Documentário homenageia Wadja, educadora indígena que revolucionou o ensino da língua no povo Fulni-ô
Dirigida por Narriman Kauane, produção será exibida com acessibilidade no VerOuvindo Circula, em sessão gratuita no Cinema São Luiz, no Recife

A trajetória da educadora indígena Marilena Araújo, conhecida como Wadja, é tema de um documentário que está circulando escolas públicas e no Compaz, culmuinando em uma sessão gratuita no Cinema São Luiz, neste sábado (24), às 14h.
Intitulado com o nome social da protagonista, "Wadja" retrata a importância dessa professora na criação da Escola Bilíngue Antônio José Moreira, voltada à educação do povo Fulni-ô, e sua dedicação à preservação da língua Yaathe. A direção é de Narriman Kauane, com produção de Tayho.
No São Luiz, o filme encerra a programação da segunda edição do VerOuvindo Circula - uma derivação VerOuvindo: Festival de Filmes com Acessibilidade Comunicacional do Recife.
"Estamos viabilizando a ida ao Cinema São Luiz dos indígenas que participaram do filme para que possam assistir ao curta feito por eles e sobre eles. Vai ser a primeira vez deles no nosso templo do cinema. Isso tem um valor simbólico e afetivo imenso", diz Liliana Tavares, idealizadora e produtora executiva do festival.
Origem
A ideia do documentário nasceu da própria Wadja. Foi ela quem procurou Tayho para propor um filme biográfico, centrado em sua vida, seus documentos e sua atuação como educadora.
Durante cerca de um ano, produtor e personagem trocaram ideias, enquanto o roteiro era gestado e a proposta era submetida a editais públicos. Mas, antes que os recursos fossem liberados, Wadja faleceu.
"Tivemos que mudar todo o plano de filmagem", relembra Tayho, que enfrentou o luto enquanto reconstruía o caminho narrativo da obra. O resultado foi uma combinação entre material de arquivo e entrevistas.
"Resgatamos todos os arquivos dela - registros, documentos, fitas cassete - para construir uma obra biográfica que preservasse sua memória. Também não deixamos de lado as entrevistas com pessoas que ela mesma havia indicado em vida para participar do documentário", explica. Ao longo do processo, o que mais impressionou Tayho foi a postura determinada e visionária da protagonista.
"Ela costumava dizer que era audaciosa. Acredito que só projetamos nossos desejos quando nos sentimos, de alguma forma, representadas. Wadja foi isso: uma mulher determinada, inteligente, decidida e autêntica", conta.
Língua ameaçada
A presença da língua Yaathe na narrativa — falada livremente por entrevistados que se sentiam confortáveis - também é um gesto de afirmação e resistência. "Sendo uma língua ameaçada, buscamos sempre preservar sua presença, pois é uma forma de fortalecer e perpetuar nossa comunicação originária."
Indígena como Wadja, Tayho acredita que narrativas originárias devem ser contadas por quem as vive. "Demarcar telas é tão importante quanto demarcar territórios: são nossos rostos, nossas lutas, nossas histórias sendo projetadas nas telonas do cinema", diz Tayho.
Segundo ele, o audiovisual indígena traz novas formas de contar, olhar e sentir. O documentário, mais que um tributo à memória de uma mulher forte, é também o início de um sonho pessoal. "Sempre sonhei em fazer algo para o meu povo. Imaginei que começar fazendo um filme sobre alguém que tanto me inspirou - como mulher e defensora das causas indígenas - seria um bom começo."
Tayho ainda compartilha uma das frases mais marcantes ditas por Wadja, pouco antes de morrer. "Inteligente é aquele que cria e compartilha o que cria. Que repassa. Para mim, isso é inteligência. Não aquele que guarda tudo só para si. De nada adianta essa inteligência."
Acessibilidade
O documentário chega ao VerOuvindo Circula com acessibilidade completa: audiodescrição, Libras e legendas descritivas. O fesival está convidando a comunidade surda para assistir ao filme e participar de um bate-papo pós sessão sobre o reconhecimento e o fortalecimento de uma língua, uma problemática enfrentada também por essa comunidade com a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
SERVIÇO
2° VerOuvindo Circula - até 24 de maio
verouvindo.com.br
Escola Municipal Engenho do Meio
Onde: R. Bom Pastor, 1406 – Engenho do Meio
Quando: 21 de maio, às 14h
Colégio Waldemar de Oliveira, Escola Sylvio Rabello e Escola Sizenando Silveira
Quando: 22 de maio
Compaz Ariano Suassuna (aberto ao público)
Onde: Av. Gen. San Martin, 1208 - Cordeiro
Quando: 23 de maio, às 14h
Filmes: Wadja – Narriman Kauane, 2024, 19min
Quem me quer? – Tiago Pinheiro, 2023, 15min
Onde: Cinema São Luiz (aberto ao público)
Endereço: Rua da Aurora, 175 - Boa Vista
Data: 24 de maio, às 14h