
Quando você começou na música, sentia desafios específicos por ser uma mulher nesse meio?
Sim, muitos. O meio artístico, especialmente nos anos em que comecei, era dominado por homens. Havia resistência, questionamentos, e a gente precisava provar o tempo todo que tinha capacidade, talento e voz ativa. Mas acredito que cada passo dado abriu caminho para outras mulheres também. Hoje vejo com alegria o quanto avançamos, embora ainda existam desafios.
Acha que o forró e o seu público têm abraçado bem as vocalistas mulheres?
Com certeza. O público do forró é muito caloroso e receptivo. E quando encontra uma artista que se entrega, que canta com verdade, ele acolhe. As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço e respeito no forró, e isso é muito bonito de ver. O cenário está mais plural, mais representativo — e isso só fortalece o gênero.
Como se prepara e se resguarda para ter disposição para encarar o período junino?
O São João é um dos períodos mais intensos do ano pra quem vive de música. É preciso estar com o corpo e a mente preparados. Eu cuido da minha saúde, da alimentação, da voz e também do meu bem-estar espiritual. Tento descansar entre os shows, manter uma rotina equilibrada e preservar a minha energia. Mas a verdade é que a energia do público é o que mais me sustenta nesse período. Quando estou no palco, toda a entrega vale a pena.